Chorão sofria de problemas degenerativos no rim e no estômago
Por João Mateus
No dia 06 de novembro, o Zoológico Municipal de Bauru anunciou o falecimento do tigre-de-bengala, habitante do parque há mais de 14 anos. Batizado de Chorão, o animal era o único exemplar de sua espécie no zoológico.
Seu nome foi inspirado pelo modo que o felino rosnava e se “comunicava”, o que lembrava, aos cuidadores, um choro. Na sexta-feira (06), o tigre foi eutanasiado. Em sua conta na rede social Instagram, o Parque afirmou que “foi feito tudo que estava ao alcance do Zoológico de Bauru para oferecer qualidade de vida ao nosso tigre”.
Vinda para Bauru
Chorão nasceu no Zoológico de Sorocaba, a mais de 260km de distância, em 2001. O local foi sua casa até os 5 anos de idade, quando foi transferido para Bauru em 2006. Desde então, o tigre-de-bengala se tornou um dos moradores mais visitados do Parque.
Na publicação, o Zoológico explica que o tigre tinha “alimentação balanceada e tratamento veterinário, vivia em um recinto bom, enriquecido com terra, grama, tanque de água e plataforma de madeira”.
De acordo com o veterinário do Zoológico, Lauro Soares, essa espécie é originária da Índia (região da Bengala, no sul da Ásia). “São carnívoros que caçam cervos, javalis e outros animais de médio e grande porte. Sob cuidados humanos, alimentam-se de até 8kg de carne (bovina, frango, suíno ou roedores de biotério) por dia”, explica Soares.
Chorão faleceu aos 19 anos de idade, entretanto sua espécie, em natureza, dificilmente passa dos 12 anos. O veterinário conta que, com os cuidados humanos, o tigre pode chegar a completar mais de duas décadas de vida. Atualmente, esses grandes animais – que podem passar dos 250 kg – estão ameaçados de extinção.
Os problemas de saúde
Desde o seu nascimento, Chorão sofria de doenças osteoarticulares, ou seja, nos ossos e nas juntas. Conforme foi envelhecendo, Lauro Soares conta que esse quadro foi piorando. Por conta desse problema, o tigre, segundo o Zoológico, “foi diagnosticado com desgastes nas articulações e na coluna”.
Além disso, “desde a metade do ano de 2019, após iniciar um quadro com vômitos intermitentes, [Chorão] passou por uma bateria de exames, incluindo radiografias, ultrassonografia e endoscopia, que demonstrou sérios problemas degenerativos e progressivos em seu estômago e rins”, afirma o veterinário.
O morador do zoológico também passou por tratamentos, como um implante de ouro ao redor das articulações doloridas pela faculdade de veterinária da UNESP de Botucatu, o que reduz as dores. Além disso, diversas medicações, que eram implantadas nas suas refeições, foram prescritas para melhorar o bem-estar do tigre.
Entretanto, a partir da segunda quinzena de outubro, Chorão não estava mais respondendo como antigamente aos cuidados paliativos, ou seja, na assistência prestada pelo time do Zoológico. Nesse período, o tigre “parou de se alimentar e, consequentemente, não ingeria mais seus remédios, passou a se locomover com muita dificuldade e já não reagia mais tão bem à interação com a equipe do zoológico”, conta Lauro.
Por isso, no dia 28 de outubro, o Zoológico de Bauru resolveu eutanasiar o seu morador, diminuindo, assim, sua dor. “A eutanásia é uma ferramenta clínica em medicina veterinária, utilizada para abreviar o sofrimento de animais”, explica o veterinário.
Homenagem nas redes sociais
Chorão, que era o motivo de muita alegria para os visitantes, foi homenageado por usuários do Instagram na publicação do Parque. Na foto, uma seguidora comentou: “Tchau, Chorão. Nunca vou me esquecer de você”. Além disso, o Zoológico foi elogiado pelos cuidados prestados ao antigo habitante: “Obrigado Zoológico de Bauru por todo atendimento e cuidados que vocês deram para ele em vida. Que ele descanse em paz”, deseja outro usuário.
No dia 17 de novembro, o Zoológico publicou uma colagem, também em seu Instagram, com oito imagens tiradas por visitantes, dentre eles crianças e famílias inteiras.
Os novos habitantes
Com o falecimento de Chorão, o Zoológico de Bauru recebeu, em novembro, um casal de tigres-siberianos. Os animais são irmãos e possuem, apenas um ano.
De acordo com Soares, “[O tigre-siberiano] é uma subespécie maior, podendo ultrapassar os 300kg e 3 metros de comprimento. A alimentação e os cuidados com a espécie são semelhantes [a do tigre-de-bengala], então poucas alterações serão realizadas no recinto já existente no habitat dos tigres. Haverá mudanças em relação ao maior nível de atividade que estes indivíduos jovens vão ter”.
A polêmica sobre os zoológicos
Ambas as espécies de tigres citadas durante esta reportagem estão sofrendo ameaças de desaparecer.
Para o veterinário, “na velocidade que o ser humano vem degradando o meio ambiente e causando grande destruição de fauna, os zoológicos são as instituições capazes de salvar diversas espécies da extinção”.
O biólogo e professor Rodolfo Ferreira afirma que esses espaços são fundamentais para a sociedade. Além de atuar na conservação das espécies, os zoológicos também trabalham na educação ambiental. Para o profissional, quando a visita a esses locais é incentivada, aumenta-se a preocupação com a proteção desses animais. “É muito mais efetivo que, simplesmente, um professor falar na sala de aula: ‘Precisamos proteger a fauna brasileira’”, explica Ferreira.
É incorreto afirmar que os animais residentes nos zoológicos foram retirados da natureza. Segundo o biólogo, as espécies são resgatadas, muitas vezes, do tráfico de animais silvestres e de áreas desmatadas.
Em alguns locais do mundo, zoológicos praticam ações condenáveis contra seus animais – como o Zoológico de Luján, na Argentina, onde os tigres eram dopados para que visitantes tirassem fotos. Rodolfo cita esse episódio e complementa: “Além desses estigmas negativos, o principal fato [da existência do movimento anti-zoológico] é a desinformação”.
Edição: Nayara Delle Dono
Revisão: Anna Araia, Leonardo Scramin e Nayara Delle Dono