Causa do incêndio na Estação Ecológica de Bauru ainda é desconhecida

Calcula-se que o fogo consumiu 40% da única reserva de Mata Atlântica da região

A imagem mostra um desenho feito a lápis em preto e branco. A esquerda, uma placa retangular, como se fosse de madeira, escrito “Estação Ecológica de Bauru Sebastião Aleixo da Silva”. A direita, se encontra árvores secas e queimadas.

A Mata Atlântica não é um bioma preparado para queimadas. Arte: Julia Ruiz

Por Julia Faria Peixoto

Um incêndio de grandes proporções atingiu a Estação Ecológica Sebastião Aleixo da Silva, conhecida como Estação Ecológica de Bauru (ESEC), no dia 16/09. Segundo testemunhas, o incêndio teria começado na noite anterior, após a explosão de um transformador da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), próximo à Estação.

Por causa do tempo seco, o fogo espalhou-se rapidamente. Para acabar com as chamas no local, o Corpo de Bombeiros contou com a ajuda da Polícia Ambiental,  da Defesa Civil, de voluntários, e ainda, da Polícia Militar de Marília e de um helicóptero Águia. No entanto, o incêndio só foi controlado após 24 horas, na noite de 17 de setembro.

O Plano de Manejo, aprovado há mais de 15 anos, foi uma medida preventiva contra casos de incêndios na Estação Ecológica de Bauru. Entretanto, segundo fontes que trabalham na recuperação da reserva afirmam que diversos pontos não foram aplicados.

A Estação não tinha brigada de incêndio, fiscalização 24 horas e uma faixa de terra sem vegetação, conhecida como aceiro, que impediria o alastramento do fogo. Essas medidas estavam previstas no Plano, mas não foram colocadas em prática pela administração da reserva. 

A imagem mostra dois homens que são bombeiros jogando água no fogo que estava destruindo a Estação. No céu, se vê muita fumaça cinza. E também é visível algumas árvores já destruídas.

Bombeiros levaram mais de 24 horas para conter queimada na área de preservação – Reprodução/Corpo de Bombeiros

A reserva ambiental

A Estação Ecológica de Bauru é uma Unidade de Conservação (UC), cuja gestão é feita pela Fundação Florestal, mantida pelo estado de São Paulo. Criada em 1987, é conhecida por preservar a única amostra da Mata Atlântica em uma região devastada pela agropecuária. 

Contudo, de acordo com pessoas que frequentam o local, o gado está entrando na reserva e há rastro desses animais toda semana.

As causas do incêndio no local estão sendo investigadas pelo Ministério Público Estadual (MPE) em Bauru. O Promotor de Justiça do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Sciuli de Castro, informa que, além de um Inquérito Civil sob sua responsabilidade, a Polícia Civil também instaurou inquérito para apurar os fatos.

Três denúncias sobre o caso já foram enviadas ao órgão, entre elas a do zootecnista e ambientalista Luiz Pires. “Espero que sejam apuradas as responsabilidades do por que as ações propostas pelo Plano de Manejo não foram colocadas em ação, bem como a responsabilidade da CPFL”, comenta Pires.

O Promotor de Justiça conta que, “a partir dessas denúncias, estão sendo obtidas informações junto à Prefeitura Municipal de Bauru, ao Corpo de Bombeiros e à Fundação Florestal, visando colher o maior número de dados iniciais para estabelecer as causas do incêndio e seus responsáveis”.

A imagem mostra uma foto de árvores queimadas, restos de frutas e sementes queimados. O chão e as árvores estão todas pretas por causa do fogo.

Parte da Estação Ecológica de Bauru após o incêndio. Foto: Julia Faria Peixoto

Quanto à perda da vegetação da área de preservação e sua recuperação, Luiz Pires informa que 

“somente estudos de campo, que são responsabilidade da Fundação Florestal, poderão dizer as dimensões do estrago, bem como propor as medidas de redução dos danos causados pelo incêndio”.

Segundo o ambientalista, ainda é impossível saber as reais consequências do incêndio em relação à fauna e à flora. Pires explica que, enquanto o Cerrado está preparado para o período de queimadas – com suas árvores com cascas grossas e fortes -, a Mata Atlântica não está adaptada a incêndios florestais. No caso da Estação, tem-se como agravante o fato de ser uma área isolada, o que dificulta a chegada de sementes de fora das espécies típicas.

Além disso, a reserva vive com outros problemas: a plantação de eucalipto e a derrubada da vegetação nativa para criação de gado, sendo estas duas práticas que prejudicam o ecossistema local.

A imagem fileiras de plantação de eucaliptos (que não eram para estar ali). Também tiveram seus troncos e copas queimados.

Plantações de eucalipto que cercam a unidade de conservação também foram atingidas pelo fogo. Foto: Julia Faria Peixoto


As causas estão sendo apuradas

Sobre a proteção da reserva pelas autoridades, Luiz Pires observa
“não bastam estudos que apontem medidas de prevenção, como as relatadas no Plano de Manejo da Estação, se elas não forem colocadas em prática”. 
Ainda comenta que a Estação não possuía fiscalização 24 horas, nem brigada de incêndio e equipamentos para tal. “Somente leis e decretos não garantem proteção real a essas Unidades de Conservação”, conclui Pires.

A Polícia Ambiental de Bauru afirma que “realiza patrulhamento diariamente na Unidade de Conservação e imediações, inclusive pela trilha interna, nos horários mais diversificados, diurno e noturno, com vistas a crimes ambientais (desmatamento, caça, queimadas) e outros ilícitos penais”.

Em nota, A CPFL informa que, na ocasião do incêndio, enviou uma equipe à Fazenda São Bento, a fim de desligar o fornecimento de energia a pedido do cliente, não identificando motivo relacionado a rede elétrica para a queimada. Ainda segundo a nota, as causas do incêndio estão sendo investigadas pelas autoridades competentes, estando a companhia à disposição para colaborar.

Ações voluntárias

A imagem mostra frutas deixadas no chão queimado. As frutas são para alimentar os animais. Tem banana, laranja, maça e mamão.

Ilhas de alimentos feitas para os animais. Foto: Julia Faria Peixoto


Enquanto as causas e as consequências do incêndio não são esclarecidas, voluntários de Bauru e região arrecadam água, frutas, ovos e sementes e espalham por vários pontos entorno da reserva. Esse voluntariado visa ajudar os animais que sobreviveram ao incêndio e estão com dificuldades para encontrar água e alimentos em meio às cinzas.

A arrecadação dos produtos acontecia por meio das redes sociais, e as ações ocorriam duas vezes por semana. Porém, na última semana, as ações foram suspensas devido a intervenção da gestão da Unidade de Conservação que não está de acordo com as atividades que estavam sendo realizadas e impede que o grupo continue acessando o local.
Edição: Maria Eduarda Vieira
Revisão: Anna Araia, João Mateus Macruz e Maria Eduarda Vieira


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