Em outubro, a cidade enfrentou sensações térmicas que se aproximaram dos 40 graus
Texto: João Paulo Campos e João Pedro Nieri
Edição: Maria Gabriela Oliveira e Mateus Tonon
As semanas dos meses de setembro e outubro marcaram, para a cidade de Bauru, dias de calor intenso durante o dia e chuvas fortes pontuais durante a noite. A amplitude térmica, somada com as chuvas, já é lugar comum na vida do cidadão bauruense. Apesar disso, as novas ondas de calor enfrentadas no mês de outubro marcaram recordes de temperatura, chegando a bater uma sensação térmica de 40º C.
Temperaturas no mês de outubro se mantiveram na casa dos 30 graus. Imagem: Autoral.
Em alguns locais da cidade, como a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e a Universidade de São Paulo (USP), a situação pôde ser amenizada pela presença de novos ares condicionados. Entretanto, essa realidade parece não ser o padrão quando se trata dos espaços públicos sob responsabilidade da prefeitura.
Recentemente, no início de outubro, o Sindicato dos Servidores Municipais de Bauru (Sinserm) organizou uma paralisação com os funcionários do Poupatempo local. Segundo matéria veiculada no G1, a estrutura física do espaço de trabalho seria o fator motivador: a unidade estava sem água e com um aparelho de ar-condicionado fora de funcionamento. Além dos funcionários do Poupatempo, funcionários da Secretaria de Planejamento Urbano (Seplan), da Secretaria de Bem-estar Social (Sebes), da Secretaria de Finanças, Educação e do Procon, também paralisaram os serviços.
A solução, ainda segundo a matéria, veio de maneira célere mas incompleta, com a prefeitura enviando caminhões pipas para sanar a falta d’água, mas nada foi feito em relação aos aparelhos de ares-condicionados defeituosos. Mesmo com a solução feita em partes, não se pode pensar que este tipo de ação é o padrão. Espaços como estes representam instituições de serviços muitas vezes essenciais para o funcionalismo público. Ao olharmos para outros setores, como a saúde, a situação nem sempre é tratada com a mesma “eficiência”.
As instituições de saúde da cidade também vêm passando por algumas dificuldades devido ao calor intenso. O Impacto teve a oportunidade de conversar com alguns usuários do Posto de Saúde Newton Bohin Ribeiro, localizado no Núcleo Residencial Ernesto Geisel.
Segundo Jairo Pinheiro (61), a situação é complicada, mas é mais amena se compararmos ao período da covid “Na época do covid era pior, porque não ligavam o ar e largavam (sic) as portas e a [janela grande] abertas, falando que ia circular o ar, mas era só ar quente da rua. Se você ir lá fora agora você percebe, lá é quente porque tem sol, mas aqui é o ar que abafa, e esse arzinho [condicionado] só funciona quando tem pouca gente. Ou seja, nunca né?”
Apesar das críticas, a UBS tem seus defensores, como a Dona Ana, (70), que disse à reportagem “Olha, eu não posso reclamar muito. Frequento a UBS há anos e sempre achei o lugar tranquilo. O problema mesmo é a demora e falta de médico, às vezes chego às 7h e saio daqui quase 14h da tarde, essa demora é absurda. Mas do calor, você mesmo pode ver que agora de manhãzinha tá bem fresco e o ar condicionado funciona normal”.
Jairo também comparou o serviço da UBS com outra unidade de saúde local, o Hospital de Base. “Eu acho aqui [o Posto de Saúde Newton Bohin] um pouco quente, mas nem se compara ao [hospital de] Base. Lá é insuportável, sempre tá lotado, os ventiladores de lá não servem pra nada porque estão sempre quebrados, ou funcionando mais fraco. Eu acho que nem é questão de luxo colocar um ar que funciona ou mais ventiladores”, opinou.
Situação parecida em outras unidades
O Impacto ainda teve a chance de conversar com uma estudante da área da saúde, que solicitou para não ser identificada. Em suas aulas, uma das atividades propostas pela sua instituição de ensino era visitar as unidades de saúde da cidade para conhecerem melhor o funcionamento interno, as diretrizes de atendimento e o fluxo de pacientes que frequentam as diversas instituições de Bauru. Suas visitas levaram-na às UBS e Unidades Especializadas, conforme encaminhamento médico.
Impacto Sócioambiental – Qual sua visão geral da infraestrutura desses espaços? Eles têm uma infraestrutura que suporta a demanda? As pessoas ficam alocadas confortavelmente?
Resposta – Os lugares aparentam estar adequados, porém, percebo que normalmente as recepções são lotadas/tumultuadas.
IS – Neste período de intensas ondas de calor, você conseguiu perceber se os locais conseguem proporcionar um conforto térmico para a população? E para os funcionários?
R – O Pronto socorro do município é muito quente e sem refrigeração adequada, isso afeta os pacientes e os funcionários. Além disso, percebo que os locais no geral não são arejados e falta ar condicionado para proporcionar conforto térmico.
IS – Você já passou calor em algum momento em que estava sendo atendida/fazendo uso do serviço?
R – Sim, a UBS do Geisel é a que abrange meu bairro então consulto lá com mais frequência, nos dias de calor a recepção fica abafada e quente.
IS – De modo geral, a partir da sua experiência, você acha que estes locais estão preparados para o calor que a cidade vai enfrentar conforme as ondas de calor vêm aumentando?
R – Não, infelizmente é comum escutar que os locais não possuem estrutura adequada para proporcionar acessibilidade e conforto aos pacientes. Isso acaba desgastando o tempo de espera e afetando os funcionários conforme a funcionalidade do serviço. Penso que é algo que a gestão do município poderia dar mais atenção, visto que os espaços de saúde deveriam ter um olhar mais atento ao acolhimento.
Neste cenário, o calor não é o único problema que a cidade vem enfrentando. Há, em Bauru, um problema crônico de falta d’água que atinge a população todo ano. A irregularidade das chuvas, é um fator importante que colabora para ambos os problemas. Em 2024, alguns bairros da cidade chegaram a enfrentar rodízio de água 24h por 48h – 24 horas com abastecimento e 48 horas sem.
O rio Batalha, principal fonte de abastecimento de cerca de 38% da população, sofreu durante anos a degradação de sua mata ciliar e o mau uso do solo, fatores que causam erosões e influenciaram no nível de reservação da captação, principalmente nas épocas de estiagem.
Com chuvas recentes, a situação do Rio Batalha melhorou, chegando perto dos 3,5 metros – acima dos ideais 3,2. Entretanto, a população segue cobrando uma solução que não seja esperar a chuva, e sim aparatos sustentáveis para garantir o abastecimento de água.
A situação, que parece se repetir todo ano e afeta diretamente a vida de mais de 100 mil bauruenses ainda é desafio para os governantes, que nos últimos mandatos falharam em trazer soluções práticas para problemas que definem a cidade de Bauru muito mais que seu lema de “Cidade sem limites”.
Sobre os problemas citados na reportagem, o Impacto procurou a prefeitura, mas não obteve resposta.