As queimadas no Brasil aumentaram 82% em relação a 2018, prejudicando o meio ambiente, a saúde e até fazendo o céu de SP escurecer em pleno dia
Fumaça de um incêndio na bacia amazônica perto de Candeias do Jamari. Fonte: Victor Moriyama/Greenpeace/via AFP – Getty Images.
Recentemente moradores da região e do interior de São Paulo foram surpreendidos por um céu que escureceu bem no início da tarde. O fenômeno que fez “o dia virar noite” foi esclarecido e justificado pela combinação da frente fria com as partículas de fuligem das queimadas do Cerrado e em certas áreas da Amazônia.
O aumento das queimadas foi confirmado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que ainda comparou os dados com 2018, no qual foram registrados por volta de 39 mil focos contra 71 mil até agosto deste ano. Além disso, os dados mostraram que até agora essa é a maior alta e o maior registro em 7 anos no país.
Por que o perigo é maior para a região Sudeste?
Os dados são alarmantes, e caso esses números não diminuam, de acordo com o pesquisador do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) Humberto Barbosa, a região Sudeste do Brasil seria a mais afetada pelas queimadas na área da Amazônia.
Essa consequência será sentida drasticamente pelos habitantes, fauna e flora da região por conta da evapotranspiração, ou seja, a perda de água de um ecossistema para a atmosfera, causada pela evaporação a partir do solo e pela transpiração das plantas. Logo, sem esse processo, haverá mais secas, prejudicando a saúde e a qualidade de vida nesses locais.
Para reforçar a necessidade de alertar o público sobre a situação das queimadas na Amazônia, o Impacto Ambiental entrou em contato com o professor e pesquisador do Departamento de Física da Unesp de Bauru, Demerval Soares Moreira. Demerval possui pesquisas focadas em Modelagem Atmosférica e Aerossóis de Queimada.
Quando as queimadas ocorrem no cerrado, dependendo da velocidade em que o fogo se propaga, podem ocorrer grandes prejuízos para a fauna.
Área da Amazônia desmatada em Novo Progresso, no Pará. Fonte: Nelson Feitosa/Ibama/Reuters
De acordo com Demerval, a Região Sudeste possui basicamente três tipos de cobertura vegetal, sendo uma pequena faixa de Mata Atlântica próxima ao litoral, algumas áreas com cerrado e grande parte com pastagem e áreas agrícolas.
Demerval afirma que as queimadas nessa região normalmente ocorrem em áreas que já foram devastadas pela ação humana e consequentemente, não causam grandes prejuízos para a fauna e a flora da região, uma vez que nessas áreas de pastagens e agrárias a fauna é reduzida e a flora se recupera durante a estação úmida.
“Quando as queimadas ocorrem no cerrado, dependendo da velocidade em que o fogo se propaga, podem ocorrer grandes prejuízos para a fauna. Já a flora normalmente consegue se recuperar com certa rapidez, pois o cerrado já é um bioma bem adaptado ao fogo, com sementes mais resistentes à alta temperatura. A germinação de algumas sementes é até favorecidas pelas altas temperaturas produzidas pelo fogo.”
Mas afinal, as queimadas colaboram negativamente para o clima?
Outro fator que devemos nos atentar é que embora surjam cada vez mais grupos que levantam questionamentos acerca da veracidade do aquecimento global, esse problema se mostra cada vez mais grave e possui uma relação com as queimadas.
O professor esclarece que as queimadas podem influenciar o clima brasileiro, uma vez que os aerossóis (partículas sólidas ou líquidas que se encontram suspensas geralmente no ar) lançados na atmosfera possuem papel de absorver parte da radiação solar ao mesmo tempo em que tornam a atmosfera mais estável e suas camadas superiores estarão mais aquecidas.
“Com isso haveria redução na precipitação nessas regiões e um aumento significativo em outras, fator que causaria desastres naturais como enchentes e deslizamentos de terras”, completa Demerval.
Em relação ao aquecimento global, de acordo com o pesquisador da Unesp Bauru, ainda não é possível quantificar ao certo a contribuição das queimadas. Entretanto, é grande a quantidade de CO2 emitido por elas, e embora esse gás possa ser absorvido pela radiação do planeta Terra, é claro que a natureza está com dificuldades de reter todo o CO2 resultado da queima de combustíveis fósseis e das queimadas.
O infográfico representa as alterações nas temperaturas globais em graus Celsius. Infografia por Sofia Miguel Rosa. Dados: NOAA/ ESRL, NASA, UK MET OFFICE/ CRU, Ed Dlugokencky and Pieter Tans E Mongabay com dados da EIA.
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“A queima de matéria orgânica resulta em um gás chamado ozônio troposférico. A alta concentração dessa substância afeta o crescimento das plantas e nos seres humanos causa irritação nos olhos, prejudica as vias respiratórias e intensifica problemas cardiovasculares”, afirma.
Por que as queimadas se espalham tão rápido?
De acordo com o pesquisador, a manutenção do fogo depende da existência do combustível e de oxigênio, assim como o estado em que se encontra a vegetação e as condições da atmosfera. Logo, ambientes com matéria orgânica seca, baixa umidade do ar e ventos fortes são propícios para espalhar as queimadas.
Como podemos contribuir para o combate a essas queimadas?
Demerval indica que algumas medidas podem ser tomadas para evitar a ocorrência das queimadas, entre elas:
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Não utilizar fogo para limpar áreas ou terrenos;
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Não jogar bitucas de cigarro nem garrafas com água ao longo das rodovias (as garrafas podem funcionar como lentes focando os raios solares e iniciando o fogo);
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Caso aviste um pequeno foco de incêndio, garanta que é seguro e tente apagá-lo antes que espalhe;
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Se localizar um incêndio acione imediatamente o corpo de bombeiros.
Caso a sua região esteja sofrendo com as queimadas também é importante tomar algumas medidas para diminuir o impacto delas na saúde, já que as partículas de fumaça quando inaladas prejudicam principalmente crianças e idosos. Por isso, utilizar máscaras e limpar constantemente as fuligens que acabam entrando nas casas é essencial para reduzir os danos.
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Edição: Rafaela Thimoteo.