O que o impacto pensa? – A espetacularização no resgate dos animais

Entenda como o ativismo pode ser perigoso quando unido ao sensacionalismo.

Arte: Vitória Baia

Por Letícia Alves

No dia 2 de dezembro, Luisa Mell, uma das mais conhecidas ativistas sociais quando o assunto é direito dos animais, fez uma publicação em suas redes afirmando estar com o coração aos pedaços. O motivo? A jovem atriz Larissa Manoela havia supostamente abandonado a cachorra vira-lata que tinha adotado do Instituto Luisa Mell. A atriz ainda teria mantido seus animais com pedigree e se livrado apenas da vira-lata.

A publicação gerou comoção na internet, afinal, como poderia uma atriz abandonar um animal vira-lata por “falta de tempo” enquanto mantinha outros com pedigree em casa?

Em seu instagram, Luisa Mell desabafa sobre suas indignações com os artistas. Foto: Reprodução Instagram Luisa Mell

Mais tarde, Larissa se posicionou e afirmou que possui outros cães vira-latas e que repassou a cadelinha para uma amiga porque ela estava sofrendo com sua ausência em casa. A amiga defendeu a atriz mostrando que a cachorra estava segura e feliz em publicações no Instagram.

O que poderia ser apenas mais uma fofoca no mundo dos famosos abriu espaço para um questionamento que há anos vem sendo feito: quais são os efeitos que uma grande influencer do mundo ativista tem sobre seu público? Como compreender o que a exposição com toques de sensacionalismo faz sobre a forma que enxergamos a sociedade ao nosso redor?

Não é preciso muitos minutos no Instagram de Luisa Mell para entendermos como funcionam as suas publicações. As fotos, são constantemente protegidas pela marca de “conteúdo sensível”, pois ela não mede esforços ao divulgar a crueldade do ser humano com os animais.

Além das imagens e vídeos explícitos, com fraturas expostas e cenas de violência, Luisa também faz questão de realizar uma cobertura completa dos resgates em seus stories, em vídeos rápidos que desaparecem em 24 horas. Entre uma foto e outra, uma selfie, uma receita de bolo vegano ou momentos felizes com a família.

O Instagram possui a ferramenta que impede que imagens explícitas sejam expostas para outros usuários sem o consentimento dos mesmos. Foto: Reprodução

A influencer, ícone representativo da defesa dos animais, carrega a marca de mais de 3,6 milhões de seguidores, e, ao longo dos anos, foi alvo de elogios e críticas públicas.

Dentre ações de resgate e organização de adoção de animais, Luisa muitas vezes utiliza sua plataforma para denunciar artistas que praticam algum ato prejudicial aos animais, como ocorreu em janeiro de 2020, quando criticou Caio Castro e Grazi Massafera por postarem fotos de suas férias abraçados com filhotes de animais selvagens. Ela ainda afirmou que seu objetivo não era gerar um linchamento coletivo, mas apenas conscientizar o público do problema de financiar a comercialização de animais selvagens.

O teor “expositivo” da influencer pende para um lado negativo. Suas denúncias, diversas vezes foram tidas como erradas, racistas e nocivas.

Em 2018, a 31ª Vara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo condenou a influencer a pagar R$60 mil por ter causado danos emocionais e psicológicos em uma dona de quatro cães que ela havia “resgatado”. Segundo a dona, os animais estavam saudáveis, e apenas um deles precisava de mais cuidados, mas era acompanhado por um veterinário.

Em outra ocasião, a veterinária e ex-BBB Vanessa Mesquita, que também trabalha em ONGs na defesa dos animais, pediu para que não fosse comparada com Mell, pois seu trabalho era diferente e ela não ganhava dinheiro através do sensacionalismo.

Além de críticas ao sensacionalismo, a influenciadora possui um histórico de ser criticada por perseguir religiões de matrizes africanas. Em 2019, em uma postagem infeliz, Luisa atribuiu a foto de uma cadela sem as patas traseiras e com as orelhas cortadas a um ritual religioso. Segundo a mesma, “Em nome de uma religião, de uma crença, em um ritual, esse filhotinho teve duas patinhas de trás e as orelhas cortadas lentamente”.

Muitos seguidores – e não seguidores – destilaram o ódio e o preconceito nas redes sociais, atribuindo o ritual às religiões afro-brasileiras. Mais tarde, uma veterinária que acompanhou o caso se manifestou e a chamou de sensacionalista, porque, na realidade, a cadela havia sido atropelada e teve as patas amputadas.

Luisa, no auge de seus milhões de seguidores, divulgou seu repúdio a tradições de origem africana no Brasil antes, durante e depois do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) para a constitucionalidade do abate religioso. Vale mencionar que o abate religioso, é constitucional se os animais forem sacrificados sem excessos e crueldade e a carne for consumida logo após. Você pode conferir mais detalhes na matéria que nós fizemos clicando aqui.

Recentemente, a Loja de Luisa Mell causou polêmica e foi criticada ao divulgar na estampa de sua nova camiseta “toda vida importa”.

O termo poderia passar despercebido, se ele não tivesse sido publicado logo após a cruel morte de George Floyd, um homem negro, por um policial branco nos Estados Unidos. O termo estampado na camiseta faz clara referência ao termo que entrou em debate naquela ocasião: o movimento “black lives matter”, em português, “vidas negras importam”. Na época, a página foi desativada após as críticas. 

Na loja de Luisa Mell, todas as vidas importam. Foto: Reprodução.

É inegável que o impacto de uma ativista com tantos seguidores seja benéfico na luta contra o sofrimento dos animais, pois sua visibilidade e engajamento expande o ativismo para outras pessoas. Contudo, é importante olhar tais fenômenos com um olhar crítico, e notar como é controverso que, ao proteger os animais, é possível colocar um alvo em toda uma cultura e banalizar a exposição de imagens sensíveis para pessoas que procuram apenas se informar nos “assuntos mais comentados”.

Edição: Anna Araia

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