Os riscos de contaminação por lixo hospitalar aumentam pelo descarte incorreto
(Foto: Felipe Larozza/Flickr) |
O lixo hospitalar é chamado de “Resíduo de serviço de saúde”, ou apenas RSS. Este detrito é proveniente de locais de tratamento e coleta de materiais biológicos (humanos ou animais).
Em vista dos diferentes tipos de resíduos gerados em hospitais, clínicas, ambulatórios, farmácias, entre outros centros de atendimento, existem várias maneiras de manuseá-los podendo ou não haver tratamento prévio realizado pela própria instituição de saúde.
Gerenciamento dos RSS
Em razão do alto nível de contaminação por meio de bactérias e vírus presentes nos resíduos hospitalares, o lixo que provém de locais de saúde deve ser gerenciado de maneira adequada, com base em procedimentos legalmente regulamentados, objetivando tanto sua redução, quanto à proteção daqueles que o manuseiam.
Irregularidades no descarte do lixo hospitalar (Foto: Luiz Carlos Suica/Flickr) |
Além disso, substâncias tóxicas e radioativas presentes nos medicamentos podem afetar o solo e a água, comprometendo os recursos naturais utilizados por toda população e trazendo consequências graves ao meio ambiente.
A Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (EMDURB), é uma das responsáveis pela coleta dos RSS na cidade do interior paulista. Marcelo Makino, representante da empresa e responsável pela Gerência Ambiental, Resíduos Especiais e Aterro Sanitário, conta que o descarte incorreto dos resíduos hospitalares, pode gerar graves consequências às pessoas e à natureza.
Makino afirma que os resíduos contêm riscos biológicos. “A presença deste tipo de material no ambiente, pode causar a contaminação de corpos d’água, lençol freático, solo, fauna e propagar epidemias, enfermidades e moléstias” que agravam os problemas de saúde pública no país.
O lixo hospitalar, geralmente, é descartado em sacos brancos (Foto: Hugo Goiás) |
Não é necessário que o próprio local de saúde faça um tratamento prévio do lixo. Porém, é importante haver, antes mesmo da coleta, um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), que estabelece critérios na separação e no manuseio do lixo hospitalar, garantindo que o descarte seja feito de acordo com a classificação dos materiais.
Além disso, o PGRSS deve ser elaborado de acordo com as diretrizes determinadas pelos agentes responsáveis por cada etapa de tratamento (coleta, transporte e condição final dos resíduos).
O embalo e transporte do lixo
Devido aos vários tipos de RSS produzidos, sua separação é feita no próprio local de saúde antes da coleta e se dá através das características dos materiais, podendo ser: físicas, químicas e biológicas, levando em consideração o estado de conservação e os riscos no manuseio.
(Foto: João Victor Brandão/Flickr) |
A separação dos resíduos é baseada nas normas da ABNT NBR 9191/2000, que determinam o embalado do lixo em recipientes diferenciados e resistentes o bastante para evitar vazamento. Todo lixo recolhido para tratamento e reciclagem deve ser identificado pela cor referente ao conteúdo, o que garante uma melhor separação e organização dos materiais no ato da coleta seletiva.
Com relação ao transporte, o representante da EMDURB nos informou que esse tipo de material deve ser conduzido aos centros de tratamento por meio de veículos portadores do Certificado de Inspeção para o Transporte de Produtos Perigosos (CIPP) e que estejam “devidamente adaptados, vedados, identificados e certificados” para evitar qualquer tipo de transtorno nas vias.
(Foto: Hugo Goiás/Flickr) |
Na cidade de Bauru, os RSS são transportados até uma câmara fria – localizada no próprio aterro da cidade – e por meio de uma empresa especializada, são destinados aos tratamentos adequados levando em consideração a classificação dos resíduos.
Os funcionários que têm contato direto com os RSS, recebem instruções para evitar riscos a própria saúde. Os motoristas, por exemplo, precisam realizar o curso de transporte de cargas perigosas nas instituições normatizadas. Os responsáveis pela coleta desses materiais, passam por treinamento no Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT).
Por ser altamente perigoso, o resíduo de saúde não pode ser reciclado. Isso garante mais segurança à saúde da população, além de preservar os recursos naturais.
Infográfico: Maria Gabriela Zanotti |
Para onde vai o lixo hospitalar?
Ao ser coletado nos centros de atendimento à saúde, o lixo é encaminhado para tratamento adequado de acordo com a sua classificação. Os resíduos podem sofrer incineração, trituração, aterramento, magnetização, vaporização ou até mesmo radiação, dependendo do grau de periculosidade de cada material e do método escolhido para o tratamento.
Existem quatro métodos de tratar os RSS no Brasil:
- Incineração
Segundo dados de 2013 da ABRELP*, cerca de 44% dos resíduos de saúde passam pelo processo de incineração. Este procedimento consiste na queima de materiais a altas temperaturas, garantindo que resíduos sólidos ou líquidos se transformem em gás que, posteriormente, passam por uma nova combustão.
Essa técnica, entretanto, é uma das mais condenadas pelos estudiosos da área por não haver uma filtragem adequada das micropartículas provenientes da incineração, que podem ser lançadas na atmosfera, comprometendo à saúde de todo o planeta.
- Desativação Eletromagnética
Esse método é utilizado pela Unidade de Tratamento de Resíduos S.A (UTR), maior empresa da América Latina especializada em tratar lixos infectantes.
O processo consiste na trituração dos resíduos que são depositados em tubos de tratamento. Após triturar, os microrganismos são inativados por meio de um campo eletromagnético produzido por ondas de rádio frequência. O que sobra, passa por constantes análises feitas por técnicos capacitados.
- Autoclave
A autoclave é que uma esterilização a vapor. Este é o segundo método mais utilizado no país – cerca de 20,5% em 2013*. É utilizado principalmente em objetos cirúrgicos e não emite nenhum tipo de componente líquido ou gasoso prejudicial à saúde. Além disso, é um processo de fácil manutenção e com baixos custos. Por outro lado, a técnica não garante a redução do volume de materiais e não atesta que o vapor d’água atinge o resíduo num todo.
Em Bauru, conforme nos foi informado pela EMDURB, os resíduos de saúde são tratados, em sua grande maioria, por meio da autoclave e depois encaminhados para aterros próprios para receber materiais perigosos e com altos riscos de contaminação. Mas, medicamentos e carcaças de animais são incinerados e descartados.
- Microondas
Por ser um método relativamente novo, apenas 2,4%* do lixo hospitalar é tratado por meio de microondas no Brasil. Após passar por trituração ou umidificação, os resíduos de saúde são descontaminados por meio de ondas de frequência a altas temperaturas.
É considerado um dos métodos mais eficazes por garantir um tratamento que não gera efluentes tóxicos, não utiliza reagentes químicos e reduz o volume do lixo processado. Contudo, a principal desvantagem se deve ao fato desse processo ter altos custos operacionais.
*Os dados são fornecidos pela ABRELP (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais)