Estima- se que a região já perdeu mais de 300 mil hectares de vegetação, 10% da vegetação natural
Bombeiros tentam amenizar as chamas. Foto: CBMS/ divulgação |
Os dados sobre a situação são cada vez mais preocupantes. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), desde o início de 2020, foram registrados 5.935 focos de incêndio. Para agravar ainda mais o cenário, o período da cheia no começo do ano não foi dos melhores. Assim, a região sofre com o maior período de estiagem em 47 anos.
Tudo isso coloca em risco a biodiversidade do Pantanal. O bioma é considerado uma das maiores extensões úmidas do planeta. São cerca de 150.355 km², de acordo com dados do IBGE de 2004, que abrangem os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e, ainda, uma parcela da Bolívia e do Paraguai.
Vale destacar que muitas dessas espécies que se encontram vulneráveis ou estão ameaçadas de extinção em outros biomas ainda resistem no Pantanal.
Arara-azul depende dos frutos da vegetação para se alimentar
Uma delas é a arara-azul. Elas são encontradas na fazenda São Francisco do Perigara, no município de Barão do Melgaço no Mato Grosso. O local possui um refúgio que reúne cerca de 1000 araras-azuis.
Conforme explica Neiva Gomes, presidente do Instituto Arara Azul, desde 2014 a ave não se encontra mais na lista de espécies ameaçadas do Brasil, mas ainda é bastante vulnerável.
As queimadas infelizmente impactam bastante, tanto na população de animais quanto da flora. Mesmo que ela rebrote, as relações entre as espécies vão demorar muito mais para ser reconstituídas”, comenta.
A bióloga diz que, no caso específico das araras-azuis, elas acabam perdendo áreas de alimentação, pois se alimentam exclusivamente de frutos, como acuri e bocaiúva. “Queimando isso o que elas vão comer? Elas acabam tendo que sair da área e procurar outro lugar e nem sempre encontram esse outro lugar”. Essa fuga pode acabar desencadeando problemas que a longo prazo podem diminuir a população reprodutiva.
Araras na fazendo após a queimada. Foto: Ana Maria Barreto |
E a falta de chuva?
As chuvas estiveram 40% abaixo de seus limites normais e, com isso, o solo não esteve encharcado. “Como as chuvas se concentram em alguns dias para ocorrer novamente depois de 30 a 40 dias, a água apenas molha o terreno provocando, assim, a diminuição no nível de inundação”, afirma Felipe Dias, diretor da ONG SOS Pantanal.
Dias explica que o aumento de áreas não inundadas intensificou a quantidade de material combustível – matéria seca -, potencializando os riscos de incêndios que, somados a velocidade do vento, tornam-se ainda mais graves.
De acordo com estudos, é possível relacionar essa falta de chuvas na região com o desmatamento da Amazônia. Isso se deve aos “rios voadores”, que são vapores de água liberados na atmosfera, gerados pela transpiração das árvores da Floresta Amazônica. Eles dispersam umidade por diversas regiões e dão origem às chuvas.
Entretanto, com a degradação da Amazônia, esse fenômeno acaba sendo afetado e enfraquecido. “Isso, com certeza, traz uma alteração no ciclo de chuvas que é fundamental para todo processo de inundação, chamado de poços de inundação, que determinam diversos processos ecológicos”, explica Ângelo Rabelo, diretor do Instituto Homem Pantaneiro.
Em meio a toda situação crítica, no dia 28 de agosto, o Governo Federal tentou bloquear verbas para o combate às queimadas e o desmatamento destinados ao IBAMA e o ICMBio.
No entanto, acabou voltando atrás poucas horas depois. Desse modo, com incertezas e ações pouco efetivas por parte do Governo Federal e sem perspectiva de melhora, o Pantanal continua em chamas.
Ângelo Rabelo argumenta que é necessário haver mais campanhas com o intuito de orientar a população da região sobre a necessidade do cuidado com o manejo do fogo, principalmente por conta das condições climáticas.
Ele afirma ainda que tomar conhecimento do assunto é uma forma de engajamento para as pessoas que não vivem na região. “O Pantanal é um patrimônio nacional e deve merecer atenção de todos”.