Só no inverno, país acumulou mais de 1 milhão de focos de queimadas, segundo dados do INPE
(Foto: Greenpeace) |
Como alternativa para a “limpeza” do terreno ou queima do excedente de produção, a prática da queimada está entre as mais utilizadas pelos produtores rurais que, buscando resultados imediatos, acabam por realizá-la sem um estudo prévio do solo, trazendo grandes danos ao terreno.
“É um método bastante agressivo e causa um grande desequilíbrio. O fogo prejudica a microbiologia do solo, assim como sua dinâmica e disponibilidade de nutrientes, que fica alterada. Logo após as queimadas, as cinzas depositadas sobre o solo, a princípio, geram grande produtividade, o que parece solucionar o problema. Porém, não levam em consideração os aspectos negativos dessa prática, o que é uma grande falha, levando em conta que esse efeito negativo prejudica o próprio causador da ação. Se o agricultor utiliza da queimada para limpeza do solo, ele prejudica-o a ponto de poder inutilizar aquela área, o que irá gerar mais custos para que se possa fazer a recuperação do terreno com solo desgastado. Isso sem falar nos danos da fumaça para a saúde”, explica a engenheira agrônoma Lenise Baldini.
Devido à ausência de chuvas e ao tempo seco comuns ao inverno tropical, os meses entre julho e setembro, principalmente agosto, são os mais propícios ao aumento do número de queimadas e focos de incêndio. As plantas, por conta da estiagem, tornam-se mais sensíveis a qualquer estímulo que possa iniciar o fogo.
“O acúmulo de biomassa no solo, as altas temperaturas e a baixa umidade da região do cerrado favorece a ocorrência de incêndios. Áreas que estão em pousio, ou seja, possuem capim ou palhada como cobertura, nessa época, enfrentam a secagem das folhas devido a baixa incidência das chuvas. Essas folhas secas são material altamente inflamável. Qualquer faísca que atinja um capim muito seco pode provocar um incêndio, e dependendo da área, o fogo pode propagar-se muito rápido, causando enormes danos à fauna local, aos vizinhos da região, destruição de rede elétrica, produções reservas etc”, explica a agrônoma.
Cerrado no interior do estado de São Paulo (Foto: Agnes Sofia) |
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) realiza um monitoramento dos focos de queimadas no país. Através de gráficos e imagens de satélite, é possível acompanhar a situação dos incêndios no país.
Para consultar as inúmeras informações disponibilizadas pelo INPE, clique aqui.
Segundo dados do INPE, desde o primeiro dia de janeiro de 2016 até o dia 28 de julho, o número de focos foi 60% superior ao mesmo período do ano passado.
Ainda de acordo com o INPE, até o final de julho, o estado de Mato Grosso contabilizava mais de 88 mil focos de incêndio. Até o dia 19 de setembro, segundo o gráfico acima, Mato Grosso contabilizou 273.405 focos, atingindo o dobro do final de julho em menos de 2 meses, o que confirma este período de seca como o que mais tem índices de incêndios.
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Queimadas naturais
“No caso do bioma do cerrado, o fogo pode ser benéfico para as espécies naturais dessa região. A alta temperatura ocasionada pelas queimadas, quebra a dormência de algumas sementes, fazendo-as germinar. Além disso, as espécies já possuem a biologia adaptada à região, pois são dotadas de casca mais grossa e forma retorcida, o que serve de proteção para as gemas, que irão brotar após a queimada. Contudo, ainda assim, as queimadas excessivas na região também prejudicam, acabando com as espécies e favorecendo a degradação do solo” explica Lenise.
Por que o Brasil queima tanto?
“Acredito que a ação humana seja a principal causa das queimadas, porém, não podemos deixar de mencionar as descargas elétricas e outros fatores naturais, como a estiagem, também como responsáveis pela ocorrência das mesmas. Além da perda das áreas verdes, essa prática colabora para o aumento no buraco da Camada de Ozônio, destrói habitats naturais e ainda pode poluir águas subterrâneas e nascentes por conta das cinzas”, defende o professor Ismael Ferreira da Silva, graduado em Geografia pela UNESP.
Prejuízos para a saúde
Além dos danos, muitas vezes irreparáveis, causados à fauna e flora locais, a prática ainda pode acarretar infecções no sistema respiratório, asma, bronquite, irritação nos olhos e na garganta, tosse, falta de ar, entupimento nasal, alergia cutânea, vermelhidão e, em casos mais graves, até desordens cardiovasculares.
(Foto: Wikimedia Commons) |
Como podemos ajudar?
“Apesar de parecer que essas situações estão distantes de nossa realidade, uma maneira simples de colaborar para evitar as queimadas e incêndios é fazer aquilo que está ao nosso alcance: não jogar lixo em local inadequado, não jogar bitucas de cigarro em estradas, propagar o bom exemplo e dividir o conhecimento com o próximo, indicando quais são os danos das queimadas. Além disso, no caso de presenciar situações de risco, ou focos de queimadas, imediatamente acionar responsáveis que possam ajudar a resolver essa situação o quanto antes. Qualquer queimada não autorizada é considerada ilegal e passível de penalidade“, orienta a agrônoma Baldini.