Projeto promove, através da Botânica, Educação Ambiental em São Pedro

Secundaristas e universitários estudam plantas da Serra do Itaqueri, seus usos medicinais, aromáticos e gastronômicos



Foto: Reprodução/GeWa – ESALQ USP/ Facebook
O grupo de estudos Walter Accorsi (GeWA), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), na Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a ETEC Gustavo Teixeira, em São Pedro (SP), realiza estudos baseados na sabedoria popular sobre espécies de plantas com fins fármacos, culinários e suas fragrâncias. 
O projeto de extensão busca incentivar a educação ambiental nas escolas públicas, levando conhecimento, consciência de preservação e sustentabilidade da natureza local aos alunos do ensino médio.
A escolha da unidade do Centro Paula Souza para a implantação do projeto do GeWA deve-se ao caráter de ensino público e de qualidade que se destaca na região e, principalmente, pela sua localização. A escola está situada na encosta da Serra do Itaqueri, na cidade de São Pedro, interior de São Paulo. 
Das janelas das salas de aula têm-se uma vista privilegiada.  A paisagem de transição entre os biomas Mata Atlântica e Cerrado quase não foi explorada, devido a sua altitude e ao caráter turístico, pois conta com cachoeiras e trilhas.

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Foto: Mario Cesar Bucci/ Flickr
Alisson Henrique Domingos, coordenador do projeto, ex-aluno da ETEC e estudante do curso de Engenharia Agronômica da ESALQ, ressalta a importância do vínculo entre o Ensino Superior e Médio. Preocupado em preencher as lacunas da Educação Ambiental no Brasil, que segundo ele “tem grande potencial e igualmente carência”, encontrou no GeWA uma oportunidade de cumprir a tríade ensino, pesquisa e extensão, pilares da universidade pública.

De início, os universitários lecionaram aulas de botânica básica, explicando aos secundaristas conceitos como caule, raiz, flor e fruto. Logo após, separou-se as quatro equipes responsáveis pelas frentes do projeto: coleta e amostragem, administração e comunicação, alimentos e condimentos e plantas aromáticas.

O grupo de coleta e amostragem é responsável por ir a campo recolher as amostras e preparar as exsicatas, que são as plantas secas, prensadas e rotuladas com todas as informações em papel cartolina.

A equipe de alimentos e condimentos prepara chás, doces, compotas e saladas com as plantas recolhidas. Um desses preparados é o doce de jaracatiá, espécie pouco conhecida, típica de São Pedro.

O jaracatiá também é conhecido como mamoeiro-bravo, mamoeiro-do-mato, mamãozinho e mamuí
(Foto:Csandrocampos/ Wikimedia Commons)
Com as plantas aromáticas, os alunos fazem difusores de ambiente com perfumes muito agradáveis.

A duração do projeto inicialmente era de um ano, mas o prazo foi prorrogado por mais três meses, levando em conta a enorme biodiversidade observada. Em um levantamento recente, realizado pelo projeto, 210 espécies medicinais foram encontradas na região da Serra do Itaqueri.

Todo o trabalho realizado vem sendo bem-sucedido. “Alcançou-se o objetivo de divulgar a flora da região, bem como o de promover aos alunos esse maior contato com a natureza do município onde eles residem”, relata Alisson.

Alunos da ETEC recolhem algumas espécies de plantas para estudo na Serra do Itaqueri (Foto: GeWA – ESALQ USP/ Facebook)

Plantas e usos medicinais

As plantas estudadas pelos alunos da ESALQ e da ETEC são conhecidas popularmente por ajudar na cura de alguns problemas de saúde, como dores de estômago e queimaduras. Fica a cargo dos alunos, orientados pelos professores Doriana de Lucca (ETEC) e Lindolpho Capellari Jr. (ESALQ), pesquisar para comprovar esses benefícios à saúde e encontrar outros.

A Paineira pode chegar a 30 metros de altura (Foto: Alisson Domingos)

Estre as espécies estudadas está a Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna, popularmente chamada de Paineira ou Árvore-de-lã. A Paineira é conhecida por suas belas flores cor de rosa semelhantes a algodões que florescem no verão e tem seu caule (cascas e resina) usado para o tratamento de hérnias, ínguas e queimaduras.

A caçaú também é conhecida popularmente como papo-de-peru, pois suas folhas lembram a forma do papo de um peru (Foto: Alisson Domingos)
Outra espécie da região é a Aristolochia galeata Mart., ou caçaú. Cultivada em pleno sol, essa trepadeira tem em seus ramos e folhas caráter diurético, sedativo, antisséptico e sudorífero. Pode ser usada para aliviar sintomas de asma, febre, dor de estômago, diarreia, gota, convulsões, epilepsia, palpitações, falta de apetite e tensão pré-menstrual. Na forma de banho é indicada para caspa e orquite (inflamação nos testículos).
O óleo da arnica-brasileira possui propriedades antimicrobianas
(Foto: Alisson Domingos)
Também foram estudadas as arnicas-lancetas ou arnica-brasileira (Solidago chilensis Meyen). São ervas nativas da Região Sul e Sudeste do Brasil, facilmente encontradas em beiras de estradas, terrenos e pastagens. Essa planta levemente aromática pode alcançar até 1,5m de altura. Tem pequenas flores amarelas, que aparecem entre junho e setembro, e é utilizada em contusões, ferimentos, escoriações, traumatismos e hematomas.

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