Cidades do Sudeste e Sul do país foram afetadas: areia foi arrastada para as avenidas e estruturas foram quebradas
Alagamento em Florianópolis (Foto: Marcus Bruno/Agência RBS) |
No final de outubro, cidades da região de Santos (SP) e do Rio de Janeiro (RJ) sofreram os efeitos da ressaca marítima. As ondas chegaram até 3,5m de altura, causando danos estruturais às cidades e a necessidade de interdição de vias.
Em relação ao litoral paulista, a mureta que faz a separação entre calçadão e praia foi danificada em alguns pontos e o trânsito teve de ser desviado.
Já no caso das praias cariocas, houve problemas semelhantes: quiosques foram danificados, as ondas levaram areia até as calçadas de condomínios e até mesmo o mirante do Leblon teve de ser fechado.
O fenômeno também trouxe transtornos para os moradores do sul do país: a Defesa Civil de Santa Catarina calculou que 15 municípios foram atingidos pelas ondas, que invadiram casas, destruíram decks e deixaram desalojadas quase uma centena de pessoas.
O que causa a ressaca marítima?
Segundo o professor Ricardo Camargo, do departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, este fenômeno é causado principalmente pelo vento: a ação eólica na superfície do mar transfere grandes quantidades de energia através do atrito, ou seja, causa o arrasto da água. “A resposta oceânica em alto mar ocorre tanto na forma de ondas como na forma de correntes. Na região costeira pode também haver variação do nível médio do mar”, explica.
O professor também aponta que, como as ressacas estão ligadas ao impacto de eventos meteorológicos extremos sobre o oceano, pode-se associar sua ocorrência à passagem de ciclones e tufões.
Quando ocorrem as ressacas?
“Se focarmos no Litoral Sul e Sudeste do Brasil, as ressacas podem ocorrer em qualquer época do ano. Entretanto, é mais comum durante o inverno e a primavera, quando a formação dos ciclones extratropicais ocorre com maior frequência”, explica o Dr. Jeferson Prietsch Machado, professor do curso de Meteorologia na Unesp.
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Ciclones, tufões e furacões
O ciclone é um movimento de ar giratório que abrange centenas de quilômetros, com ventos de 120 km/h, diferente de um tornado, que abrange uma área menor mas com maior velocidade (em torno de 500 km/h). Como abrange uma grande área, um ciclone pode ser bastante destrutivo. Um ciclone ocorreu no Uruguai no final de outubro, influenciando o mar nas regiões sul e sudeste, o que pode ajudar a explicar as ressacas desse período.
De acordo com o professor Ernani de Lima Nascimento, professor da Universidade Federal de Santa Maria, o furacão e o tufão são tipos de ciclones tropicais e são fenômenos bem parecidos, tendo diferença apenas na localização geográfica: se ocorrer no Pacífico Leste ou Oceano Atlântico, é um furacão. Caso seja no Pacífico Oeste, trata-se de um tufão.
Ressaca e tsunami são a mesma coisa?
O professor Machado garante que um fenômeno não tem nada a ver com o outro: “São fenômenos totalmente diferentes. As ressacas ocorrem devido à atuação de sistemas meteorológicos que causam ventos fortes no mar. Já os maremotos ocorrem devido a abalos sísmicos, ou seja, são os terremotos que ocorrem no interior dos oceanos. Esses abalos, quando ocorrem com certa magnitude, provocam ondas gigantes denominas de tsunami”.
A areia invadiu a ciclovia do Leblon (Foto: Fernanda Rouvenat/G1) |
O aquecimento global tem algo a ver com isso?
Quando questionado sobre a influência do aquecimento global, Ricardo considera um quadro não tão otimista: “É possível que em um sistema altamente complexo que continuamente armazena energia – como é o caso do planeta Terra com suas indubitáveis mudanças climáticas -, os eventos extremos passem a ocorrer de maneira mais frequente. Outra possibilidade é a ocorrência de eventos mais severos, cujo poder de destruição pode ser ainda maior.”
Apesar disso, não é possível ter algum tipo de padrão na ocorrência das ressacas: o professor aponta que é preciso levar em conta a localização geográfica, já que os eventos extremos de sistemas tropicais e os de latitudes médias têm características sazonais de ocorrência.
Já para Machado, o aquecimento das águas oceânicas pode aumentar a intensidade das ressacas: “Se pensarmos em águas mais quentes, elas irão favorecer a ocorrência de sistemas meteorológicos com maior intensidade. Logo, dependendo do aquecimento da água do mar no futuro, poderemos ter ressacas mais fortes”.