Okja – o caminho dos animais até as prateleiras do mercado

O filme Okja mostra que os super-porcos não estão longe de se tornarem reais 

Texto por: Gilmara Melo
Edição: Maria Gabriela Zanotti

A percepção da relação entre animais e  humanos sob a ótica dos hábitos alimentares e ambição da indústria alimentícia, é posta em foco nesse novo sucesso multinacional da Netflix.

Okja é uma produção sul-coreana-americana que traz a tona a necessidade de reflexão a respeito da forma como o ser humano se alimenta, questionando o processo pelo qual os animais são submetidos até serem reduzidos a mercadorias nas prateleiras dos mercados, com o fim de tornarem-se alimento nas mesas dos consumidores.

O filme começa com a apresentação do inovador projeto sustentável da insegura e psicótica empresária Nancy Mirando (Tilda Swinton) de criar porcos transgênicos gigantes em sua indústria e distribuí-los ainda filhotes em diversas fazendas familiares espalhadas ao redor do mundo pelo período de 10 anos, enquanto seus cientistas estariam acompanhando o crescimento e monitorando o desenvolvimento desses animais.

Cenas do filme (Disponível em Netflix)

O intuito da CEO é trazer visibilidade para a “Mirando Corporation”. Sua empresa tem uma imagem negativa diante das novas demandas sustentáveis do mercado, e com a proposta do super-porco poderia revolucionar o mercado do agronegócio, trazendo uma proposta de carne de alta qualidade para os consumidores de sabor único e valor nutricional elevado, causando poucos danos ao meio ambiente.

Entretanto, a empresária oculta em sua propaganda que, apesar da espécie ter origem chilena, os porcos foram modificados geneticamente em laboratórios, passando a ser caracterizados como transgênicos, pois Nancy Mirando temia que essa informação gerasse a costumeira rejeição das pessoas às propriedades desse tipo de alimento.

O impasse para o sucesso do projeto surge a partir da relação de amizade profunda, criada durante uma década, entre a neta de um dos fazendeiros selecionados, a pequena Mija (Seo-Hyun Ahn) e sua porca fêmea gigante, a dócil Okja.

Vivendo em uma bucólica fazenda nas montanhas, Okja teve uma criação muito saudável e livre ao lado de Mija. Por ser a maior porca do projeto, gerando mais lucro, foi a escolhida para representar o sucesso do projeto “Super Porco” no desfile comemorativo marcado para acontecer na cidade de Nova York.

O problema é que Mija havia proposto ao seu avô que comprassem a porca e assim, não precisariam se desfazer dela, uma vez que o projeto estava chegando ao fim. Porém, obviamente, a oferta de compra não é aceita e o humilde fazendeiro mente para sua neta.

Logo chega o dia em que Okja seria levada para participar do desfile e seguir o seu triste destino. Para buscá-la na fazenda são enviados o lunático e excêntrico biólogo Dr. Johnny Wilcox (Jake Gyllenhaal), rosto da propaganda do projeto, suas assistentes e o funcionário coreano que traduzia para Mija e seu avô, o que esses estranhos americanos diziam.

Okja e o biólogo durante visita à fazenda

Mija certa de que já era dona de Okja, não desconfia que iriam levá-la e por não entender o  que falam, age de forma inocente diante da presença dos visitantes. Na tentativa de despistar a menina, seu avô a convida para descer as montanhas, com a desculpa de visitar o túmulo de seus pais, Mija o atende.

No meio do caminho começam a conversar e o fazendeiro confessa que não conseguiu comprar Okja, entrega um pequeno porco feito de ouro para sua neta e tenta convencê-la a aceitar o destino da sua companheira.  Mas em uma atitude brusca, Mija recusa o presente e sai correndo de volta para casa. Não encontrando a sua porca, continua a correr desesperadamente pela estrada atrás do caminhão que a levava e, infelizmente, não consegue alcançá-los.

É nesse ponto que o espectador é levado a questionar-se sobre o valor ínfimo dado a vida animal, colocada em segundo plano pela indústria alimentícia e pelo modelo econômico vigente. O conhecido destino de Okja traz uma sensação aflitiva.

Mas a esperança é gerada diante da coragem de Mija, que não se dá por vencida, retorna a sua casa, quebra um cofre com todas suas economias, pega o porquinho de ouro e segue sozinha a noite até a cidade, ignorando as ressalvas e o pessimismo de seu avô, determinada a resgatar Okja.

Nas próximas cenas, a menina se vê sozinha em Seul e segue para a “Mirando Corporation”. Sua presença na cidade destaca o contraste entre a realidade simples vivida por Mija e a grandiosidade do meio urbano.

O que ela não sabe, é que nesse mesmo momento, um grupo anarquista de defesa dos animais chamado ANL, liderado por Jay (Paul Dano), está prestes a interferir na situação. Em meio a confusão do seu resgate, Okja escuta Mija chamando por ela, reconhece sua voz e segue no túnel em direção a garota, causando pânico na população.

As duas fogem com a ajuda da ANL e deixam grandes estragos pelo caminho. Mas quando conseguem entrar no caminhão dos seus supostos salvadores, eles propõe a menina que deixe Okja ser levada para os EUA, com uma câmera escondida para documentar as atrocidades praticadas pela empresa, pois durante o desfile irão desmascarar a cruel “Mirando Corporation” e resgatar Okja de uma vez por todas.

Mija não concorda, mas o seu tradutor K (Steven Yeun) membro da ANL, diz aos seus companheiros que a menina autorizou a continuidade do plano, atitude essa que irá gerar conflitos na trama. As duas são abandonadas na estrada e capturadas pela polícia local que entrega Okja para seguir seu caminho e Mija para seu avô.

A repercussão do ocorrido na imprensa é prejudicial para a nova imagem ecofriendly falsamente buscada pela empresa que na verdade, é uma greenwashing. Então Nancy Mirando (Tilda Swinton), decide levar Mija a Nova York para apresentá-la durante o desfile ao lado de Okja com a finalidade de explorar a imagem simples da menina e expor a falsa preocupação e o reconhecimento da “Mirando Corporation” com os colaboradores do projeto “Super Porco”.

Enquanto tudo isso acontece, Okja sofre diversos horrores nos laboratórios repugnantes e secretos da Mirando nas mãos do frustrado e perturbado Dr. Johnny Wilcox (Jake Gyllenhaal), durante as cenas mais impactantes do filme. É impossível não se impressionar com as condições insalubres e os testes cruéis aos quais os animais são submetidos em prol do enriquecimento da empresa, inspirada pela realidade da indústria alimentícia mundial.

Divulgação/Netflix

Chega o tão esperado desfile do “Super Porco”, divulgado massivamente pela “Mirando Corporation” e em meio aos planos ambiciosos de sucesso da CEO Nancy Mirando (Tilda Swinton), ao andamento da ação interventiva da ANL, a expectativa de Mija pelo reencontro com Okja e a necessidade de resgatá-la do cruel destino nos abatedouros dos seus criadores envolvem o espectador em uma grande tensão.

O envolvimento com a história e a torcida para que tudo possa de alguma maneira dar certo no final, com o salvamento de Okja, como também a empatia diante do sofrimento dos milhares de animais expostos às mesmas condições que ela, levam a importante mensagem que o filme tenta passar e trazem a reflexão sobre a maneira como enxergamos os alimentos que consumimos, vindos da predatória produção praticada pela indústria alimentícia.

Ficha Técnica

Diretor: Bong Joon-ho
Produtores: Bong Joon-ho, Dede Gardner, Dooho Choi, Jeremy Kleiner, Lewis Taewan Kim, Ted Sarandos, Seo Woo-sik
Ano: 2017
Duração: 2h01
Gênero: Ação/ Aventura/Drama

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