Litro de Luz: o projeto que ilumina a vida de populações desfavorecidas

Depois do sucesso obtido no exterior, a iniciativa veio para o Brasil e está presente na Unesp de Bauru


Circuito elétrico, bateria e painel solar utilizados no poste, material do IEEE. (Foto: Anna Araia/Impacto)

Ao redor do mundo, moradores de muitas localidades pobres ainda não têm acesso à energia elétrica. Para mudar essa triste realidade, o filipino Illac Diaz criou em 2011 um projeto revolucionário: o Litro de Luz. 

Criado em uma região rural e isolada de seu país, Diaz juntou os conhecimentos que adquiriu no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e a tecnologia da lâmpada desenvolvida pelo mecânico brasileiro Alfredo Moser para realizar sua iniciativa. Hoje, a Litro de Luz é uma fundação que atua em vinte países levando iluminação a comunidades carentes, mudando a vida dessas pessoas. 

A estrutura do poste de luz usado pelo projeto é simples, o que permite que os próprios moradores o construam. Ele é feito de canos de PVC, através dos quais é passada a fiação elétrica. Em seguida, a peça é fixada ao solo com cimento.

 A parte superior do poste recebe uma caixa com temperatura constante, onde são colocados a bateria e o circuito responsável pelo funcionamento da lâmpada. No topo, é fixada uma placa solar. Além do objetivo social, existe a preocupação de utilizar energia solar, por ser mais limpa do que as normalmente empregadas, e fazer parte do combate às mudanças climáticas. 

No Brasil, o projeto é conduzido pela ONG Litro de Luz. Cerca de 11 mil pessoas e mais de 100 comunidades foram impactadas pela iniciativa no país.

O Impacto Ambiental conversou sobre esse tema com Gabriel Miglionni, aluno do quarto ano de Engenharia Elétrica da Unesp de Bauru e membro do IEEE, que coordena o projeto na Unesp.

Alunos membros do IEEE da Unesp de Bauru com um modelo de poste de luz em sua sede. Foto: Anna Araia/Impacto

Impacto: O que motivou vocês a escolherem um projeto baseado no Litro de Luz?

R: Vários aspectos no nosso Campus da Unesp de Bauru nos motivaram a colocar em prática aquilo que aprendemos em aula, dado que o IEEE tem como objetivo disseminar o conhecimento acadêmico para as pessoas. O fato de os arredores da faculdade ficarem um breu de noite e ser muito difícil olhar para os lados, o que nos dá um pouco de medo, nos revoltou. Queríamos trazer um pouco de luz para a universidade. Nós nos reunimos com o pessoal do CADEP (Centro Avançado de Desenvolvimento de Produto) e eles nos mostraram que, na prática, comprar e instalar um poste custa para a Unesp cerca de 700 reais. Deveria haver outra maneira de melhorar a luz do campus e a segurança.
Tivemos inspiração em um caso ocorrido na FEG (Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá), onde também existe um IEEE. Lá, os estudantes realizaram um projeto chamado “FEG Sustentável”, que consistia em colocar um sensor de calor no ponto de ônibus da faculdade; quando os alunos estivessem lá, a luz acenderia. Isso diminuiu em 70% os assaltos a estudantes no local.

Além disso, eles trocaram a iluminação dos postes por lâmpadas de LED, que consome menos energia e produz a mesma quantidade de brilho, trazendo vantagens em relação à similar fluorescente e gerando menos impacto para o meio ambiente. Isso foi o que mais nos incentivou a iniciar o projeto. Precisamos melhorar a iluminação do campus, baratear o custo de produção do poste e melhorar o nosso sistema.

Impacto: De que maneira a produção de luz a partir da energia solar é menos impactante para o meio ambiente?

R: A energia solar é menos impactante porque não é preciso desmatar uma grande área de vegetação, como uma usina, por exemplo. Você terá apenas o resíduo de uma área de um metro quadrado ou um pouco mais. Como a energia eólica, você vai ter o resíduo de geração. A energia solar é mais compacta, porém não é tão eficiente. Para pequenos serviços o uso dela é ideal, possuindo uma durabilidade de 10 anos. Assim, só é necessário se preocupar com o lixo produzido por ela depois de uma década.

Esquema de funcionamento do poste


Impacto: Quais são as etapas para a transformação de energia elétrica dessa forma?

R: Nós pegamos a energia do sol e a convertemos em elétrica. Quem nos ajuda nesse processo é o painel solar. A placa tem materiais semicondutores que são continuamente excitados a cada momento que a luz tocar o objeto. Isso faz com que seja criada uma corrente elétrica. Pela eletrodinâmica, o movimento dos elétrons promove para a gente energia elétrica, para que tenhamos energia.

Impacto: Como o Litro de Luz ajuda a sociedade?

R: Um local bem iluminado causa uma visão diferente acerca dele. Se você for a um museu, um restaurante ou uma universidade, a primeira coisa em que repara é na iluminação do ambiente. Uma das matérias que temos na Engenharia Elétrica é Luminotécnica, que diz como a luz do ambiente influencia a pessoa. Uma comunidade que não tem muitos recursos elétricos se vê representada, ajudada, com um projeto como o nosso, e devolve essa sensação para a sociedade. Isso no geral reduz furtos, atividades perigosas.

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Edição: Rebeca Almeida

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