O peixe que você consome pode estar fazendo falta no mar

A pesca predatória atinge cerca de 70% dos estoques de peixes marinhos

O ambiente marinho já sofre com frequentes despejos de esgoto sem tratamento nos mares, com descartes inadequados de lixo nas praias e com vazamentos de produtos químicos das embarcações. Mas, outro problema grave, e que muitas vezes passa despercebido, é a pesca predatória.

Este tipo de pesca consiste na retirada de peixes em quantidade tão grande que a sua reposição de forma natural acaba sendo prejudicada, ocasionando, então, a diminuição da população destes animais no meio ambiente.

Isso acaba gerando um desequilíbrio nas cadeias alimentares. Com a redução de determinados peixes, as espécies que servem de alimento para eles aumentam consideravelmente, desestruturando os ecossistemas marinhos.

Apreensão da tainha no litoral do Paraná (Foto:Reprodução/Ibama)

Virando ração

Como a pesca predatória contribui para a redução dos animais marinhos de grande porte (os prediletos pela indústria), a quantidade de peixes menores tende a aumentar e, com isso, o seu valor comercial diminui. 

Assim, essas espécies de menor valor comercial, mas fundamentais para a cadeia alimentar marinha, como as sardinhas, também acabam sofrendo com a sobrepesca e a piscicultura, pois são capturadas para produção de ração animal. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 37% dos pescados anuais nos mares correspondem a produção de rações.

Muitas espécies correm risco de extinção

O professor do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará, Tito Lotufo, afirma que cerca de 70% de todos os estoques de peixes marinhos estão sendo explorados de forma insustentável.

Pescado apreendido no Arraial do Cabo, litoral norte do Rio de Janeiro (Foto:Reprodução/Ibama)

O atum é um dos peixes mais consumidos no mundo, e cerca de 60% de sua população normal está esgotada. Este problema pode ser observado também na população dos tubarões: a busca pelas barbatanas e o consumo de sua carne reduziram a quantidade da população à 10% do que havia na década de 1970.

No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente afirma que existem 19 espécies de peixes marinhos ameaçados de extinção e 32 espécies em estoques críticos.

A Agência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) divulgou uma pesquisa, em parceria com o Ibama, na qual revela que todas as regiões do país cercadas pelo mar possuem espécies de peixes que podem ser extintas em pouco tempo. No sul do Brasil, por exemplo, cerca de 32% das 142 espécies de animais marinhos correm o risco de desaparecer.

Aproximadamente 100 milhões de tubarões morrem anualmente para abastecer o comércio mundial. (Foto: Reprodução/Antony Dickson/AFP)
A pesca predatória também contribui para o desperdício de peixes durante as pescarias seletivas, chegando a quarenta milhões de toneladas por ano o número de pescados inutilizados. 

Box: Adriele Silva/Impacto Ambiental

Ações possíveis

Diante de tantos problemas, é papel fundamental das autoridades fiscalizar e punir os infratores das leis ambientais. Os poderes executivo e legislativo também podem propor para as indústrias pesqueiras novas normas que estabeleçam limites para a exploração das espécies aquáticas.

Está parada nas Comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Constituição e Justiça e de Cidadania o projeto de Decreto Legislativo PDC 36/2015 que susta a Portaria nº 445, de 17 de dezembro de 2014, do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A portaria reconhece “como espécies de peixes e invertebrados aquáticos da fauna brasileira ameaçadas de extinção aquelas constantes da ”Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção – Peixes e Invertebrados Aquáticos”.

Segundo o deputado propositor Alceu Moreira (PMDB/RS) a intenção é “fazer documento que realmente preserve as espécies que estão em extinção, com redução de cardumes. Mas não do dia para a noite, como raciocínio que não é nem de ambientalista, mas de ‘ambientaloide’, que deixa famílias com fome e impedidas de executar a única coisa que sabem fazer que é pescar”.

A proposta derrubaria uma restrição à pesca de 475 espécies de peixes. O Executivo afirmou, na época, que a proibição não se aplicava aos peixes criados em cativeiros licenciados.

O aumento do número de locais reservados para o nascimento e a reprodução dos animais é importante, como defende o Greenpeace, já que permitem que a pesca ocorra de forma sustentável.

Há ainda, ideias que envolvem diretamente o cliente, como a proposta do Fundo Mundial para a Natureza (WFO) em conjunto com a  Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), ao  oferecer, aos restaurantes, pescados e ingredientes provenientes do cultivo sustentável.

Você, como consumidor, pode ajudar a diminuir esse impacto ambiental comprando apenas as mercadorias derivadas de cooperativas tradicionais e evitando as espécies ameaçadas de extinção. Confira algumas:

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