Bahia registra tremores de terra

A região passou por um fenômeno chamado enxame sísmico

A imagem mostra um fundo branco. No lado direito, está desenhado o planeta Terra - uma figura redonda, azul escuro e a América do Norte e do Sul está virada para a frente. A América do Sul está toda verde, com a lateral inferior esquerda amarronzada. A América do Norte está com a parte de baixo marrom mas a parte superior está branco, simbolizando neve. No lado esquerdo, há uma linha preta encontrando um ponto vermelho no centro abaixo dela. A linha preta simboliza os movimentos que a Terra faz.

Tremores na região desafiam senso comum de um país livre de terremotos. Foto: Pixabay


Por Laís David de Souza

No fim do mês de agosto, o Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) registrou cerca de 14 abalos sísmicos na região de Amargosa, na Bahia. Os tremores chegaram a magnitude de 4,6 na escala Richter, derrubando prateleiras, assustando moradores e danificando alguns imóveis no local.

Embora o acontecimento tenha assustado a população de Amargosa, os pesquisadores estão familiarizados com esses eventos. Para a Geologia, uma grande quantidade de tremores de terra em uma mesma região em um curto período de tempo se chama “enxame sísmico”. 

A imagem mostra uma foto de um telhado com telhas quebradas e uma parte da parede faltando devido aos tremores de terra. É uma casa com paredes rosas e brancas, as telhas são marrons e há uma estrutura de madeira por baixo.

Os enxames sísmicos danificaram residências na Bahia. Foto: EDSON ANDRADE/DICOM PREFEITURA DE AMARGOSA


Segundo o professor de Geologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Ticiano José Saraiva, terremotos ocorrem porque a Terra possui uma camada externa rígida, chamada litosfera – que divide-se nas 14 principais placas tectônicas que compõem o globo. Ela flutua sobre outra camada chamada astenosfera (localizada entre 100km e 300km abaixo da superfície terrestre) sob forte tensão, até que não suporta mais e se rompe.

“A ruptura provoca deslocamento de massa, ao longo de uma falha, e a consequente liberação da energia acumulada. Isto é o terremoto. A energia liberada se propaga pelo interior da Terra, na forma de ondas sísmicas’’, diz José Saraiva.

 

A partir dos abalos sísmicos, as placas formam montanhas, cordilheiras, vulcões, dorsais, fossas oceânicas, entre outros fenômenos geológicos.

A imagem mostra todas as placas tectônicas do mundo. Estão divididas por localidades. Cada lugar possui uma cor. Europa e Ásia de verde, América do Norte e Central de marrom, Austrália de laranja claro, América do Sul de roxo, África de rosa salmão, a Índia de vermelho e a Antártica de azul.

As placas tectônicas dividem a litosfera. Foto: USGS 


A divisão da litosfera possibilita os diferentes movimentos no magma. As placas tectônicas formam diferentes encontros: o divergente (de separação), o convergente (de choque) e o transformante (movimento lateral). Países no encontro de placas são os que mais sofrem com terremotos, como Chile ou Japão.

Para quantificar a magnitude de um terremoto, se utiliza a escala Richter, criada pelo sismólogo estadunidense Charles Richter. Os valores da escala medem a magnitude e a energia liberada de um abalo sísmico. Ela é tecnicamente infinita, mas nunca foi registrado um terremoto acima dos dez graus.

A imagem mostra um infográfico que explica sobre a Escala Ritcher. Ela diz “Os sismólogos usam a escala Ritcher para representar a energia sísmica liberada por cada abalo sísmico. Veja abaixo uma tabela com os efeitos comuns de cada terremoto em cada nível de magnitude: Menos de 3,5 Geralmente não é sentido, mas pode ser registrado. Entre 3,5 e 5,4 Não se sente frequentemente, mas ainda pode causar pequenos danos. De 5,5 a 6 Já ocasiona pequenos danos em edifícios e construções. De 6,1 a 6,9 Pode causar graves danos em regiões muito populadas. Entre 7 e 7,9 Terremoto de grande escala e danos graves.A partir de 8 Terremoto muito forte que causa destruição total. Não existe um número limite máximo de graus Ritcher.”

A escala Richter quantifica abalos sísmicos. Foto: Bruno Mael


TERREMOTOS NO BRASIL

O Brasil é comumente associado a um país livre de terremotos. Contudo, ao contrário do que muitos imaginam, o Brasil sempre sofreu com abalos sísmicos.

O geólogo e professor da UNICAMP Wagner Amaral afirma que: 

“O Brasil registra diversos tremores de terra por meio de abalos sísmicos que ocorrem, praticamente, toda semana em nosso território. Contudo, a magnitude destes sismos são baixas, inferiores a 3,0 [na escala Richter]. Portanto, são imperceptíveis para a maioria da população”. 

 

Amaral comenta que o Brasil se encontra em uma parte privilegiada da litosfera. Diferente de países como Peru e Argentina, que ficam perto do encontro de placas, o Brasil se localiza no meio da placa Sul-Americana, deixando de sofrer com choques tectônicos divergentes ou convergentes.

No entanto, o território brasileiro é formado por diversas falhas geológicas, favorecendo a ocorrência de tremores de terra em áreas específicas. A reativação das falhas movimenta as rochas, causando os terremotos, como, por exemplo, em Amargosa.

Em entrevista ao Impacto Ambiental, a professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Beatriz Paschoal explica que existem regiões mais propícias aos tremores de terra. O Nordeste e o Sudeste têm mais registros de tremores em comparação aos outros estados. Isso acontece por serem regiões com falhas mais jovens do que as outras.

O estudo da sismologia brasileira ainda é recente: poucas universidades a estudam com profundidade. No Brasil, destacam-se o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo e o Laboratório Sismológico da Universidade do Rio Grande do Norte. O governo brasileiro também fundou, em conjunto com tais universidades e a Petrobras, a Rede Sismográfica Brasileira, que monitora o território em busca de tremores.

A imagem mostra os registros dos sete maiores terremotos que já aconteceram no Brasil. Do lado direito, mostra um mapa do Brasil com os estados delimitados em linhas brancas, a cor do país é verde e tem um destaque para as cidades que os terremotos foram sentidos. Na imagem está escrito: São Vicente - São Paulo em 2008, 5,2 graus escala Ritcher. Divisa entre Acre e Amazonas em 2007 6,1 graus escala Ritcher. Itacarambi - Minas Gerais em 2007 4,9 graus escala Ritcher. Pacajus - Ceará em 1980 5,3 graus escala Ritcher. Em João Câmara - Rio Grande do Norte em 1980 5,1 graus escala Ritcher. Em Vitória - Espiríto Santo em 1955 6,3 graus escala Ritcher. e Serra do Trombador - Mato Grosso em 1955 6,6 graus escala Ritcher.
Maiores terremotos do Brasil. Foto: Bruno Mael/Revista Exame

O PRIMEIRO GRANDE TERREMOTO

Apesar dos estudos sismológicos serem recentes no Brasil, o primeiro grande terremoto no país foi registrado em 1690, pelo padre jesuíta Samuel Fritz. Ele percorria o território amazonense quando registrou, em seu diário, um grande tremor de terra.

De acordo com os relatos de Fritz, as árvores de troncos grossos foram arrancadas do solo e voaram para o rio, e algumas partes altas de relevo desmoronaram, juntando-se à pedras e à árvores amontoadas nas margens.

A imagem mostra uma pintura a óleo. Na cena, mostra um rio de cor azul revolto e ao lado árvores caindo dentro da água. As árvores são verdes e os troncos marrons.

Pintura de Marlene Costa ilustra o possível terremoto no Rio Amazonas. Foto: Amazônia Real/Marlene Costa


Analisando os escritos de Fritz, o pesquisador e professor aposentado da Universidade de Brasília, Alberto Veloso, publicou, em 2014, o artigo “Nas pegadas do maior terremoto da Amazônia brasileira”. O texto considera o terremoto relatado por Fritz como o maior evento sísmico já registrado na história do Brasil.

No artigo, o professor estima que o terremoto chegou a 7 graus da escala Richter, destruindo construções indígenas e derrubando a natureza em torno do Rio Amazonas. Estudos com o de Veloso confirmam o que cientistas já afirmam há muito tempo: o Brasil está longe de ser um país livre de abalos sísmicos.

Edição: Maria Eduarda Vieira
Revisão: Anna Araia, João Macruz e Maria Eduarda Vieira

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