Bauru está entre as piores cidades em tratamento de esgoto

Saiba mais sobre a situação precária do município

São cerca de 1000 litros de esgoto despejados por segundo. Foto: TV TEM/Reprodução

Por Talita de Paula

Um estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil mostrou que Bauru trata menos de 2% do esgoto produzido. A cidade está em 61º no ranking dos 100 municípios com pior tratamento de esgoto do país.

Apesar de ser um direito assegurado pela Constituição Federal e possuir caráter fundamental para manutenção da saúde da população e para a preservação do planeta, o acesso ao saneamento básico ainda está distante de atingir toda a população brasileira.

Dentre os serviços que correspondem o pacote, o tratamento e a coleta de esgoto é o que apresenta o maior déficit, assim como fica explícito na condição do município. Dados do Serviço Nacional de Informações do Saneamento (SNIS), realizado em 2018, mostram que em todo país apenas 73,7% do esgoto coletado é tratado.

A situação é ainda mais séria levando em consideração que do esgoto gerado, apenas 46% é tratado.

O esgoto não tratado prejudica o Rio Bauru e seus afluentesArte: Yasmin Mainine

As dificuldades para o tratamento de esgoto

Igor Cavallini Johansen, doutor em demografia pela UNICAMP e pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, explica que a universalização do tratamento é muito complexa, pois demanda de diversos fatores políticos, sociais e econômicos.

Ele afirma que no campo político é necessário que haja um plano viável e bem estruturado para a aplicação, visto que a situação econômica também é um grande entrave.

“Especialmente em tempos de crise econômicas, o que vem acontecendo no país pelo menos desde 2014, impõem se restrições sobre o orçamento público e obras que são caras e de longo prazo dificilmente saem do papel, isso quando chegam a serem planejadas”, diz.

Ele destaca ainda que do ponto de vista social existem questões enraizadas que envolvem a desigualdade social no Brasil, onde o desenvolvimento de obras é ainda mais complexo, custoso e demorado.

Com a pandemia do coronavírus, o cenário se agrava e a população em situação vulnerável é a mais afetada. Além da necessidade de higienização constante e do isolamento, que faz as pessoas passarem mais tempo em casa, evidências científicas comprovam que o vírus pode ser encontrado no esgoto.

Os impactos para saúde e para o meio ambiente

A falta do tratamento de esgoto é prejudicial a saúde da população, que aumenta os riscos de contato com Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI). As mais comuns são diarreia, hepatite A, esquistossomose, filariose, leptospirose, dentre outras, a maioria sendo gastrointestinal.

“A prevenção dessas doenças economiza recursos do Sistema Único de Saúde (SUS)”, pontua Igor. Ou seja, o descaso em relação ao tratamento de esgoto é negativa para o próprio poder público.

Quando não há o encaminhamento do esgoto para uma estação de tratamento, os dejetos são descartados diretamente em rios, lagos e oceanos, sem nenhum cuidado. Dessa forma, ameaçam a fauna e a flora do local, principalmente a aquática. 

Atraso em obras

O principal problema da cidade é não possuir uma estação de tratamento que atenda a necessidade dos mais de 300 mil habitantes. Por isso, todo esgoto produzido pelo município acaba indo in natura para o rio Bauru e os outros 10 afluentes. As duas estações existentes não conseguem suprir toda a demanda populacional, desse modo, praticamente todos os bairros são atingidos.

“A ETE Tibiriçá atende 1000 a 1200 habitantes com vazão de 4,0 a 6,0 litros por segundo (L/S), e a ETE Candeia atende entre 30.000 a 50.000 habitantes com vazão de 60 a 100 L/S, representando apenas 5% do que é produzido no município”, explica o vereador Manoel Afonso Losila.

A construção da Estação de Tratamento Vargem Limpa, iniciada em 2015 e organizada para atender 95% da cidade já deveria estar entregue. No entanto, devido a diversos problemas no projeto, ela ainda não foi concluída.

O vereador explica que a principal causa do atraso é contratação de uma Assistência Técnica à Obra (ATO). Mas, atualmente, os aditivos e os projetos complementares também comprometem esse prazo. A previsão atual é de que a estação fique pronta em setembro de 2021. Até lá, os moradores da cidade seguem enfrentando os mesmos problemas causados pela ausência de tratamento de esgoto.


Edição: Nayara Delle Dono 
Revisão: Anna Araia, Leonardo Scramin e Nayara Delle Dono

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