O descarte incorreto dos filtros do cigarro gera danos irreparáveis ao meio ambiente e à saúde
A decomposição das bitucas demora, em média, 5 anos (Foto: Isabela Giordan/Impacto Ambiental) |
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número estimado de fumantes no mundo é de 1,6 bilhão. Esse contingente joga fora 7,7 bitucas de cigarro por dia, de acordo com informações da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT). Ou seja, são descartadas, diariamente, cerca de 12,3 bilhões de bitucas.
Além dos males para saúde e da contribuição da fumaça com a poluição do ar, o cigarro causa outros problemas para o ambiente. As bitucas, principalmente as descartadas incorretamente, podem contribuir com enchentes, entupimento de bueiros e queimadas.
Cerca de 95% dos filtros de cigarro são compostos de acetato de celulose, o que dificulta a sua decomposição, que demora, em média, 5 anos.
A cidade de São Paulo, que todos os anos sofre com enchentes, sobretudo no verão, viu a situação piorar após a aprovação da lei estadual n° 54.311/2009 de Combate ao Fumo, a qual “proíbe o consumo de produtos fumígenos, derivados ou não do tabaco, em ambientes de uso coletivo, total ou parcialmente fechados”.
O problema não é, de forma alguma, a legislação. Além da falta de conscientização das pessoas que descartam as bitucas no chão – a ausência de lixeira e recipientes para o descarte correto dos filtros resulta no aumento das inconvenientes bitucas nas ruas da cidade.
O cigarro contém mais de 4,7 mil substâncias tóxicas (Foto: Impacto Ambiental) |
Aspectos Econômicos
A indústria de tabaco é altamente rentável. De acordo com a revista The Economist, “o cigarro está entre os produtos mais lucrativos do mundo”. A revista ressalta, também, que é a única droga legalizada que, se usada com frequência, vicia a maior parte dos usuários.
Por isso, parar de fumar não é tão fácil! A conscientização para o descarte correto das bitucas deve partir tanto de ações sustentáveis da indústria, que lucra e contribui para o aumento do consumo do cigarro, quanto de ações de reeducação socioambiental dos fumantes, por se tratar de uma questão de saúde pública e preservação ambiental.
Conhecer os riscos nem sempre é ter consciência de sua responsabilidade ambiental
Guilherme Henrique, 25 anos, é estudante de Engenharia Civil e fumante há 10 anos. O jovem diz conhecer os riscos que a bituca pode causar ao meio ambiente, como as enchentes e o entupimento de bueiros. Mas, admite jogar os filtros de cigarro na rua, principalmente quando está no carro, pois não tem recipiente adequado para descartá-los.
É importante lembrar, também, que o contato da bituca acesa lançada pelas janelas dos veículos com a vegetação seca que beira as rodovias é uma das principais causas dos incêndios no período entre outono e inverno. As queimadas, além dos danos ambientais, reduzem a segurança no trânsito, uma vez que a fumaça prejudica a visibilidade dos motoristas, aumentando o risco de colisões traseiras.
A estudante de direito Glinis Copertino, 25 anos de idade, é fumante há 11 anos. A jovem revela que procura sempre descartar as bitucas em locais apropriados, como latinhas ou lixeiras. No entanto, a estudante confessa que na falta de recipientes adequados, acaba jogando os filtros na rua.
As enchentes, por sua vez, matam milhares de pessoas e aumentam o risco de doenças como a leptospirose, cujo rato é o principal vetor de transmissão, através de sua urina. O solo também é prejudicado com as bitucas, pois o cigarro contém mais de 4,7 mil substâncias tóxicas e acaba contaminando rios e córregos.
Produção de papel artesanal a partir da reciclagem de bitucas (Foto: Poiato Recicla) |
Buscando uma solução…
Desde 2014, a empresa Poiato Recicla passou a ser a primeira empresa no Brasil a reciclar as bitucas de cigarro para a produção de celulose e papel artesanal. As vantagens da prática incluem produtos ecologicamente corretos e o beneficiamento de um micro lixo. De acordo com os dados da empresa, já foram mais de 7 milhões de bitucas coletadas.
Mais importante que conhecer os riscos das bitucas ao meio ambiente, é pôr em prática esses conhecimentos e descartá-las adequadamente. Abaixo estão listadas duas opções simples que contribuem com a saúde e com o meio ambiente.
Porta Bituca (Foto: Divulgação) |
Porta-bituca: trata-se de um hábito pouco comum aqui no Brasil, mas muito difundido em outros países. É uma espécie de cinzeiro que você pode levar para qualquer lugar. Além de jogar as cinzas nesse pequeno recipiente, as bitucas também podem ficar armazenadas até a hora em que você encontrar uma lata de lixo.
Parar de fumar: apesar de ser um vício difícil de largar, o cigarro prejudica não só ao meio ambiente, como à saúde do fumante. De acordo com a OMS, o cigarro é responsável pela morte de 5 milhões de pessoas anualmente em todo o mundo. Com motivação e ajuda médica, é possível se livrar do vício e deixar de contribuir monetariamente com uma indústria responsável por diversas enfermidades. Parar de fumar, portanto, é um hábito ecológico e saudável.