Sonda falha ao pousar em Marte, mas restaura debate sobre vida extraterrestre e colonização
O desejo de conhecer o que há além do planeta Terra sempre impulsionou a humanidade a criar tecnologias para desbravar o espaço e seus segredos.
Recentemente, um novo passo foi dado nos estudos extraterrestres. A Agência Espacial Europeia (ESA), em parceria com a Agência Espacial Federal da Rússia (Roscosmos), lançou, em março desse ano, a missão espacial não tripulada ExoMars 2016, que levou o Satélite Rastreador de Gás (Trace Gas Orbiter) e o módulo de descida ou sonda Schiaparell até Marte, a fim de investigar se existe ou já existiu alguma forma de vida no planeta.
Foram percorridos 500 milhões de quilômetros da Terra até a órbita do Planeta Vermelho, chegando no dia 19 de outubro para fazer o pouso em sua superfície, que, por um erro do computador não foi bem-sucedido.
Após a sonda separar-se do satélite, que ficou na órbita do planeta, os propulsores responsáveis pelo pouso, que deveriam funcionar por 30 segundos, ficaram ativos por apenas 3. Assim, todo equipamento caiu de 2 a 4 quilômetros em alta velocidade antes de bater em solo marciano.
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A missão
A Schiaparelli foi enviada a fim de captar dados atmosféricos, velocidade do vento, pressão, umidade e temperatura de Marte. Já o Satélite Rastreador de Gás passará os próximos anos ao redor do planeta, analisando gases, como o metano.
A obtenção dessas informações capturadas na missão ajuda na investigação da exobiologia ou astrobiologia (ciência que estuda possibilidade de vida extraterrestre e sua evolução), como diz o jornalista científico e editor do blog Mensageiro Sideral, Salvador Nogueira:
“Caso o orbitador da missão ExoMars consiga obter evidências de vida em Marte, isso sem dúvida terá o impacto imediato de acelerar e encorajar a busca por essas formas de vida, abrindo campo para toda uma nova área de pesquisa, a exobiologia. De resto, vai encorajar a discussão sobre maneiras seguras de enviar missões tripuladas a Marte sem evitar contaminação biológica — aqui e lá — e sobre a ética de proceder com a colonização do planeta vermelho, outro tema em franca discussão hoje que pode ser impactado pela descoberta de vida por lá”.
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Vista da formação “Kimberley” em Marte, feita pelo rover Curiosity da NASA (Imagem: NASA) |
Enquanto isso, na Terra…
Para tornar possível missões como essa, de exploração de outros planetas, aqui na Terra, além do trabalho dos cientistas, a relação política entre os países é importante para estabelecer parcerias.
“De forma geral, há boa coordenação entre os players internacionais na exploração científica de Marte, com colaboração intensa entre os países no planejamento e na execução das missões. Mas, claro, existe um benefício geopolítico de curto prazo, que é a projeção de força”, diz Salvador Nogueira.
Corrida Espacial
Historicamente, desde a Guerra Fria o desenvolvimento espacial marca disputa de poder entre nações. Hoje, enviar satélites, espaçonaves, astronautas e sondas para fora da Terra caracteriza capacidade econômica e tecnológica, como explica Salvador, com o exemplo da ExoMars:
“Ter sucesso em Marte é uma demonstração de capacidade tecnológica, com todas as implicações geopolíticas que isso significa. Especialmente marcante é o caso da Índia, que teve sucesso com sua primeira sonda orbital marciana, em 2014. A China tentará enviar uma sonda e um rover em 2020. Para esses países em particular, há um ganho geopolítico de prestígio que até mesmo se sobrepõe à ciência”.