Um bate papo sobre a situação dos ecossistemas atuais
Com o desenvolvimento da civilização humana a temperatura global cresceu em torno de 5º C nesses últimos 20 mil anos, contudo, continua notavelmente estável. Mas, falar sobre mudanças climáticas é fala sobre clima. Clima é uma entidade ampla, que estabelece um padrão de variáveis climáticas que são as massas de ar, correntes marítimas, temperatura, precipitação e umidade do ar.
O clima com suas variáveis, portanto, molda os ecossistemas, uma vez que os seres vivos, sejam plantas, animais ou qualquer outra espécie, são adaptados ao meio. Nesse sentido, uma região que possua o clima quente e seco será ocupada por espécies que sobrevivam e sejam bem – sucedidas nessas condições.
A adaptação dos seres vivos ao ambiente, ocorre em um espectro temporal longo, com a passagem de muitas e muitas gerações. É nesse aspecto que a influência da ação antrópica pode ser prejudicial à biodiversidade, e nelas estão inclusos os famosos: aquecimento global e desmatamento.
Unindo todos estes conceitos, o doutorando do programa de pós-graduação de Ecologia – IB -UNICAMP, André Luiz Giles de Oliveira, 25 anos, que possui experiência na área de Ecologia, com ênfase em ecologia de comunidades vegetais, bateu um papo com o Impacto Ambiental.
O pesquisador estuda ecossistemas como Savanas e Florestas Tropicais e associa alguns fatores como as alterações climáticas e o desmatamento a danos em ecossistemas. Todavia, ele salienta que a partir de estudos, foi verificável que plantas de menor porte sejam mais adaptáveis as novas condições e por isso sejam uma maneira de ‘’salvar’’ os ecossistemas.
Entenda um pouco mais sobre esses processos de alterações nos ecossistemas, por meio de mudanças climáticas e ações antrópicas, na entrevista abaixo:
O que é um ecossistema?
O quanto um clima pode interferir em um ecossistema?
Muito. Isso é um argumento circular. Muitas vezes nos deparamos com uma discussão, se o clima determina o ecossistema, ou o ecossistema determina o clima. Um exemplo são as áreas de savanas. As savanas são características, principalmente no Brasil, por serem sazonais, isso quer dizer que elas têm uma precipitação de mais ou menos 1500 mm até 1800 mm por ano, mas também tem um período no decorrer das estações do ano, que é muito seco e a precipitação é bem diminuta. Isso cria um filtro que faz com que espécies florestais não consigam se desenvolver. Além disso, temos o fator solo que pode influenciar nisso também.
Qual o papel do clima em um ecossistema?
O clima, pensando em fenômenos climáticos grandes, pode determinar a estrutura da vegetação e determinar se aquilo vai ser uma floresta tropical pluvial, onde vai chover muito o ano todo e vai passar de 2200 mm a precipitação por ano, ou se aquele clima é mais sazonal, ou seja, terá um período muito seco, que vai ser um filtro muito forte para que algumas espécies de florestas/vegetação não ocorram ali, então eu posso ter áreas de savana, ou áreas de semiárido, por exemplo.
A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera por meio da ação do homem gera problemáticas aos ecossistemas? Quais são elas?
A entrada e saída de carbono em um ecossistema, ocorre naturalmente. O CO2 sai em forma inorgânica, é assimilado pelas plantas e sai em forma orgânica Só que o aumento populacional depois do século XIX, fez com que a emissão de CO2 aumentasse, ocasionando alterações na temperatura.
Dê exemplos de como esse aumento de gases atmosféricos podem interferir nos ecossistemas:
Com o aumento dos gases, consequentemente ocorre o aumento da temperatura. Através de modelos matemáticos e geográficos, podemos predizer que a temperatura vai influenciar na precipitação, fazendo com que ela diminua, assim, provavelmente eu vá ter um outro padrão de ecossistema, não esse que vemos hoje.Então, podemos ter áreas de florestas que podem se transformar em savanas, e vice-versa. Vamos ter outros padrões de vegetação e ecossistemas. É como se a estrutura daquele lugar mudasse a biodiversidade em geral.
Quanto tempo pode levar para que essas mudanças ocorram?
Em uma escala biológica e evolutiva é pouco tempo. Essas mudanças podem ocorrer em cerca de centenas de anos, alterando o clima e comprometendo todo um serviço ecossistêmico.
Os ecossistemas que você estuda já tiveram alguma alteração significante?
É complicado dizer, mas existem alguns estudos sobre isso. Temos um que saiu nessas últimas semanas, que demonstrou o que aconteceu nos últimos 25 anos com os ecossistemas. Analisamos que, principalmente os gráficos mostram que ainda há um aumento muito grande na emissão de gás carbônico. Além disso, houve uma diminuição de florestas, uma fragmentação muito alta, e pensando em fauna, houve também uma diminuição na diversidade de mamíferos, pensando em escalas globais. Mas, acho que o principal, é entender que além dessa perda de diversidade, existiam funções que aqueles organismos prestavam naquele ecossistema que tinha uma função maior no globo.
E em sua concepção como a sociedade encara essas mudanças?
Além do ciclo do carbono o que mais altera um ecossistema?
Diversos fatores influenciam as alterações nos ecossistemas além do ciclo do carbono e a amissão de gases estufa pelo homem. Por exemplo, de imediato o que mais altera um ecossistema é fragmentação
e a utilização inadequada do solo, na agricultura, ocupação imobiliária, desmatamento, aumento populacional, entre outros.
O reflorestamento pode ser uma alternativa para ajudar a amenizar as alterações nos ecossistemas?
O reflorestamento vem com esse intuito. Ele pode ser utilizado para restaurar uma paisagem que era antigamente florestal, ou para restaurar a diversidade daquele local e da função ecossistêmica, como por exemplo, plantar mudas em determinado lugar, pois elas irão crescer, pegar carbono atmosférico e assimilar ele em forma de tronco, caule e folhas, ou seja, em forma de biomassa, fazendo o sequestro do carbono. Pensando nesse sentido, o reflorestamento é muito importante, não só para recompor paisagens, mas essas novas espécies vão dar origem a serviços ecossistêmicos, como a produção de água, chuva e estoque de carbono. Alguns ecossistemas tem a capacidade muito alta de resiliência, que é depois de algum distúrbio, conseguir voltar a um estado natural, ou um estado muito próximo do que ele era antes. Por exemplo as savanas. Se elas perdem a parte aérea, elas conseguem rebrotar rapidamente. Talvez um distúrbio muito grande em florestas, faça com que dificilmente, aquela floresta consiga voltar.
Como a vegetação que já está inserida no ecossistema pode “sobreviver”?
Plantas de maior biomassa, ou seja, maior altura e diâmetro, são as que menos conseguem resistir a seca, por exemplo. Mas talvez as menores, sejam aquelas que conseguem modificar sua fisiologia, seus aparatos de condução de água, para a sobrevivência. Não excluindo o fato de que, uma planta maior não é menos capaz de captar carbono e mandar água para a atmosfera, como as menores, porém, possuem menor capacidade de se modificar ou resistir aos distúrbios.