Consciência ou espetáculo? A problemática da exposição de animais

Como a cultura do espetáculo coloca em perigo o mundo animal



Apelidado como “o urso polar mais triste do mundo”, Arturo morreu em um zoológico da Argentina, depois de mais de 20 anos em cativeiro (Ilustração: Damivago)

Recentemente, casos de extermínio animal chocaram a população em âmbito global. O descaso humano com a vida de animais selvagens resultou em mortes de espécies em extinção.

Em maio de 2016, dois leões provindos da África foram assassinados no Zoológico Nacional do Chile, após um homem tentar suicídio entrando em suas jaulas. A diretora do zoológico, Alejandra Montalva, justificou as mortes como protocolos de segurança quando a vida de uma pessoa está em risco.


No mesmo mês, outro animal foi sacrificado. O gorila Harambe levou tiros após uma criança de três anos cair em sua jaula, em um jardim zoológico em Cincinnati, nos Estados Unidos.

As aves voam quilômetros de distâncias, mas em cativeiro, são impedidas de voar. Na foto, arara no Zoológico de Bauru (Foto: João Pedro Ferreira/Impacto Ambiental)

A tocha olímpica visitou Manaus no dia 20 de junho, um mês depois do caso no zoológico norte-americano. Uma cerimônia com o intuito de celebrar a união entre os povos teve um triste desfecho. Os organizadores dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016 utilizaram duas onças-pintadas, animais selvagens e símbolos da corporação, no momento de revezar a tocha. Juma, uma das onças, tentou fugir e foi abatida.

O zoológico de Mendoza, na Argentina, sofreu a perda de urso polar, em julho desse ano. Arturo, de 31 anos, foi levado dos Estados Unidos à Argentina, há 23 anos. O zoo argentino já havia sido fechado ao público em junho, após a morte de 64 animais em função da superlotação e bactérias.
Dentro de três meses, quatro animais morreram devido ao descuido do homem, que os enjaularam para o seu divertimento. A indústria do entretenimento emprega animais para o próprio lucro, ignorando os danos irreversíveis que causa. A busca por diversão em rodeios, zoológicos, circos e parques aquáticos promove um ciclo extremamente prejudicial aos bichos. 
Girafa no Zoológico de São Paulo (Foto: Isabel Silva/Impacto Ambiental)

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É coisa antiga

Historicamente, animais são utilizados como entretenimento desde a Roma Antiga. A prática continua, porém, com formatos diferentes; o Coliseu foi substituído por maneiras viáveis de obter ganho.
Mesmo que, em grande parte dos municípios, existam leis que proíbem o uso de animais como atrações circenses, a prática ainda é comum e pouco denunciada.
Nos zoológicos, animais são mantidos em cativeiro e impedidos de socializarem, o que gera uma exaustão física e mental. Há casos em que zoológicos são acusados de doparem “seus” animais para os visitantes tocarem e tirarem fotos, como é o caso do Zoo de Lujan, na Argentina. 
Os parques aquáticos são outro lugar que se mantém através da exploração de animais marinhos. Golfinhos e baleias são mantidos em cativeiro, sofrendo estresse desde quando capturados até o fim de suas vidas.
No Brasil, é muito comum a utilização de bois, cavalos e bezerros em rodeios. As provas do rodeio são constituídas em uma pessoa sustentando-se o maior tempo possível no animal, enquanto ele se contorce violentamente. Outra atividade comum é enlaçar os novilhos, mesmo que isso signifique machucá-lo. 
Tigre no Zoológico de São Paulo (Foto: Isabel Silva/Impacto Ambiental)

Sociedade do Espetáculo


O Professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, Antônio Mendes da Costa Braga, questiona sobre o relacionamento do homem com o meio ambiente. “Começamos a nos dar conta que estamos em meio a um processo de divórcio entre nós e a natureza. Mas o paradoxo é que também somos natureza. E sem natureza não podemos ser o que somos”, afirma.

O conceito de ‘sociedade do espetáculo‘ gera uma inversão das relações sociais, buscando, através do consumo de imagens, o estabelecimento de diálogo. Quando o discernimento entre realidade e fantasia acaba, a noção de valores é corrompida e a espetaculização substitui a consciência humana.
“Como nós, os animais não podem ser tratados como coisas. E esta é uma forma de perceber os outros animais, o que se reverte em ações politicas, ético-morais e econômicas. Em suma, vem propondo, através de ações, novas bases para a relação entre os seres humanos e os animais não-humanos”, conclui Braga.

Veja mais fotos de animais nos Zoológicos de Bauru e de São Paulo:
Cativeiro Animal – Bauru
Cativeiro Animal – São Paulo

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