Procurando Cirurgião-patela

Com o sucesso da animação, pessoas passaram a adquirir as espécies marinhas. E isso não é bom!


Dory é um peixe da espécie Cirurgião-patela, também conhecido como Tang Azul (Imagem: Reprodução)

Após o sucesso de “Procurando Nemo”, chega aos cinemas “Procurando Dory”, sequência da animação que, quando lançada em 2003, foi responsável por aumentar em 40% as vendas do peixe-palhaço (Nemo), causando sua extinção em áreas das Filipinas e Tailândia. Com “Dory” não seria diferente, porém, a vontade de querer “ter uma Dory” pode acabar custando muito mais que o alto valor cobrado pelo peixe nas lojas de animais.

“O caso do cirurgião-patela é mais complicado, pois é uma espécie que só se reproduz em recifes, ambientes naturais. Não consegue fazer isso em cativeiro. É também utilizado em aquários ornamentais e retirado, principalmente, do Oceano Indo-Pacífico, portanto, é nítido que pode ser levado a extinção“, explica o professor Alceny José Ribeiro Júnior, licenciado e bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
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Essa não é a primeira vez em que filmes sobre animais influenciam de forma exponencial a busca pelas espécies. A situação do peixe-palhaço, por exemplo, tornou-se tão preocupante a ponto de motivar a criação da organização “Saving Nemo“. A organização luta para que espécies marinhas não sejam retiradas de seu habitat de forma irresponsável para comercialização.
“É importante pensar: será que estas espécies não estão melhores no seu ambiente natural ao invés de retirá-las pelo simples fato de tê-las? Não seria melhor observá-las livres na natureza? Ou, em casos especiais, retirar apenas para estudos científicos ou para fins educacionais?”, questiona o professor Emanuel Ricardo Monteiro Martinez. Ele é biólogo pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e trabalha com genética molecular e reprodução de peixes na UNESP de Botucatu/SP.

Peixe Cirurgião-patela em aquário
Peixe Cirurgião-patela em aquário para ser comercializado (Foto: Rhaida Bavia/Impacto Ambiental)

Para orientar o público sobre os riscos de se adquirir o Cirurgião-patela como “pet”, uma petição foi feita pedindo para que a Disney disseminasse o aviso “Encontrem Dory, mas não a comprem”. A petição obteve milhares de assinaturas e alcançou a meta, porém, durante a exibição do filme, nota-se a ausência de qualquer mensagem direta nesse aspecto.
“Seria legal o filme abordar uma conscientização dos aquariofilistas para não retirar o peixe de seu ambiente natural, porque ele não consegue se reproduzir em cativeiro. Seria ótimo se pudessem também abordar o conceito de ‘espécies guarda-chuva’, que é muito interessante e pouco discutido. Quando a gente conserva e protege uma espécie, acabamos protegendo muitas outras que vivem perto e são parecidas com ela. Se existir uma proteção do Cirurgião-patela a partir de agora que foi feito esse filme, com certeza outras espécies que vivem perto dele serão protegidas também, e isso é um ponto muito positivo”, argumenta o professor Lucas Ferro, biólogo pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).

Para o professor Alceny, “o filme tem seu lado educativo. Não devemos ignorar sua importância, mas, ao mesmo tempo, devemos ressaltar que as crianças não devam querer adquirir os animais, principalmente os exóticos, como ‘pets’, o que acontece muito nos Estados Unidos”.
“Um grande problema é a humanização destes animais. Estas animações, atualmente, têm aspectos positivos na educação ambiental mas, na maioria, negativos. O problema é que apresentam várias falhas em conceitos ecológico-teóricos, como a alimentação natural destes animais, o tipo de habitat, a sua reprodução, o comportamento…” complementa Emanuel.

Dory e Nemo
Dory, Nemo e outros personagens da animação (Imagem: Reprodução)
Além do risco de extinção pela incapacidade de se reproduzir em cativeiro, o Cirurgião-patela é um peixe de água salgada, o que exige ainda mais cuidado e manutenção do aquário. O alto custo do peixe (vendido na faixa de 500 reais), ainda vem junto com a necessidade de um aquário de água salgada grande, já que a espécie pode atingir até 32 cm de comprimento, além da dedicação e conhecimento de quem se dedica a criá-lo para que se desenvolva com qualidade de vida.

“Os peixes em aquário, será que estão sendo tratados com respeito? Será que se alimentam corretamente? Recebem cuidados veterinários? Será que todas estas lojas de aquário cuidam destes animais com respeito? É importante questionar: que tipo de legado queremos deixar para nossas crianças? Um mundo que para satisfazer suas vontades de ‘ter’, maltrata e causa extinção de espécies? Ou um mundo rico em formas de vida preservadas e livres para serem observadas na natureza?” desabafa o professor Emanuel.

Texto: Rhaida Bavia e Gabrielli Silva

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