Toneladas de lixo eletrônico são produzidas anualmente
Imagens do filme “A Tragédia do Lixo Eletrônico” (Fonte: Ecofalante) |
Você possui uma TV velha, uma impressora aposentada ou até mesmo um celular antigo que não tem mais utilidade? Com o tempo, eles só ocupam espaço na sua casa e acabam indo para o lixo. Porém você sabia que esses aparelhos não são considerados lixo comum?
Na verdade eles são classificados como lixos eletrônicos e devem ser descartados apropriadamente, para não degradar o meio ambiente.
O lixo eletrônico, também conhecido como e-lixo, é composto por resíduos presentes em aparelhos eletro eletrônicos. Se descartados de forma incorreta, podem poluir o meio ambiente e por esse motivo, a reciclagem desses materiais torna-se uma prática importante.
Imagem do livro “Catadores Eletrônicos” de Fernando Portela (Foto: Nicolás Sueldo) |
De acordo com o graduando em engenharia ambiental da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), Lucas Gori Lima, atualmente são produzidas mais de 49 milhões de toneladas de lixo eletrônicos no mundo, sendo que só no Brasil foram produzidas mais de 1,4 milhões de toneladas, segundo um levantamento da ONU em 2016.
O Brasil é um dos poucos países em que há algum tipo de legislação, sendo que apenas os 150 maiores municípios brasileiros, a maioria nas regiões sudeste e sul, são responsáveis por aproximadamente dois terços de todo lixo eletrônico, segundo ao levantamento feito pela Secretaria de Desenvolvimento da Produção (SDP/MDIC) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Processo de reciclagem
(Foto: The Restart project) |
Os resíduos eletrônicos possuem um caminho de reciclagem específico. Primeiro, existe a coleta do e-lixo, realizada em postos específicos.
Conversamos com o educador ambiental, Walter Akio Goya, sobre o projeto Eco-eletro e a importância do lixo eletrônico.
Impacto: Como os resíduos eletrônicos podem ser descartados corretamente?
Walter: Nós temos três categorias de equipamentos, os que dão lucro, compostos de componentes e placas valiosas, os que não necessitam de algum valor ou custo para descartar, compostos de teclados, mouse e equipamentos de plástico… E os que trazem algum risco, como baterias e lâmpadas. No site existe uma lista de cooperativas que já tiveram um treinamento e podem receber o e-lixo de forma correta. Em relação aos resíduos mais perigosos, nós possuímos grandes construtoras que coletam esse material. Ambos os pontos recebem os resíduos eletrônicos de forma gratuita.
Impacto: Existe um tipo de custo para o processo de reciclagem?
Walter: Você tem um preço para a coleta, para a triagem,para a descaracterização e para a reciclagem de fato. O que implica no o lucro ou não com processo é o produto final. Se for um material contaminante você vai ter que gastar com a descontaminação, esse processo costuma ser caro e demanda um lucro maior do que é ganho no processo.
Impacto: Como surgiu o Projeto Eco-eletro e qual o seu objetivo?
Walter: O projeto surgiu em 2011 com o objetivo de garantir a segurança no tratamento dos resíduos eletrônicos para as cooperativas, o aumento de renda delas e uma alternativa para a população e as empresas realizarem o descarte correto do lixo eletrônico. O Instituto GEA sempre trabalhou com os catadores desde 2000, muitos resíduos eletrônicos chegavam, porém as cooperativas não sabiam como utilizá-los e os considerava como rejeito (material que não possui comercialização), ou muitas vezes manuseavam esses materiais sem saber dos perigos que eles traziam para a saúde.
Esquema de reciclagem do lixo eletrônico com o exemplo do lixo produzido na USP e comunidade (Fonte: USP) |
Embora o lixo eletrônico possa ser reciclado, ele exige demanda de uma alta tecnologia e capacitação para ser realizado. O processo de triagem, por exemplo, pode ser feito manualmente, porém exige um conhecimento prévio do indivíduo para separar cada componente ao seu destino correto. Já as placas de circuito precisam de uma tecnologia avançada para serem devidamente reciclada.
No Brasil, essa tecnologia ainda não chegou, então acabamos por exportar as placas para os países capazes de dar um destino correto ao material.
Obsolescência programada
Todos os anos, a Apple lança algum equipamento novo (Foto: Bruno Fontes) |
Obsolescência Programada é um processo que estabelece um tempo útil para o funcionamento de um aparelho. Dessa forma os equipamentos são criados para durar até um determinado período de tempo, normalmente esse prazo é curto forçando o consumidor a comprar um novo produto.
A duração dos aparelhos eletrônicos é movida pela lógica de mercado. Não é interessante para a empresa que se tenha uma longa espera para a compra de um novo produto, pois isso implicaria em menos lucro. Assim, vemos todo ano novos modelos de celulares disponíveis e torna-se complicado ficar mais de três anos com o mesmo aparelho funcionando de forma correta.
De acordo com dados da Teleco, o Brasil terminou janeiro de 2017 com 243,4 milhões de celulares, sendo que esses são apenas dados de linhas ativas. Portanto, em pouco tempo todos esses milhões de aparelhos precisarão ser descartados e sem um processo de reciclagem apropriado, a grande maioria deles vão acabar em lixões ou em outros locais inapropriados trazendo malefícios para a natureza e o ser humano.
Prejuízo à Saúde e ao Meio Ambiente
(Fonte: Ecofalante) |
Diversas substâncias nocivas ao ser humano são encontradas no e-lixo, de acordo com o estudante de engenharia ambiental Lucas Gori Lima, “o descarte irregular dos resíduos eletrônicos pode causar sérios danos ambientais e de saúde”, dando destaque aos metais pesados como o chumbo, mercúrio e cádmio.
Chumbo – encontrado em monitores e tubos de televisores. Ataca o sistema nervoso, a medula óssea e os rins, sendo eliminado em pequenas quantidades pelo corpo, reage com o sangue e os ossos causando sérias complicações.
Cádmio – encontrado em computadores e baterias de notebooks. Considerado um agente cancerígeno. Acumula-se nos rins, no fígado e nos ossos, o que pode causar osteoporose, irritação nos pulmões, distúrbios neurológicos e redução imunológica.
Mercúrio – encontrado em lâmpadas e em monitores. Prejudica o fígado e causa distúrbios neurológicos, como tremores, vertigens, irritabilidade e depressão.
Além dos problemas relacionados à saúde, os resíduos eletrônicos também fazem mal ao meio ambiente. Temos o exemplo do Chumbo, que na natureza pode se infiltrar na terra e contaminar lençóis freáticos, influenciando em plantações e também contaminando a água, afetando todo o ecossistema local.
Também devemos levar em conta que a falta da reciclagem do lixo eletrônico resulta em uma extração desnecessária dos metais, que são primordiais na criação dos aparelhos. Com a reciclagem sendo realizada de forma correta, boa parte desses materiais poderiam ser reaproveitados para a criação de novos equipamentos eletrônicos, diminuindo a necessidade de exploração dos metais na natureza e, por consequência, minimizando os danos causados ao meio ambiente.
Situação do Lixo Eletrônico no Brasil
(Foto: projeto Eco-eletro) |
A lei 12.305/2010 institui a política nacional dos resíduos sólidos, regulamentando o destino e o uso dos mesmos. De acordo com Lucas Gori, dentro da própria lei, mais especificamente o artigo 33 da seção II, capítulo, prevê que os seguintes produtos devem ser moldados ao sistema de devolução após o seu consumo:
I – agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei;
II – pilhas e baterias;
III – pneus;
IV – óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V – lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI – produtos eletroeletrônicos e seus componentes
Apesar de todas as regulamentações da lei dos resíduos sólidos, ainda não existe um conjunto de regras voltados apenas para o lixo eletrônico. Assim algumas demandas de logísticas sobre a coleta e reciclagem ainda estão longe do sistema ideal.
No modelo atual, temos a disposição de alguns centros de coleta de resíduos eletrônicos espalhados pelas cidades e todas as empresas que produzem aparelhos eletrônicos possuem um sistema de recolhimento de seus produtos.
Coleta de produtos eletrônicos
Projeto Eco-eletro
O Projeto Eco-Eletro – Reciclagem de Eletrônicos foi desenvolvido pelo Instituto GEA, em parceria com o LASSU – Laboratório de Sustentabilidade, vinculado ao CCE (Centro de Computação Eletrônica) da Escola Politécnica da USP.
Ele trabalha junto de cooperativas que fazem a reciclagem de lixo, capacitando os catadores no manuseio dos resíduos eletrônicos, dessa forma garantindo um aumento da renda desses trabalhadores e criando espaços que destinam o e-lixo de forma correta.
O educador ambiental, Walter Akio Goya, nos contou que o Projeto Eco-eletro tem um livro sobre a vida dos catadores, sendo disponível gratuitamente em PDF.