Esgoto em praia do Rio de Janeiro revela dimensão do problema no saneamento básico na cidade

A mancha vista em uma das praias do Rio é um indicador de que a questão do tratamento de esgoto pode estar saindo do controle

Mancha vista próximo à Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/Mário Moscatelli

Por Isabele Scavassa

Na primeira semana de agosto alguns veículos noticiaram o aparecimento de uma grande mancha no mar próximo à Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Isso se deve a um vazamento de esgoto oriundo do canal da Joatinga.

A situação fica mais evidente quando a maré está baixa, situação que pode perdurar por aproximadamente cinco dias. O que inicialmente atinge apenas a região indicada, pode afetar as Ilhas Tijuca e até mesmo a praia de São Conrado, caso não seja tratado.

O saneamento, ou a falta dele, é uma questão frequente em centros urbanos, mas também tem reflexos em regiões litorâneas, como no caso do Rio. Segundo um estudo produzido pela Agência Nacional de Águas (ANA), o esgoto gerado por 45% de toda a população brasileira ainda não possui qualquer tipo de tratamento. Outras pesquisas indicam que só em 2017, a quantidade de esgoto lançada na natureza foi o equivalente a 5.622 piscinas olímpicas.

Um caso muito conhecido pela poluição de águas é o da Baía de Guanabara, que atingiu grandes proporções de contaminação. Em uma matéria produzida pelo jornalista João Lara Mesquita, foi relatado que dentre os 55 rios que deságuam na Baía, 50 tornaram-se esgotos a céu aberto.

Saindo das águas cariocas e partindo para outro clássico quando o assunto é poluição, tem-se o Rio Tietê. Em 2019, 163 km de trecho do rio eram atingidos por poluentes. Ainda foi registrado que a mancha continuava crescendo, chegando a contabilizar um aumento de 34% no último ano.

Esses problemas relacionados ao esgoto que englobam tratamento e coleta de lixo, dizem respeito à falta de planejamento e investimento nesse aspecto. No entanto, também levantam questionamentos a respeito do crescimento desordenado em áreas urbanas.

O engenheiro ambiental Marcos Rocha comenta ao Impacto Ambiental que se a disponibilidade de água tratada e coleta de esgoto para regiões regularmente urbanizadas já tem sido insatisfatória, a situação se agrava ainda mais, por diversos motivos, quando se trata das favelas. 

A ocupação desordenada, o relevo acidentado e toda falta de infraestrutura urbana, faz com que as dificuldades em se levar saneamento básico a quem mais precisa sejam triplicadas.

Consequências do vazamento de esgoto e possível solução

São muitas as consequências do vazamento de esgoto, não só para banhistas, mas para a população no geral. O perigo de proliferação de bactérias, vírus e fungos são altos, e vivenciando uma pandemia, é de conhecimento da maioria o que uma propagação de micro-organismos pode causar.

Mesmo que o banhista não perceba evidentemente, quando acontece o contato do esgoto com o mar, a água fica contaminada e isso pode ocasionar problemas de saúde.

Para a natureza e a biodiversidade que compõem aquela área, o desprezo do esgoto pode ser fatal. O engenheiro fala sobre a eutrofização, um fenômeno em decorrência da poluição

“Os rios e mares contaminados com esgoto possuem um desequilibrado aumento na quantidade de resíduos sólidos, matéria orgânica e nutrientes que podem levar ao fenômeno da eutrofização, que diminui a disponibilidade de oxigênio dissolvido, impede a passagem de luz, comprometendo toda fauna aquática”, explica.

Ainda sobre os efeitos negativos para a biodiversidade, ele diz que “O consequente aparecimento de peixes mortos, inicia processos de decomposição, aumentando mais ainda a disponibilidade de matéria orgânica, reiniciando todo processo. Em determinado ponto de baixa de oxigênio dissolvido o rio pode ser considerado como morto, se comportando apenas como um canal de esgoto a céu aberto”, acrescenta o engenheiro.

A solução é reforçar a tarefa de investir no saneamento. Para Marcos, esse aspecto é fundamental “O Brasil precisa avançar nesta questão. Principalmente seus estados mais ricos, Rio de Janeiro e São Paulo. Garantir saneamento básico a 100% da população é respeitar o meio ambiente, mas muito mais do que isso, é respeitar a dignidade de cada cidadão, de cada ser humano. Isso significa ter vontade política e, sobretudo, investimento”, relata.

Edição: Nayara Delle Dono

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