Além da falta de energia, os amapaenses foram afetados pela dificuldade com o abastecimento de água e rodízio de energia
Por Victória Roberta
No dia 3 de novembro, o Amapá foi atingido por um apagão. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, 14 das 16 cidades do estado ficaram com a distribuição de energia elétrica suspensa durante dias a fio.
Além da completa escuridão, os amapaenses tiveram de lidar com as consequências da falta de energia elétrica: Falta no abastecimento de água, impossibilidade de compra através de cartões e até mesmo saques foram dificultados. No comércio houve grande perda de alimentos que estragaram pela falta de refrigeração.
O apagão aconteceu após um incêndio atingir uma subestação em Macapá, capital do estado. No domingo, 08 de novembro, o governo estadual restabeleceu parte da distribuição de energia elétrica, passando a operar em um sistema de rodízio, com turnos de 6 horas.
A negligência com o sistema de energia elétrica desencadeou uma série de manifestações nas redes sociais. A hashtag #SOSAmapá foi uma das mais comentadas no Twitter, trazendo à tona o que acontecia no estado. As eleições do dia 15/11 também tiveram de ser adiadas.
O apagão aconteceu após uma tempestade na capital do estado, que ocasionou em uma explosão seguida de incêndio e comprometeu os três transformadores na principal subestação do Amapá, ao norte da cidade de Macapá.
As chamas atingiram 3 transformadores e danificaram um deles, porém um deles estava inoperante pelo atraso da manutenção. O transformador afetado pertencia Linhas de Macapá Transmissora de Energia S.A (LMTE).
Segundo o Ministério de Minas e Energia, o transformador em manutenção conseguiu ser recuperado ofertando cerca de 70% de energia elétrica aos locais afetados, já os outros dois transformadores precisaram ser trocados.
O apagão gerou grande impacto no dia a dia da população amapaense. Os moradores da região foram atingidos diretamente pela ausência de energia elétrica e tiveram de lidar com as consequências geradas pela falta desta.
A queda de energia não afetou apenas o sistema elétrico, mas também o sistema hidráulico. Com a ausência de abastecimento de água encanada, falta de água potável e gelo, a população viu muitos alimentos como legumes, verduras, frutas e carnes estragarem sem a devida refrigeração.
Além disso, a rede de internet e a de telefonia foram afetadas, de forma a precarizar a comunicação e a impossibilitar o acesso aos caixas eletrônicos e máquinas de cartão, o que impediu a população de fazer compras.
Uma série de protestos têm sido feitos desde o dia 6 de novembro, coincidentemente a mesma data em que o governador do estado, Waldez Góes (PDT) assinou um decreto estabelecendo emergência no estado por 90 dias.
O decreto permite ações voluntárias voltadas à assistência social e a dispensa de licitação na compra de bens e realização de serviços. “Assinamos o decreto de situação de emergência pactuando em conjunto com a Defesa Civil Nacional e a Defesa Civil Estadual”, afirmou Góes em seu perfil no Twitter.
De acordo com a fala Waldez, dita durante a discussão do decreto com o secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil, Alexandre Lucas Alves, foram traçadas metas que priorizem o plano de ação e supram as necessidades da população afetada. A prefeitura de Macapá havia declarado estado de calamidade pública na cidade no dia 5 de novembro. O decreto possuía validade de 30 dias.
O plano inicial que contava com a tentativa de fornecer 70% no dia 05 de novembro falhou por conta da complexidade. De acordo com Bento Albuquerque, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANS), o equipamento já foi recuperado e está passando por processos como a filtragem de óleo. O Impacto Ambiental conversou com o engenheiro eletricista Rodrigo de Souza Martins da Silva, para saber um pouco mais sobre as questões técnicas do apagão.
Para Rodrigo, uma sequência de eventos ainda investigados ocasionaram a falta de luz. O ciclo da energia elétrica tem três fases: geração, transmissão e distribuição. A Companhia de Energia do Amapá (CEA) é responsável pela distribuição da energia que recebe da Linhas de Macapá Transmissora de Energia S.A (LMTE).
A LMTE teria sido negligente, uma vez que é a responsável por 6 linhas e 4 subestações ligadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) no Amapá. O SIN é um sistema de coordenação formado por empresas da região Norte e de outras regiões do país que une o sistema de produção e transmissão de energia elétrica, com a maior parte formada por usinas hidrelétricas e diversos proprietários, tanto estatais quanto privados.
O que tem sido mais comentado sobre o caso é a energização das linhas de transmissão. Um Sistema Elétrico de Potência possui redundâncias, e sua segurança é definida pela capacidade de suportar impactos causados por contingências, sem violar os limites de operação ou que gere uma interrupção no fornecimento de energia. Essa capacidade pode ser determinada pelo grau de perturbação da contingência causada por cenários de geração e intercâmbio.
A LMTE tinha três transformadores. Ela estaria com um dos transformadores de manutenção desde o ano passado. Havia dificuldade em conseguir peças, pois se trata de um transformador de baixa qualidade, de uma determinada companhia indiana que não existe mais. Quando ocorreu a falha, um pegou fogo, ficando inutilizado, o outro resultou no desarme de um segundo transformador na usina de Coaracy Nunes e na falha na transmissão de energia ao estado do Amapá. Afirmou Rodrigo em entrevista.
Rodrigo afirma que o apagão não estava relacionado a uma única fonte de energia, mas sim a transmissão e distribuição. Para a correção do problema, o país precisará investir R$88 bilhões de reais até 2022 para manter o sistema elétrico nacional estável.
Outro assunto comentado na entrevista foi o alto valor pago pelos nortistas em comparação às demais regiões. O engenheiro afirma que a diferença existe pelo alto custo do investimento em infraestrutura para a transmissão e distribuição.
Com fatores como o desenvolvimento regional, maior industrialização e densidade demográfica, o investimento se torna mais viável em lugares mais urbanizados. Um agravante é a questão contratual e das burocracias envolvidas em concessões, que piora regiões menos industrializadas.
Na terça-feira, 17, ocorreu um novo apagão após três quedas seguidas de energia. Segundo a Eletronorte, a sobrecarga da hidrelétrica Coaracy Nunes foi a responsável pela falta de luz. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) enviou ofícios para a CEA e para a LMTE cobrando explicações sobre o ocorrido.
Edição: Nayara Delle Dono
Revisão: Anna Araia, Leonardo Scramin e Nayara Delle Dono