Líquido é tóxico, mas pode ser benéfico caso seja proveniente apenas de material orgânico
Chorume no Aterro Sanitário de Bauru. Líquido escorre até tanques para não contaminar o solo, protegido por lonas (Foto: Marcos Cardinalli) |
Contaminação dos rios e lenções freáticos, mal cheiro e atrativo para animais vetores de doenças: o impacto do chorume no meio ambiente é alto, perigoso e pode ser maior do que nós podemos pensar.
“O chorume liberado de aterros sanitários ou lixões tem uma carga poluidora aproximadamente 30 vezes mais potente que a carga do esgoto sanitário”, alerta Guilherme Franceschini, professor e aluno de doutorado em Agronomia pela Unesp de Botucatu.
O chorume (também conhecido como líquido percolado) é o líquido escuro, mal cheiroso e altamente tóxico proveniente da decomposição de resíduos orgânicos, geralmente produzido em aterros sanitários ou lixões municipais.
Se não for coletado e tratado, esse líquido traz graves problemas para o meio ambiente. Segundo o professor Guilherme, o que torna o chorume altamente tóxico é o contato do líquido com resíduos como pilhas, baterias, remédios, latas com solventes e outros materiais que não deveriam ser destinados aos aterros sanitários.
Chorume drenado (Foto: Patsy Wooters/Flickr) |
Além disso, as substâncias tóxicas liberadas pelo chorume são muito prejudiciais à vida aquática dos rios, causando o fenômeno ecológico chamado eutrofização. “A liberação de nitrogênio e do fósforo nos rios pelo chorume alimenta as algas, gerando uma proliferação muito rápida delas. Assim, há uma demanda maior pelo consumo de oxigênio dissolvido no rio, e isso causa a morte de peixe e outros pequenos animais aquáticos”, explica o professor Guilherme.
A eutrofização dos rios é um dos principais riscos do chorume (Foto: Centre Presse) |
O chorume em Bauru
Marcelo Makino, engenheiro do departamento de Limpeza Pública de Bauru, conta que o aterro da cidade vem produzindo aproximadamente uma média que varia de 30 a 40 mil litros por dia em períodos de estiagem e até 60 mil litros por dia em períodos de chuva.
Tanque de chorume no Aterro Sanitário bauruense (Foto: Marcos Cardinalli) |
Porém, Marcelo salienta que esse volume de chorume é coletado por uma rede de drenagem e destinada à estação de tratamento de efluentes em outras cidades.
O preço do metro cúbico da destinação do chorume em Bauru passou por polêmica política em 2016. A Emdurb realizou uma nova licitação que baixou o preço do serviço de R$214 para R$140 por m³, conforme informou o Jornal da Cidade.
Soluções com o “chorume do bem”
De acordo com Guilherme, não é possível reaproveitar o chorume proveniente dos aterros. “Devido a presença de metais pesados e substâncias tóxicas, não é possível utilizar o chorume, pois ele iria poluir o solo e, posteriormente, as águas.”
A Gerente Ambiental de Resíduos Especiais e Aterro Sanitário da Emdurb, Alessandra Pinezi, explica que estão em andamento na CETESB cinco tecnologias para tratamento de chorume “in loco”, a fim de que se possa certificar a eficiência e viabilidade dos processos que futuramente possam ser instalados no local: “Quando for viável a utilização dessas novas tecnologias no local será possível reutilizar a água proveniente do processo, dependendo do índice de pureza resultante de cada procedimento”, conta a gerente.
Porém, há uma espécie de chorume com impactos positivos para o meio ambiente. Esse chorume é conhecido como o “chorume do bem” e é obtido através da compostagem do lixo orgânico. “A compostagem é absorção de matéria orgânica pela terra e pode ser considerada um processo de reciclagem de lixo orgânico”, comenta o designer de produto Vinícius Pereira de Oliveira que, em seu trabalho de conclusão de curso, desenvolveu um sistema de plantio e compostagem.
O sistema de Vinícius suporta até 6 kg de matéria orgânica. (Foto: Arquivo pessoal) |
A compostagem de alimentos orgânicos pode diminuir o volume do chorume nos aterros, além de produzir biofertilizante (fertilizante natural). “Se o chorume for resultado apenas da decomposição da matéria orgânica ele é um biofertilizante que, diluído em água, pode servir de adubo para o solo”, explica Franceschini.
Gostou do assunto? Não pare por aqui! Tem mais:
Precisamos falar sobre lixo – os problemas do aterro e do lixo em Bauru
Jogue lixo no lixo – mas que lixo? A falta de lixeiras públicas na cidade
Onde os bauruenses podem levar o lixo que não é o comum?
Quer ler sobre algo diferente? Que tal…
Uma resenha de um documentário?