Maior qualidade de vida, preservação ambiental e mais espaços de interação são alguns dos benefícios das áreas verdes urbanas
O Parque do Ibirapuera é um dos mais conhecidos e frequentados da cidade de São Paulo. Além das áreas verdes, o local conta com centro de exposições, museus e auditórios. (Foto: Thainá Zanfolin)
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2050 cerca de 70% da população mundial estará vivendo em locais urbanos. No Brasil, mais de 80% da população vive nos centros urbanos, e São Paulo e Rio de Janeiro já aparecem os rankings de aglomerações urbanas mais povoadas do mundo. Junto com as questões de infraestrutura, melhor planejamento urbano, as discussões da qualidade de vida e da integração do meio ambiente nestes espaços também estão presentes.
As áreas verdes urbanas são definidas, segundo o Ministério do Meio Ambiente, como “um conjunto de áreas intraurbanas que apresentam cobertura vegetal arbórea (nativa e introduzida), arbustiva ou rasteira (gramíneas) e que contribuem de modo significativo para a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental nas cidades”. Além da presença da natureza, um dos diferenciais que determinam o que pode ser considerado como área verde é que o local tenha função ecológica, paisagística e recreativa.
Lado bom
Para que os benefícios das áreas verdes sejam refletidos na qualidade de vida da população, a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que toda cidade deveria ter, pelo menos, 12 m² de área verde por pessoa, sendo o que o ideal seria a existência de uma área de 36m² por habitante. Para se ter uma dimensão acerca da diferença entre realidade e teoria, São Paulo tem cerca de 2,5m² de área verde para cada pessoa que vive na cidade.
Norma Regina Truppel Constantino, pesquisadora da área de espaços livres urbanos, enumera alguns dos benefícios que as áreas verdes trazem para a cidade:
● benefícios sociais, econômicos e ambientais nos lugares onde as pessoas vivem e trabalham.
● espaços livres para relaxar e brincar
● espaços para o habitat da vida selvagem
● adaptação às mudanças climáticas (ilhas de calor)
● educação ambiental
● produção de alimentos (bosques comestíveis, hortas urbanas)
● saúde e bem estar (diminuição do estresse e possibilidade de fazer exercícios)
Outra estudiosa da área, Karina de Andrade Mattos mostra em sua pesquisa sobre os espaços verdes que entre os benefícios é possível destacar os ambientais (diminuir a poluição do ar da cidade, diminuir a temperatura do ar na cidade, reter o dióxido de carbono, contribuir com a biodiversidade e atenuar o ruído), os sociais e os culturais (aumentar a qualidade visual da cidade, favorecer o contato com a natureza, fomentar atividades recreativas e desportivas ao ar livre, promover a saúde e o bem estar e facilitar o convívio e a interação social).
Planejando áreas verdes
Uma vez que os benefícios das áreas verdes possam se tornar uma forma de minimizar impactos do crescimento urbano, segundo as pesquisadoras, o ideal é que ele seja planejado, assim como todas as outras áreas urbanas.
Para a professora Norma, “a infraestrutura verde deveria ser parte integral do desenvolvimento urbano, ao lado da infraestrutura tradicional (como a rede de transportes), o que minimizaria o impacto do desenvolvimento e crescimento urbano”. Ela também completa dizendo que, mesmo que haja uma “medida” para determinar as quantidades de áreas verdes ideais, em sua opinião, a melhor ideia seria “realizar um levantamento e um planejamento (com a elaboração de um Plano Diretor de Arborização Urbana) com base na realidade de cada local e se possível, com a participação dos principais beneficiários (a população)”.
Karina também fala sobre isso em sua pesquisa e, segundo ela,
“planejar esses espaços, aplicando tais funções e benefícios na modelação das cidades, é um dos caminhos para se desenvolver o meio urbano que vai de encontro com os conceitos contemporâneos da paisagem, de encontro com o Homem e a Natureza. É necessária uma nova postura administrativa e projetual para com a cidade”.
As áreas verdes e a degradação ambiental nas cidades
O desmatamento e a preservação de áreas ambientais são temas centrais quando se trata das questões ambientais. Formas de frear a destruição do ambiente, assim como conseguir recuperar áreas anteriormente degradadas são preocupações que podem ser observadas nas leis ambientais brasileiras.
Apesar das áreas verdes urbanas também serem pensadas como maneiras de trazer maior qualidade de vida de uma população, estes locais também são capazes de integrar o meio ambiente e a área urbana de forma a preservar a vegetação natural ou ajudar na recuperação de uma área, sendo que até as Áreas de Preservação Permanente (APP) também podem ser consideradas áreas verdes, como aponta a página do Ministério do Meio Ambiente.
Em Bauru, cidade no interior de São Paulo, coexistem dois tipos de biomas brasileiros: a Mata Atlântica e o Cerrado. A região é uma área de transição e, por isso, ambos precisam ser preservados de forma conjunta. Mas, mesmo depois da criação de novas leis federais e municipais, o desmatamento da cidade continuou acontecendo.
Na cidade, existem cincos bosques, três parques, o Zoológico Municipal, o Jardim Botânico, um Horto Florestal, parques lineares e um viveiro de plantas. Dentre eles, o Zoológico, o Horto e o Jardim Botânico têm área de preservação ambiental. O viveiro municipal, por sua vez, é um dos locais que cultivam espécies nativas que são utilizadas para a plantação e reconstrução de espaços ambientais. Confira no site da Secretária do Meio Ambiente de Bauru (SEMMA) a relação de unidades ambientais existentes na cidade.
O Vitória Régia é um dos maiores parques da cidade de Bauru-SP e se localiza na Avenida Nações Unidas, próximo ao campus da Universidade de São Paulo (USP). (Foto: Thainá Zanfolin)
Para o professor Osmar Cavassan, que é ecólogo e pesquisa sobre o cerrado, é possível criar espaços verdes na área urbana combinados com a preservação ou reconstituição do meio ambiente.
“Se reproduzem ambientes naturais na região, se utilizarem espécies nativas, se possuírem estrutura e desenvolverem ações em educação ambiental, sim. Mas, se forem praças construídas às pressas em véspera de eleições, é pouco provável que esse objetivo seja atingido”.
Também falando sobre as possibilidades da integração entre cidade e meio ambiente, a professora Norma cita Anne Spirn (livro “O jardim de Granito):
“A natureza permeia a cidade, forjando relações entre ela e o ar, o solo, a água e os organismos vivos em seu interior e a sua volta. A crença de que a cidade é uma entidade separada da natureza, e até contrária a ela, dominou a maneira como a cidade é percebida e continua a afetar o modo como é construída”.