O que o Impacto pensa? – Quem está por trás do câncer ambiental

Falta de políticas ambientais leva o país a momento crítico com incêndios na Amazônia e no Pantanal

Capa da matéria com um mapa do Brasil, focando na região Norte e na criação de gado. No canto, o presidente Jair Bolsonaro segurando um isqueiro.
Arte: Vitória Cristina Baia

Por Anna Araia

Antes mesmo de ser eleito, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, deixava claro o seu posicionamento contrário à defesa do meio ambiente, à atuação de organizações não governamentais (ONGs) e aos direitos das populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas. No início deste mês, Bolsonaro disse que não conseguia

 matar esse câncer em grande parte chamado ONG que tem lá na Amazônia.

As propostas da chapa Bolsonaro-Mourão não incluíam a questão ambiental, sinalizando um governo favorável ao desmate, à grilagem, ao garimpo e às queimadas.

Com menos de dois anos no poder, o governo federal já enfrentou – mal, diga-se de passagem – grandes crises ambientais, como o Dia do Fogo, em agosto de 2019, e o vazamento de óleo na costa do litoral nordestino, em setembro do mesmo ano. Até hoje ninguém foi culpabilizado pelos eventos. O problema está aí: a impunidade mora ao lado.

O Dia do Fogo foi só o começo de um show de horrores que se tornaria comum em 2020. Desde julho, os biomas da Amazônia e do Pantanal enfrentam incêndios de proporções jamais antes vistas. Enquanto isso, os órgãos ambientais que poderiam agir, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), sofrem com a retirada de verbas e a precarização das condições de trabalho.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já havia sinalizado, durante aquela famosa reunião ministerial de 22 de abril, que era a hora de aprovar medidas, simplificar leis e acabar com burocracias. Com a atenção da mídia voltada para a pandemia de Covid-19, aquele era o momento perfeito de passar a boiada.

Pantanal em chamas pelas queimadas
Pantanal em chamas. Foto: Marcio Pimenta/Redux

Setembro é conhecido pela estiagem e pelos incêndios no país, tanto que em alguns locais é recomendado não colocar fogo na vegetação durante esse período. Contudo, as queimadas na Amazônia e no Pantanal tiveram origem majoritariamente antrópica e o intuito criminoso de derrubar a vegetação nativa para a criação de pastos.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a taxa de desmatamento na Amazônia aumentou em 34% nos últimos 12 meses. Ainda de acordo com o órgão, o bioma totalizou 48,7% do total de focos de fogo deste ano.

Enquanto isso, até o dia 20 de setembro, o Pantanal teve 5.900 focos de queimada, o pior número do mês desde 2005. O Parque Estadual (PES) Encontro das Águas, um dos locais de maior concentração de onças-pintadas do mundo, de acordo com o Instituto Centro da Vida (ICV), teve cerca de 85% da área consumida pelas chamas até o dia 13.

Jaguatirica morta pelos incêndios do Pantanal.
Jaguatirica morta perto de Poconé (MT). Foto: João Paulo Guimarães/Repórter Brasil

O Pantanal possui uma rica biodiversidade com pelo menos 4.700 espécies de plantas e animais, e o fogo já consumiu aproximadamente 19% do bioma. As imagens mostrando as araras-azuis, as onças-pintadas, as jaguatiricas, as antas e os jacarés mortos, machucados ou fugindo das chamas correram pelo mundo, causando indignação e perplexidade.

Na quinta-feira passada (17), durante um evento na Paraíba, como quem brinca com o fogo, Bolsonaro afirmou que o Brasil “está de parabéns” na questão ambiental. Nem todos concordaram com o presidente brasileiro.

O país voltou aos holofotes por conta da pressão internacional consequente da falta de políticas ambientais. A União Europeia (UE) já deixou claro que pode desistir do acordo econômico Mercosul-UE, e o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, também cobrou respostas de Bolsonaro sobre os incêndios.

Jair Bolsonaro durante vídeo do discurso exibido na ONU
Jair Bolsonaro durante gravação do discurso exibido na Assembleia Geral da ONU. Foto: Marcos Corrêa/PR

Nesta terça (22), Bolsonaro abriu com seu discurso a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O presidente alegou ser vítima de “brutal campanha de desinformação” sobre os incêndios ocorridos na Amazônia e no Pantanal, e que as queimadas são causadas por indígenas e caboclos.

O projeto Cortina de Fumaça, da Ambiental Media, comprovou que 72% dos focos de calor na Amazônia em 2019 estavam concentrados em propriedades rurais de médio e grande porte.

Então, antes que as queimadas e o desmatamento se alastrem pelo país como um câncer, é necessário pensar em quem incita a perpetuação e continuidade destas práticas. A natureza clama por uma mudança que Jair Bolsonaro e sua trupe ainda teimam em ignorar. Mas o problema são as ONGs, claro.

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