Você já visitou o Jardim Botânico da cidade de São Paulo?

No meio da grande capital paulista, há um espaço cheio de natureza mas pouco conhecido


Logo na entrada do Jardim Botânico já parece que não estamos mais na caótica Cidade de São Paulo
(Foto: Thuany Gibertini/Impacto Ambiental)

O Jardim Botânico de São Paulo está localizado na Vila Água Funda, Zona Sul da cidade. Antes, era apenas uma zona de mata onde existiam chácaras e sítios. Em 1917, essa região passou a ser propriedade do Governo, visando à utilização dos recursos hídricos disponíveis através das nascentes ali abrigadas e à recuperação da floresta.

O chamado Parque do Estado só se tornou o Jardim Botânico no ano de 1938 e, em 1969, o parque onde o Jardim e o Instituto de Botânica estão localizados passou a se chamar Parque Estadual das Fontes do Ipiranga.

Segundo o Governo do Estado de São Paulo, o parque se entende por 143 hectares, abrigando inúmeras espécies de plantas. Possui trilhas, museus, estufas com espécies típicas do Cerrado e da Mata Atlântica, espécies de plantas em extinção e a presença de muitos animais.

Mas qual será a real função de um jardim botânico?

Ingrid Stanize, estudante de Biologia no Mackenzie, trabalha no Núcleo de Educação Ambiental, que tem como objetivo justamente explicar o papel desse tipo de local, principalmente para visitantes de escolas. Stanize comenta que costuma mostrar aos visitantes a localização do Jardim em relação à cidade para, a partir daí, explicar sua importância.

Estufa da Mata Atlântica: Reproduz a vegetação do bioma predominante da região paulista
(Foto: Thuany Gibertini/Impacto Ambiental)

Conservação

“O Jardim está inserido dentro de uma unidade de conservação, que é o PEFI (Parque Nacional das Fontes do Ipiranga)”, esclarece Stanieze. Ela frisa a importância de se olhar ao redor, pois o Jardim está cercado por uma zona extremamente urbana: “isso faz com que o Jardim Botânico tenha um papel importante, não só para o ecossistema, mas também para os animais, já que a gente acaba contribuindo como habitat para eles”. Além disso, conta também que o parque tem 24 nascentes, tornando-se uma zona de conservação muito importante.

Nathália, que é estudante de Biologia na FMU, também faz parte do Núcleo de Educação Ambiental, e informa que uma dessas 24 nascentes, que está localizada no final do Jardim, é aberta ao público. Na chamada Trilha da Nascente, o visitante pode conhecer uma nascente de rio no meio da caótica cidade de São Paulo.

“Aqui também é importante para a rota migratória das aves. Os animais, geralmente os visitantes conseguem ver, como sagui e bugil. Além de poderem ter um contato mais natural. Diferente do zoológico, os bichos estão soltos aqui, e pode-se observar melhor a interação animal-natureza”, acrescenta Nathália.

Questionada sobre a segurança da zona de conservação, Stanieze diz que enquanto o Jardim for considerado um ponto turístico e, de tal modo, gerar renda para o Estado, ele pode se considerar seguro. Mas, mesmo no Parque Nacional das Fontes do Ipiranga, existem casas dentro no terreno. Ela relata ainda que empresas que próximas ao parque brigam por um pedaço de terra dentro da área de conservação. O medo da perda de espaço e uso impróprio do local é real, segundo a estudante de Biologia.

Saiba mais:
Bosque da Comunidade: um museu a céu aberto
Lei concede parques estaduais para iniciativa privada
Mata Atlântica e Cerrado coexistem em Bauru
Ensaio fotográfico: Zooparque Paraíso das Aves

Conscientização

No site do Jardim Botânico de São Paulo, está exposta a sua missão, que em um trecho abrange o dever, segundo seu ponto de vista, de todos os locais que carregam esse nome: “os Jardins Botânicos têm um papel fundamental neste processo conservacionista e educacional, cujo objetivo é ensinar a importância da vegetação, da conservação da biodiversidade, da pesquisa científica e do desenvolvimento sustentável.” No caso desse jardim em específico, esse objetivo tem sido cumprido pelo Núcleo de Educação Ambiental.

O Museu Botânico Dr. João Barbosa Rodrigues expõe várias espécies de plantas brasileiras, contando em suas descrições em que região é possível encontrá-la. Também conta em suas paredes um pouco da história do Jardim Botânico, tudo isso sob um vitral que representa a flora do nosso país (Foto: Thuany Gibertini/Impacto Ambiental)

No meio da metrópole

Nathália e Stanieze comentam um pouco sobre o trabalho do Núcleo, que busca conscientizar principalmente o do por que conservar, não só o Jardim Botânico, mas toda a extensão do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga. Elas fazem um trabalho bastante especial, principalmente com as crianças, que segundo elas, chegam sem reconhecer quase nenhum animal justamente pela falta de convívio com a natureza que se tem em uma metrópole como São Paulo.

“É importante principalmente com essa turma pequena. Eles apreenderem porque preservar uma área dessas, mesmo estando nesse meio urbano. Não só pros animais, como pra gente mesmo, o quanto que isso afeta no nosso dia-a-dia e o quanto pode afetar também”, enfatiza Nathália.

Segundo Ingrid, apesar de ser um espaço de aprendizagem, muitas pessoas vão ao parque apenas procurando lazer, sem interesse no conhecimento que ele tem a oferecer e, além disso, desrespeitam o espaço de conservação, jogando lixo no chão e até chutando os animais que vivem no local.

Até mesmo as crianças apresentam esse comportamento. Segundo as garotas, “muita criança vem aqui querendo ver bicho. A gente tenta frisar que aqui não é só bicho” diz Nathália. Elas tentam comentar a importância dessa interação natural dos animais com as plantas, de uma maneira livre. Algo que se difere da relação encontrada no zoológico. “A gente tem, por exemplo, animais que dispersam as sementes, e tem plantas que precisam desses animais pra se reproduzir. Então, o animal não está aqui só para comer ou porque está passando, ele tem um objetivo dentro da natureza e é isso que a gente tenta passar” explica Stanieze.

Estufa do Cerrado, reproduz o clima e vegetação de um dos principais biomas no estado de São Paulo, só perde em extensão para a Mata Atlântica (Foto: Thuany Gibertini/Impacto Ambiental)

Impressões dos visitantes

Foram entrevistadas três pessoas que já visitaram o Jardim, mas, apesar do esforço feito pelo Núcleo de Educação Ambiental, duas delas declaram não ter tido nenhum tipo de orientação no local. Um dos entrevistados, Leonardo Temperini, obteve ajuda através de um panfleto. “Ele mostra um mapa para nos ajudar a conhecer os locais de lá”, conta.

Apesar disso, Gabriela Passos, que estuda para passar no curso de Medicina, comentou sobre suas impressões: “o Jardim Botânico é a representação física do paradoxo de que São Paulo é o caos instaurado. Lá é completamente diferente da realidade do dia a dia do paulistano. Possui não apenas uma importância cultural, que é muito rica por sinal, mas uma importância em relação à saúde e renovação humana. É um importante ponto de lazer para a população”.

Para Temperini, o Parque vai além do lazer. “Acredito que, estruturalmente, é um lugar de passeio, um ponto turístico diferente para poder passear, conhecer novas espécies de animais, insetos, e isso é extremo para nós que vivemos num lugar onde tudo é cinza e monótono”.

Um dos responsáveis pelo nascimento do Jardim Botânico de São Paulo é o Naturalista Frederico Carlos Hoehnem no ano de 1928. Antes o local servia apenas para captação de água, abastecendo o bairro do Ipiranga (Foto: Thuany Gibertini/Impacto Ambiental)

As percepções de Ygor Athur, estudante de Matemática na Unicamp, foram a respeito da segurança do local. “O local é bastante limpo e tem a vegetação bem cuidada. Embora tenha controle de entrada, a segurança é duvidosa, visto que boa parte é bem deserta”. Ele também falou sobre a falta de orientação e como se sentiu no Jardim: “na verdade, aprendi apenas o nome de alguns vegetais, mas, na minha visita, senti-me exatamente como me sinto em qualquer parque da cidade, como o Parque do Carmo e Ibirapuera”. Finaliza ainda: “a entrada não deveria ser cobrada, já que o local é apenas um parque e não oferece nenhum outro serviço”.

Além da cobrança pela entrada, algo que também incomodou os visitantes foi a falta de propaganda. Ao contrário de Ygor, Gabriela diz ter tido uma experiência diferente em sua visita, mas reclama da falta de divulgação sobre a existência do Jardim Botânico de São Paulo, o que dificulta o acesso de muitas pessoas ao local. “Adicionou muito ao meu repertório cultural e de respeito à natureza. Mas, conversando com amigos, praticamente todos afirmaram nunca terem ido, seja por ser longe ou simplesmente por nunca terem ouvido falar. É necessário mais propaganda, pois é um lugar incrível”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *