A região passou por um fenômeno chamado enxame sísmico
Tremores na região desafiam senso comum de um país livre de terremotos. Foto: Pixabay
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Por Laís David de Souza
Embora o acontecimento tenha assustado a população de Amargosa, os pesquisadores estão familiarizados com esses eventos. Para a Geologia, uma grande quantidade de tremores de terra em uma mesma região em um curto período de tempo se chama “enxame sísmico”.
Os enxames sísmicos danificaram residências na Bahia. Foto: EDSON ANDRADE/DICOM PREFEITURA DE AMARGOSA |
“A ruptura provoca deslocamento de massa, ao longo de uma falha, e a consequente liberação da energia acumulada. Isto é o terremoto. A energia liberada se propaga pelo interior da Terra, na forma de ondas sísmicas’’, diz José Saraiva.
A partir dos abalos sísmicos, as placas formam montanhas, cordilheiras, vulcões, dorsais, fossas oceânicas, entre outros fenômenos geológicos.
As placas tectônicas dividem a litosfera. Foto: USGS |
Para quantificar a magnitude de um terremoto, se utiliza a escala Richter, criada pelo sismólogo estadunidense Charles Richter. Os valores da escala medem a magnitude e a energia liberada de um abalo sísmico. Ela é tecnicamente infinita, mas nunca foi registrado um terremoto acima dos dez graus.
A escala Richter quantifica abalos sísmicos. Foto: Bruno Mael |
TERREMOTOS NO BRASIL
O Brasil é comumente associado a um país livre de terremotos. Contudo, ao contrário do que muitos imaginam, o Brasil sempre sofreu com abalos sísmicos.
O geólogo e professor da UNICAMP Wagner Amaral afirma que:
“O Brasil registra diversos tremores de terra por meio de abalos sísmicos que ocorrem, praticamente, toda semana em nosso território. Contudo, a magnitude destes sismos são baixas, inferiores a 3,0 [na escala Richter]. Portanto, são imperceptíveis para a maioria da população”.
Amaral comenta que o Brasil se encontra em uma parte privilegiada da litosfera. Diferente de países como Peru e Argentina, que ficam perto do encontro de placas, o Brasil se localiza no meio da placa Sul-Americana, deixando de sofrer com choques tectônicos divergentes ou convergentes.
No entanto, o território brasileiro é formado por diversas falhas geológicas, favorecendo a ocorrência de tremores de terra em áreas específicas. A reativação das falhas movimenta as rochas, causando os terremotos, como, por exemplo, em Amargosa.
Em entrevista ao Impacto Ambiental, a professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Beatriz Paschoal explica que existem regiões mais propícias aos tremores de terra. O Nordeste e o Sudeste têm mais registros de tremores em comparação aos outros estados. Isso acontece por serem regiões com falhas mais jovens do que as outras.
O estudo da sismologia brasileira ainda é recente: poucas universidades a estudam com profundidade. No Brasil, destacam-se o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo e o Laboratório Sismológico da Universidade do Rio Grande do Norte. O governo brasileiro também fundou, em conjunto com tais universidades e a Petrobras, a Rede Sismográfica Brasileira, que monitora o território em busca de tremores.
Maiores terremotos do Brasil. Foto: Bruno Mael/Revista Exame |
Apesar dos estudos sismológicos serem recentes no Brasil, o primeiro grande terremoto no país foi registrado em 1690, pelo padre jesuíta Samuel Fritz. Ele percorria o território amazonense quando registrou, em seu diário, um grande tremor de terra.
De acordo com os relatos de Fritz, as árvores de troncos grossos foram arrancadas do solo e voaram para o rio, e algumas partes altas de relevo desmoronaram, juntando-se à pedras e à árvores amontoadas nas margens.
Pintura de Marlene Costa ilustra o possível terremoto no Rio Amazonas. Foto: Amazônia Real/Marlene Costa |
No artigo, o professor estima que o terremoto chegou a 7 graus da escala Richter, destruindo construções indígenas e derrubando a natureza em torno do Rio Amazonas. Estudos com o de Veloso confirmam o que cientistas já afirmam há muito tempo: o Brasil está longe de ser um país livre de abalos sísmicos.
Parabéns pelo artigo!