Com mais de 3 mil horas de sol durante o ano, país não investe no desenvolvimento de novas tecnologias solares
(Foto: Giovani Blank/Flickr) |
A natureza fornece os suprimentos, mas cabe ao homem compreender e desenvolver maneiras de aproveitá-los com consciência, construindo uma parceria benéfica a ambos os lados.
Pensando assim, pesquisadores de todo o mundo têm se dedicado a estudos sobre energias renováveis, como é o caso do professor da Faculdade de Engenharia da UNESP, Alceu Ferreira Alves. Em 2008, Alves apresentou, como parte da tese de seu doutorado em Energia da Agronomia, um sistema aperfeiçoado de posicionamento de painéis solares.
Apesar de métodos semelhantes de posicionamento já existirem em países europeus e nos Estado Unidos, Alceu explica quais foram as inovações desenvolvidas: “a intenção foi contribuir para aumentar a eficiência destes sistemas, o que foi conseguido com a utilização de motores de passo (que funcionam em malha aberta, sem realimentação) e a não-utilização de sensores para localizar a posição aparente do Sol. Essas modificações apresentaram diversas vantagens, como baixa manutenção, maior simplicidade de implementação e menor custo, não interferência das nuvens ou sombreamentos indesejados, e um aumento de até 54% na geração de energia elétrica, quando comparado a um sistema sem movimentação”.
Segundo o professor, o sistema foi aperfeiçoado desde sua criação, porém, após um tempo, não houve investimentos para continuar a pesquisa. “Após a apresentação em 2008, fizemos algumas melhorias no sistema, substituindo o controlador por um microcontrolador, com o objetivo de diminuir custo e tamanho. Verificamos a aplicação da mesma tecnologia em sistemas de aquecimento de água, com bons resultados. Mas, a partir de 2012, deixamos de investir nessa pesquisa porque não houve interesse comercial de empresas para produzir no Brasil, e os resultados acadêmicos se esgotaram”.
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Mesmo com grande potencial – mais de 3.000 horas de sol brilhando durante o ano – a instalação e manutenção de sistemas de energia solar no Brasil ainda são pouco difundidas.
A democratização desses sistemas está distante devido a três fatores principais: a falta de incentivos econômicos do governo, os empecilhos criados pelas empresas tradicionais de energia e a mistificação de que essa fonte energética não é garantida.
Para que haja maior aderência das empresas e residências na implementação de energia solar, seria preciso medidas eficazes de apoio governamental, como a criação de uma tabela especial de impostos sobre os materiais e equipamentos importados necessários, além da disponibilização de linhas de crédito com baixos juros nos bancos, a fim de tornar atraente este investimento.
Hoje, a principal medida de incentivo é a Norma Resolutiva 482/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que auxilia na adesão da microgeração de energia – os sistemas instalados em casas.
Painéis solares com sistema de posicionamento desenvolvido na Unesp (Foto: Alceu Ferreira Alves) |
Essa norma prevê a troca de excedentes da energia gerada nas residências por descontos em futuras contas. Segundo o professor Alceu Ferreira Alves, essa medida fez com que os números de microgerações crescessem de 1.200 para 5.040 instalações, sendo 98% com energias solares.
Outro ponto importante é a utilização de recursos nacionais. Um dos elementos usados na fabricação de painéis fotovoltaicos é o silício, minério do qual o Brasil possui grandes reservas, apesar de comprar de outros países.
Desmistificar conceitos sobre energias renováveis é também um passo importante para a popularização de sistemas de energia solar. Ainda há certa descrença no funcionamento, no retorno financeiro dos investimentos e muitas dúvidas sobre a garantia da geração energia a partir dos raios solares.
É possível, entretanto, acreditar que, num futuro próximo, a utilização de energia solar crescerá, como defende o professor Alves: “hoje, a realidade brasileira e mundial apontam em outra direção. Brusca queda nos preços dos componentes fotovoltaicos, apelos ambientais, insuficiência de combustíveis fósseis para atender as demandas da humanidade nos próximos 30 ou 40 anos e altos preços da energia elétrica no Brasil, começaram a democratizar o acesso à energia solar, com o custo de investimento podendo ser recuperado em até 7 anos, passando a ser uma energia totalmente sem custo a partir deste tempo”.