Os 90 anos de importância do Horto Florestal

A Estação Experimental de Bauru, popularmente conhecida como Horto Florestal, é muito mais do que uma área de lazer

Entrada para a Estação Experimental de Bauru/ Foto: Instituto Florestal


O Horto Florestal de Bauru completa, em 2018, 90 anos de existência. Ele surgiu como uma maneira de reflorestamento da cidade de São Paulo, e hoje, tem grande importância como área de preservação de espécies. Com 43 hectares, o equivalente a 43 campos de futebol, o Horto Florestal é uma unidade do Instituto Florestal, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

Ele é considerado como uma Estação Experimental de Bauru e é dividido em duas áreas distintas, como aponta o pesquisador científico do Horto, José Arimatéia Rabelo Machado: “a área da frente do Horto é uma área de visitação, aberta ao público todos os dias. Já na parte de dentro, fazemos a conservação dos arboretos, espaço destinado às pesquisas”.

Um dos últimos espaços de área verde existentes dentro da área urbana de Bauru, o Horto é repleto de bancos, espaços de lazer como campos de futebol, áreas para corrida e playground para as crianças. O espaço também é utilizado no sentido de educação ambiental e pesquisas, tendo muitos grupos que pedem para visitar a área de dentro do local. A unidade conta hoje com mais de 1200 tipos de árvores nativas e exóticas, e também é casa de diversas espécies de animais, como veados catingueiros, tucanos, seriemas, diversas espécies de aves, cachorro do mato, cotia, quati, lagartos e cobras.

A proposta de reflorestamento


Em 1910, o agrônomo Navarro de Andrade trouxe da Austrália o eucalipto, e o plantou numa área que, 80 anos depois, viria a ser o Horto Florestal de Bauru. A espécie do eucalipto é utilizada para produzir pasta de celulose, usada no fabrico de papel, carvão vegetal e madeira. Navarro, na época, foi contratado pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro para reflorestar áreas desmatadas nas ferrovias, e a escolha do eucalipto resultou na criação de 18 hortos, incluindo o de Bauru.

Entretanto, para a área ser considerada como Horto Florestal da cidade não foi tão simples. Em 1928, o Secretário da Agricultura Fernando Costa, propôs a iniciativa da criação de cinco distritos florestais, com o objetivo de reflorestar o Estado de São Paulo. Escolhidos os quatro municípios, São Paulo, Mairinque, Mogi das Cruzes e Bebedouro, o último a ser selecionado tinha Bauru como uma das opções, concorrendo com Jaú e Lins.

O desempate foi feito de acordo com a posição privilegiada da cidade: perto de três estradas de ferro, Sorocabana, Noroeste e Paulista. O local estipulado para a criação do distrito florestal bauruense estava localizado no bairro da Vargem Limpa, perto da Estrada de Ferro Paulista e tinha fácil acesso à estrada de rodagem até Pederneiras, sendo uma vantagem estratégica no desvio de carregamento de mudas.

O Horto Florestal de Bauru conta com mais de 1200 espécies de árvores/ Foto: Guia Bauru Pocket

“O Horto foi criado com a intenção de produzir mudas para várias cidades da região, mudas pra reflorestamento, para área urbana. Na época que virou Instituto Florestal de São Paulo, aí o Horto foi chamado de Estação Experimental de Bauru. Ficamos como sede da região. Bauru administra Pederneiras e Jaú, e administrava também a Estação Ecológica de Bauru na época”, conta José Arimatéia.


Um misto de espécies

A vegetação natural existente no Horto é o Cerrado. A maior parte de áreas preservadas na cidade de Bauru é composta por essa vegetação, o que também inclui outras áreas de proteção da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do Instituto Lauro de Souza Lima e do Jardim Botânico, a Floresta Urbana, a mata localizada perto do Mary Dota e os trechos situados próximos da avenida José Vicente Aiello.

No Estado de São Paulo, o Cerrado é presente em 267 municípios correspondendo a 41% do território. Entretanto, tem apenas 1% de sua vegetação primitiva remanescente. A cidade de Bauru conta com 8,8% de cobertura florestal, com características únicas, já que está na área de transição com a Mata Atlântica. Dos municípios em que o cerrado existe, é um dos que mais possuem remanescentes da vegetação.

Entretanto, o Horto também sofreu por um período de intervenções: “o Horto foi praticamente todo plantado. Existe o Cerradão, mas não é uma área natural do Cerrado, tem áreas que foram restauradas e essa vegetação se recuperou com o tempo. Também existem árvores exóticas e nativas bem diversas, temos uma coleção de plantas de vários lugares”, explica José.

Bauru conta com 3 Áreas de Proteção Ambiental, chamadas APAs, que correspondem a 66% do território municipal. Elas existem para a conservação da bacia hidrográfica de Bauru, ação importante para o abastecimento público. As APAs são submetidas ao Conselho Gestor (CONGAPA), e esse tem a função de mediar a administração das autoridades bauruenses nessas áreas de proteção.

Leis de proteção e seus obstáculos


Em 2009 o governo do Estado de São Paulo aprovou a Lei do Cerrado, Lei Estadual nº 13.550 para garantir que as áreas não fossem desmatadas. Anos depois, em 2015, Bauru foi o primeiro município do país a incluir o Cerrado em um plano de conservação ambiental ao aprovar o Plano Municipal de Conservação da Mata Atlântica e do Cerrado de Bauru, assinado com a SOS Mata Atlântica.

No mesmo ano, também foi assinado entre a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e a SOS Mata Atlântica a lei que promove a integração entre as duas instituições dentro de ações para a preservação ambiental.

Entretanto, existe um impasse entre os limites da Lei de Conservação do Cerrado e o desenvolvimento urbano da cidade, apontado por parlamentares da Câmara Municipal. Eles pedem a revisão da Lei, alegando que as grandes áreas da vegetação nativa não seriam prejudicadas, mas que as manchas menores na área urbana da cidade impedem a implantação de empresas e outros empreendimentos.

As árvores possuem identificação através de placas/ Foto: Guia Bauru Pocket

Em resposta, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente prometeu revisar a lei. De maneira a achar um equilíbrio entre a preservação e o desenvolvimento. Além desse pedido de revisão de lei, a legitimidade das APAs também vem sendo criticada. O discurso é o mesmo: os parlamentares bauruenses afirmam entender a importância dessas áreas, entretanto querem mudanças nos seus planos de manejo, documento que limita as áreas que podem ser interferidas ou não, e como podem sofrer modificações. Alguns deles até optam pela revogação dessas áreas.

O argumento utilizado por eles foi de que as APAs tiveram sua origem sem a participação popular, e que até poucos anos atrás, elas não tinham a ação do Conselho Gestor (CONGAPA) das suas unidades.

As áreas de preservação ambiental têm sua grande importância e trazem muitos benefícios para a sociedade, chamados de serviços ecossistêmicos, como apontado por Paulo Andreetto de Muzio, do Serviço de Comunicações Técnico-Científicas do Instituto Florestal:

“As áreas naturais regulam o clima, purificam o ar, protegem os recursos hídricos garantindo o abastecimento, evitam alagamentos e desmoronamentos. Muitas vezes essas áreas abrigam espécies ameaçadas de extinção e também são laboratórios vivos de pesquisa científica e espaço para promoção da educação ambiental”.


Ele cita também a Lei Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que dá proteção legal às áreas naturais e as classificam em categorias. Mesmo o Horto sendo considerado como uma Estação Experimental e não sendo incluído dentro dela, comenta sobre o trabalho de uma pesquisadora científica do Instituto Florestal, Elaine Aparecida Rodrigues, que defende que as outras categorias como a do Horto devem ser contempladas pelo SNUC como Unidades de Conservação, tendo assim uma forma de maior proteção legal.

Novos horizontes


Em 2018, surgiu a proposta de que o Horto Florestal passasse a ser administrado pelo município de Bauru, e não mais pela Secretaria do Meio Ambiente, órgão do Estado de São Paulo. A iniciativa veio de uma reivindicação da própria prefeitura de Bauru, que propôs três projetos para revitalização do Horto Florestal.

Ambiente de visitação do Horto/ Foto: Alexandre H. Silva

O primeiro deles seria a mudança da Secretaria Municipal do Meio Ambiente para o Horto, se tornando um “Poupatempo Ambiental”. Outra vantagem seria a aproximação de centros para animais que já existem lá, como a Polícia Ambiental, a Cetesb, a Codasp e a Apta. Outro projeto faz referência ao Abrigo Municipal de Animais Domésticos, que também estaria implantado no Horto, junto de hospitais veterinários e de programas de castração e adoção de animais achados na rua.

Já o terceiro projeto é implantar também o Centro Regional de Triagem de Animais Selvagens, responsável pelo cuidado de animais da fauna regional que forem encontrados na área urbana e que por estarem fora do seu habitat, sofreram algum tipo de problema, como atropelamento ou maus tratos. A cidade hoje não conta com um espaço especializado para isso, e por ser rodeada por áreas florestais, as situações de encontro de animais selvagens com a população é comum.

José explica que essa parceria com a prefeitura de Bauru é uma permissão de uso da área, na qual a prefeitura tomará conta da parte de uso público, trazendo melhorias e estruturas para o público. “Quando eu entrei, em 1995, tínhamos 26 funcionários, hoje temos 8. Antigamente eram produzidas mudas, existiam visitas monitoradas e hoje não conseguimos manter as atividades. Com a parceira com a prefeitura, a intenção é de termos mais funcionários que cuidem dessa parte das visitações”, ele explica.

A construção desses órgãos seriam feitas no lado oposto da área de visitação do Horto Florestal. Estas teriam maior segurança e contariam com mais atratividades de lazer e educação ambiental para a população.

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