Ministério do Meio Ambiente: adianta trocar só o ministro?

Um panorama da situação política do MMA nos últimos governos: houve evolução real?

Marina Silva, Izabella Teixeira e Sarney Filho já foram Ministros do Meio Ambiente (Fotos: Talita Oliveira/Flickr e Walter Campanato/Agência Brasil)

O novo ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, é visto de forma positiva entre grupos de ambientalistas por abraçar algumas pautas consideradas positivas para a área (confira o perfil do político aqui). Mas será que isso é o necessário para ele conseguir fazer grandes mudanças para melhorar a situação ambiental do país?
A especialista Myrian Del Vecchio, doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento, não tem grandes esperanças. “Já tivemos a Marina Silva lá, na época um ícone da questão ambiental e ainda não desacreditada politicamente, em um governo [Lula] dito de esquerda, que mantinha pelo menos uma prática aberta de negociação com movimentos sociais, entre eles o ambientalista. Entretanto, deu no que deu. Ela deixou o ministério por se sentir pressionada em diversos temas pelos ditos ministérios fortes da área econômica e que mandam em todas as decisões, do meio ambiente à cultura.”, diz Myrian.
Segundo a doutora, o problema da gestão ambiental pública no Brasil (e no mundo) vai muito além da escolha de um ministro: “Precisa-se de uma agenda de governo mais ampla, que contemple a questão ambiental como uma questão fundamental para um modelo de desenvolvimento que vá além do crescimento econômico: que incorpore qualidade de vida, consumo consciente, informações de qualidade, espaço para práticas democráticas, participativas e cidadãs, aliadas ao respeito à biodiversidade e à natureza.”
O novo Ministro Sarney Filho reunido com o presidente interino Michel Temer (Foto: Walter Campanato/Agência Brasil)
Em uma sociedade na qual se predomina a importância do “econômico”, as questões ambientais são deixadas de lado por não serem coerentes com a ideia de lucros altos. Na visão de Myrian, “o incentivo à agroecologia deve ser maior do que ao agronegócio, independente da questão da exportação a qualquer preço para satisfazer as necessidades do “agora” e do desejo brutal pelo lucro de poucos.”
A pesquisadora acredita que o processo leva tempo, sendo necessário “fazer uma mudança de visão econômica e de prioridades de bem estar social”, não sendo uma ação de um único governo, mas sim estrutural, para que em uma eventual troca de comando tudo não volte para a estaca zero: “temos que decidir por um modelo em que as exigências ambientais tenham lugar privilegiado e possam ser levadas em conta na relação custo-benefício, que tem sido até aqui predominantemente econômico” diz a especialista.

O MMA no Governo Temer

Segundo Myrian, a mudança de ministro não é uma salvação ao meio ambiente: “a questão não é ser este ou aquele ministro, Izabella Teixeira (ministra no governo Dilma) ou Sarney, pois ele faz parte de um perfil de governo.”
Ela completa explicando que o governo interino atual representa “um grupo que só pensa em economia liberal e em agronegócios” e é “um governo de direita, escancaradamente neoliberal e conservador”, que  enxerga o desenvolvimento pelo viés puramente econômico, marcado por uma sustentabilidade de discursos. “Uma boa gestão ambiental pública federal não depende deste ou daquele ministro, mas da linha político ideológica do governo a quem ele está ligado e eu diria que o governo interino atual não anima ninguém em termos de avanços sociais, culturais e ambientais”, opina Myriam.
Texto e entrevista: Luisa Volpe, repórter do Impacto Ambiental.

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