A privatização evitará a falta d’água?

Empresários defendem cobrar pela água para evitar o seu desperdício pela população


ilustração de uma torneira pingando com uma placa de valor
(Ilustração: Mirna Encinas/Impacto Ambiental)

Anúncios constantes lembram da importância da água para todos os seres vivos, e que esta deve ser preservada, devido a falta d’água ser uma realidade e um problema mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), atualmente 40% das pessoas no mundo são afetadas pela falta do recurso, e em 2025 cerca de 1,8 bilhões de pessoas viverão em locais com escassez absoluta de água.

No Brasil, segundo dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS), em 2011 o acesso à água atingiu 82,4% da população. Entretanto, o índice de perda no processo de tratamento e distribuição chegou a alarmantes 38,8%. Com esse desperdício, seria possível abastecer os 17,6% que não possuem água encanada.

A privatização como proposta contra o desperdício

Como solução para o problema do desperdício, um problema mundial, alguns empresários defendem a privatização dos recursos hídricos. Assim, a água deveria ser tratada como qualquer outro bem alimentício, regulada pela lei da oferta e da procura. Desta forma, as pessoas sentiriam no bolso e evitariam o desperdício.

O presidente da Nestlé, Peter Brabeck-Letmathe, em um polêmico vídeo na internet, em alguns anos atrás, expõe algumas opiniões pessoais a respeito da água. Apesar de vários outros pronunciamentos posteriores, tentando explicar suas posições e dizendo que vê a água como um direito de todos, afirma que medidas devem ser tomadas contra o desperdício desse recurso. Ele defende que o uso da água seja cobrado. ”Só assim empreenderíamos ações para limitar o consumo excessivo da água, como ocorre no momento”, afirma.

Contudo, de acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), os cidadãos são os menos culpados em relação ao desperdício da água. Segundo o FAO, 70% do consumo de água doce no mundo é destinado à agricultura, sendo que há desperdício de 50% de toda água usada. As indústrias utilizam 22% e apenas 8% da água é consumida diretamente pelos cidadãos.

Além disso, a Nestlé é líder mundial do mercado de águas engarrafadas, segundo a própria empresa. Nos últimos anos, algumas reservas brasileiras foram vendidas à Nestlé, como é caso do Parque das Águas em São Lourenço – MG. A água da cidade é famosa pelas suas propriedades medicinais, que são usadas no tratamento de anemia. Neste local, a empresa é acusada de purificar a água e adicionar sais com sua patente, o que é proibido por constituição.

Mesmo a empresa apresentando a sua preocupação com a preservação da água como um dos seus principais valores, é muito criticada por movimentos ambientalistas. O jornal suíço Swissinfo.ch cita a polêmica envolvendo as fontes de São Lourenço na matéria “Há uma exploração predatória das águas subterrâneas“.

(Foto: Marcos Cardinalli/Impacto Ambiental)

Não à privatização!

Por esse tipo de atitude das empresas privadas, que colocam o lucro acima de fatores sociais, existem os que são totalmente contrários a privatização. Estes defendem que o governo deve oferecer acesso universal à água, considerando que a água é um patrimônio público.

Riccardo Petrella, economista e cientista político, em entrevista concedida ao site do Instituto Humanitas Unisinos, afirma que ”a água é um bem essencial e insubstituível à vida, e não se pode, por isso, confiar o poder de decisão a seu respeito a indivíduos privados.”

O especialista em recursos hídricos, Mauri Pereira defende que a privatização só irá restringir o acesso ao recurso. ”Creio ser descaso com os mais desfavorecidos afirmar que a água deve ser mais limitada do que já é pelas características naturais de algumas regiões que não contam com água em quantidade suficiente para as comunidades”, afirma.

Mauri Pereira, explica ainda, que não se deve confundir a privatização da água natural com a privatização dos serviços prestados: ”uma coisa é privatizar a água bruta que estão nos rios, lagos e aquíferos, outra é o serviço prestado mediante uma autorização dada pelo Estado para a captação, tratamento e distribuição da água.”

Texto: Lucas Zanetti

Leia também:
A batalha pela água: o rio que abastece Bauru está secando!
COWSPIRACY: quem é culpado pelo aquecimento global?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *