Veja a maneira que as vacinas revolucionaram a humanidade e o impacto negativo do negacionismo científico
Foto: Nicolas Asfouri/AFP/Getty Images |
Por Laís David de Souza
Os últimos meses foram conturbados para a comunidade científica. A humanidade deparou-se com o coronavírus, que se propagou rapidamente pela população mundial, tornando a corrida para uma vacina acirrada. Todos os países procuram achar a tão desejada imunização contra o vírus.
Vacinas são substâncias feitas de agentes patógenos – como vírus e bactérias – modificados geneticamente. Quando aplicados dentro do corpo humano, esses agentes estimulam as células a criar anticorpos contra a doença. Assim, o corpo desenvolve uma memória imunológica que reconhece o vírus antes de uma maior contaminação. Mas, nem sempre foi fácil proteger-se de uma simples gripe ou caxumba.
O professor e pesquisador Fábio Trindade Costa, doutor em Microbiologia e Parasitologia pela UNIFESP, estuda há anos o sistema imunológico. “A varíola dizimou na colonização das Américas boa parte da população nativa. Em 1950, existiam 50 milhões de casos de varíola no mundo”, explica ele.
Em 1796, a primeira vacina do mundo foi criada pelo cientista Edward Jenner. Ele extraiu o pus de uma vítima da varíola e o inseriu no corpo de um jovem saudável. Após uma semana, Jenner introduziu novamente o pus no corpo do jovem e, como nada aconteceu, constatou que o rapaz se tornou imune à varíola.
De acordo com Trindade Costa, foi a partir da descoberta feita por Jenner que as taxas de mortalidade passaram a diminuir, com a varíola sendo erradicada em 1979. O professor afirma: “a varíola é um grande exemplo de eficiência das vacinas”. Desde então, as vacinas são imprescindíveis para a saúde da população.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece 19 vacinas para mais de 20 doenças, aplicadas em todo território brasileiro gratuitamente. Dessa forma, foi possível erradicar doenças contagiosas como a rubéola e a poliomielite – a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 3 milhões de vidas são salvas todos os anos por causa das vacinas.
Foto: Divulgação/SUS |
Entretanto, os avanços na ciência sofrem constantes ameaças. O movimento antivacina defende que vacinas são prejudiciais contra o corpo humano e podem causar problemas, como o desenvolvimento do autismo.
O Brasil, apesar de ser considerado um exemplo de cobertura de vacinação por profissionais de saúde, já teve uma realidade um pouco diferente: um dos maiores movimentos contra a vacina aconteceu na antiga capital do país, o Rio de Janeiro, em 1904.
A Revolta da Vacina foi consequência da política de Pereira Passos, então prefeito do Rio de Janeiro, que decidiu modernizar a cidade. Uma das medidas foi chamar o sanitarista Oswaldo Cruz para comandar a campanha de vacinação obrigatória. Na época, era comum a transmissão de doenças como febre amarela, varíola e peste bubônica.
Ao mesmo tempo, Passos promoveu a destruição os cortiços do centro da cidade. Os mais pobres foram obrigados a se retirar para os morros e regiões periféricas. Com a chegada do movimento sanitarista, ficaram ainda mais descontentes com a postura violenta das autoridades. Os agentes não explicavam para a população a necessidade e a importância de ser vacinado.
“A população, desinformada, não tinha conhecimento de como funcionavam as vacinas e quais eram os seus efeitos. Logo, ninguém queria tomar essa vacina”, explica o professor de História do cursinho pré-vestibular Objetivo, Bruno Rezende.
Entretanto, a ideia atual do movimento antivacina teve início quando o médico britânico Andrew Wakefield publicou um artigo que relacionava o autismo à vacina da tríplice viral. As ideias de Wakefield contribuíram com a desinformação e a mobilização contra as vacinas.
Segundo o professor Fábio Trindade, o movimento antivacina possui um forte caráter anticiência, comparando que quanto menos as pessoas recebem informações científicas, mais movimentos como esse crescem. Sem a imunização das pessoas, doenças erradicadas podem voltar a existir.
Protesto contra a vacinação na Califórnia, Estados Unidos. Foto: Mark Ralson/ATP |
Um inimigo invisível como o negacionismo da ciência pode causar consequências inimagináveis. Mas existe um grande diferencial entre a Revolta da Vacina, e o atual movimento contra a vacinação: o acesso à informação.
A defesa da ciência, o apoio aos profissionais da saúde e a divulgação de pesquisas científicas contribuem para combater a desinformação e as fake news.