Saiba como o presidente eleito promete revolucionar a defesa do meio ambiente e combater as mudanças climáticas
Biden promete priorizar o meio ambiente em seu governo. Arte: Bruno Mael |
Por Laís David de Souza
Os Estados Unidos são um dos países mais poluentes do mundo: só em 2018, o país produziu 6,677 milhões de toneladas de gases poluentes. A revista Nature quantifica que a pegada de carbono média – ou seja, a quantidade de poluentes soltas no ar por uma única pessoa em sua atividade diária – de um cidadão estadunidense chega a 20 toneladas, valor cinco vezes maior do que a média mundial, de 4 toneladas.
Estados Unidos é um dos países que mais emitem gases poluentes no mundo. Foto: Dane Rhys/Bloomberg
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Sendo a maior potência mundial e com uma população de mais de 330 milhões de habitantes, as decisões tomadas por líderes estadunidenses afetam todo o planeta. Dentre as diferenças entre Joe Biden e seu antecessor, Donald Trump, a agenda ambiental é uma das mais divergentes. Em seus 4 anos de mandato, Trump não priorizou o meio ambiente, revertendo centenas de políticas públicas ambientais e apoiando o uso de combustível fóssil, fonte de energia não renovável e poluente.
Em entrevista ao Impacto Ambiental, o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Armando Gallo Yahn Filho, afirma que a mudança na perspectiva ambiental dos Estados Unidos impacta todo o planeta e fomenta o debate sobre políticas ambientais.
“Com Joe Biden na presidência, a mudança de posição na política externa dos EUA, pode ajudar a resgatar a força do debate ambiental no plano internacional, uma vez que os Estados Unidos servem de modelo para muitos países”, explica Yahn Filho.
Plano Climático de Joe Biden
O plano climático trilionário de Joe Biden é considerado a mais avançada campanha climática de um presidente americano. Em primeiro lugar, Biden pretende reverter as políticas ambientais que sofreram retrocesso na presidência de Donald Trump.
Um dos primeiros planos de Joe Biden é retornar ao Acordo de Paris, um tratado de resposta às mudanças climáticas que vêm aumentando a média da temperatura global, assinado no segundo mandato de Barack Obama. Donald Trump removeu formalmente os Estados Unidos do acordo no início de novembro do ano passado, anos após o anúncio original de saída, em junho de 2017.
Biden planeja se afastar gradualmente da indústria petrolífera e investir em indústrias de energia limpa, reduzindo as emissões de carbono. Incentivando as inovações comerciais dentro da indústria de energia, o democrata pretende zerar a emissão de carbono no país até 2050.
O presidente eleito investirá na indústria de carros elétricos. Todas as cidades estadunidenses com mais de 100 mil habitantes, de acordo com Biden, terão transporte público com zero emissão de carbono.
Carros elétricos são a aposta de Joe Biden para se distanciar da indústria petrolífera. Foto: iStock/Plargue Doctor
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“Esta reconstrução é uma retomada de compromissos, tanto que o próprio Biden enfatizou esta agenda ao declarar que a ‘America is back’ [América está de volta, em português]: Para as mudanças climáticas isso representará maior ativismo, engajamento e liderança. A indicação de John Kerry como representante do governo norte-americano nesta área é relevante e indica que o tema será prioritário para Biden.”
John Kerry foi indicado por Biden para compor a primeira cadeira do Conselho de Segurança Nacional reservada à sustentabilidade e ao meio ambiente. Candidato à presidência americana em 2004, Kerry é diplomata e representou o governo estadunidense em 2015 ao assinar o Acordo de Paris.
Joe Biden (esquerda) e John Kerry (direita). Foto: Pablo Martinez Monsivais/Associated Press
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O futuro presidente pretende derrubar a diplomacia isolacionista de Trump e, dessa forma, os Estados Unidos se aproximam de países com políticas ambientais semelhantes, como Alemanha, Japão, Nova Zelândia e Canadá, que também planejam zerar as emissões de carbono nas próximas décadas.
Tendo isso em vista, Biden planeja usar da posição americana nas políticas externas para que todos os grandes países construam maiores metas de combate às mudanças climáticas.
O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) Roberto Moll afirma que o movimento contra as mudanças climáticas será usado como estratégia econômica.
“O discurso ambiental servirá como uma política de pressão sobre concorrentes comerciais, como a China. A administração Biden, possivelmente, buscará pressionar esses concorrentes a adotar medidas ambientais como estratégia para reduzir vantagens competitivas”, afirma Moll.
Brasil
Joe Biden citou o Brasil em seu discurso sobre as mudanças climáticas. No primeiro debate entre os candidatos à presidência americana, o então candidato disse que, se eleito, reuniria a comunidade internacional a favor da proteção da Amazônia — prometendo enviar até 20 bilhões de dólares em prol da floresta.
Em resposta, o presidente Jair Bolsonaro se manifestou em suas redes sociais, afirmando não “aceitar subornos” e que o Brasil detém de uma “soberania inegociável”. Mesmo com a posição do presidente brasileiro, especialistas acreditam que a vitória de Joe Biden influenciará possíveis mudanças nas políticas ambientais brasileiras.
Bolsonaro se pronuncia no Twitter. Foto: Reprodução Twitter
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Segundo o sociólogo Ednaldo Ribeiro, a redução do desmatamento será a condição de entrada em acordos econômicos do futuro e a pressão em torno da Floresta Amazônica se intensificará. “O silêncio de Bolsonaro só prejudica ainda mais nossa imagem internacional, com graves consequências para nossas relações comerciais”, diz o profissional.