Cruelty Free: uma alternativa aos testes realizados em animais

Cada vez mais empresas estão começando a adotar o método sem crueldade no desenvolvimento dos seus produtos



Testes são feitos principalmente em coelhos, cachorros e camundongos. Foto: pixabay/ @geralt.

Cruelty Free é um termo em inglês que significa “livre de crueldade” e é utilizado para designar marcas que não fazem testes dos seus produtos em animais, não utilizam ingredientes (dos fornecedores) previamente testados em animais e não usam componentes que venham de origem animal.


O PEA (Projeto Esperança Animal), define como teste em animais “todo e qualquer experimento com animais cuja finalidade é a obtenção de um resultado seja de comportamento, medicamento, cosmético ou ação de substâncias químicas em geral. Geralmente os experimentos são realizados sem anestésicos, podendo ou não envolver o ato da vivissecção (dissecação de animais vivos para estudos). Fundada em 1980, a ONG PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), já tem mais de 2 milhões de ativistas e seu lema é: “os animais não são nossos para comer, usar, fazer experiências ou para entretenimento”.

O portal vegano de notícias, Vista-se, fornece listas para que o público consulte se uma empresa testa ou não em animais. De acordo com o site, marcas como: Avon, Dove, MAC, Mary Kay, Maybelline, Sephora, L’Oréal Paris, Unilever, Johnson & Johnson, Colgate-Palmolive, P&G, Pantene, Nivea, entre outras, realizam testes em animais.

Já marcas como Acquaflora, Embelleze, Impala, Inoar, Lola Cosmetics, Lush, Mahogany, Natura, O Boticário, Phytoervas, Racco, Quem disse, Berenice?, Skala, Vult, Yamá, entre outras, não testam.



Protetor solar Needs, marca que não realiza testes em animais/ Foto: Rafaela Fernanda.

Os Beagles do Instituto Royal

É importante relembrar um caso muito importante ocorrido em setembro de 2013, no qual cerca de 120 pessoas protestaram e invadiram o Instituto Royal, em São Roque (SP), resgatando 178 cães da raça beagle após denúncias de maus-tratos aos animais que eram usados em pesquisas e testes de produtos farmacêuticos.

Além dos cachorros, coelhos e 200 camundongos também foram levados pelos ativistas. Os manifestantes acusaram o Instituto Royal de utilizar métodos cruéis na realização dos experimentos.
De acordo com o PEA, esses são alguns dos testes mais realizados em animais:
Olhos: nesse teste, os elementos são aplicados nos olhos dos animais para analisar a reação das substâncias químicas dos produtos de limpeza e cosméticos. Geralmente, coelhos são os animais mais usados nesses testes, pois são baratos, fáceis de manusear e seus olhos grandes facilitam a observação dos resultados.
Pele: o animal é imobilizado enquanto substâncias são aplicadas em suas peles raspadas e feridas (fita adesiva é pressionada firmemente na pele do animal e arrancada violentamente; repete-se esse processo até que surjam camadas de carne viva). As substâncias são aplicadas então à pele tosada do animal. O teste observa os sinais de enrijecimento cutâneo, úlceras, edema, etc.
Pesquisas Dentárias: os animais são forçados a ingerir quantidades enormes de açúcares durante três semanas ou têm bactérias introduzidas em suas bocas para estimular a decomposição dos dentes. Então são submetidos aos testes odontológicos, nos quais muitas vezes as gengivas dos animais ficam descoladas e a arcada dentária removida.
Testes de Toxidade Alcoólica e Tabaco: neste teste, os animais são obrigados a inalar fumaça e se embriagar, para depois serem dissecados, visando o estudo dos efeitos das substâncias no organismo.

Métodos alternativos

A Neavs (New England Anti-Vivisection Society), uma ONG norte americana fundada em 1895, defende que testes alternativos podem ser mais confiáveis do que testes em animais e apresenta algumas alternativas, entre elas: métodos de teste in vitro (tubo de ensaio), modelos baseados em culturas de células e tecidos humanos, bancos de dados informatizados sobre drogas e ensaios de drogas virtuais, modelos de computador e simuladores, métodos de células-tronco entre outros.

Para o PEA, há também alternativas para os testes em animais feitos no meio acadêmico. De acordo com a organização, “a adoção de métodos alternativos mantém a educação atualizada e sincronizada com o progresso tecnológico, com o desenvolvimento de métodos de ensino e contribuem para o pensamento ético.


Empresa Cruelty Free

Representantes da empresa brasileira cruelty free Lola Cosmetics, concederam uma entrevista para o Impacto Ambiental e afirmam que o motivo pelo qual muitas empresas ainda insistem em fazer testes em animais “é uma opção financeira, sem contar a questão ética. A empresa de cosméticos ressalta a importância do público em pressionar o mercado cada vez mais para que os testes em animais acabem: “as marcas que são cruelty free e veganas têm o orgulho de dizer, mas acreditamos que o consumidor tem um papel muito importante em questionar e se informar sobre o produto que usa, conhecendo seus ativos, ingredientes e o posicionamento da marca”.

“Nossos produtos e ingredientes não são testados em animais”. Embalagem do Dream Cream da Lola Cosmetics/ Foto: Rafaela Fernanda.
Uma das dificuldades que mais enfrentam por ser uma marca que não testa em animais é o custo de obter matérias primas que não tenham origem animal, assim como os testes em laboratórios especializados que não testam em animais.

Ainda é difícil encontrar produtos veganos no Brasil, e é muito legal ver que alguns consumidores chegam até à Lola justamente por isso. O mercado está mudando.

Para Mariana Martins Pereira da Cunha, de 22 anos, estudante de Engenharia Elétrica na UNESP de Bauru (SP), é fácil encontrar listas de produtos ou grupos na internet em que as pessoas conversam e trocam informações sobre esse assunto. Ela afirma que usa produtos cruelty free desde que decidiu se tornar vegetariana em janeiro de 2010. “Passei a ler sobre como ajudar os animais e o meio-ambiente de uma maneira que estava ao meu alcance.”
De acordo com Mariana, para reverter essa situação “o primeiro passo é se informar através de artigos, vídeos e documentários que são facilmente encontrados na internet – o site da PETA é uma ótima fonte, por exemplo. Em segundo, ir procurando os produtos nos mercados e farmácias que o consumidor frequenta para ver se a opção agrada e é economicamente viável. Em terceiro lugar, é ir substituindo aos poucos os produtos já usados pelos produtos cruelty free.

A dificuldade é que dependendo do produto não se encontra muitas opções de marca ou fabricante, o que pode levar a um preço mais alto. A facilidade é que a procura das pessoas por produtos cruelty free vem crescendo e as marcas estão tentando se adaptar, tornando mais fácil encontrar esses produtos em mercados e farmácias.

A universitária conclui dizendo que animais são dotados de senciência, ou seja, eles são capazes de sentir dor e prazer, tendo consciência e sensibilidade. “Com a utilização de produtos não testados em animais, eu me tornei uma consumidora mais consciente que sabe a origem e a composição do que usa e eu acabo comprando de marcas menores e independentes.”
Apesar da legislação brasileira não obrigar os fabricantes a informarem em seus rótulos se testam ou não em animais, é muito importante procurar saber essa informação. Algumas embalagens não apresentam símbolos, apenas a frase “Não testado em animais”. O consumidor pode entrar em contato direto com o SAC das empresas e questionar se são cruelty free ou não.



Edição: Ingrid Watanabe


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *