Paraísos manchados: a tragédia das praias prejudicadas pelo vazamento de óleo

Mais de mil toneladas de de óleo já foram retiradas de praias do Nordeste.
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Extensa mancha de óleo é vista na praia do Pontal do Peba, vizinha à foz do rio São Francisco em Alagoas — Imagem: Simone Santos/Projeto Praia Limpa


No final do mês de agosto diversas manchas de óleo surgiram em algumas praias do Nordeste e até então já são pelo menos 249 locais, 92 municípios e 9 estados atingidos.

O ministro do meio ambiente Ricardo Salles utilizou o Twitter para ironizar um vídeo no qual o Greenpeace explicava que a retirada do óleo das praias nordestinas deveria ser feita por profissionais com ferramentas especializadas.

No entanto, o vídeo sem cortes mostra que a equipe da ONG está presente em parceria com instituições e órgãos competentes para combater as manchas de petróleo, além de colher depoimentos e documentar todos os ecossistemas afetados pelo desastre.

O Governo Brasileiro afirma ter comprovado que a origem do petróleo é de origem venezuelana, entretanto, o contexto do ocorrido ainda segue sem demais esclarecimentos.

João Luiz Nicolodi trabalhou no Ministério do Meio Ambiente de 2004 a 2009 na Coordenação de Gerenciamento Costeiro e na Agenda Ambiental do Óleo. Ele também coordenou o Mapeamento de Sensibilidade do Óleo da Bacia Marítima de Pelotas, no sul do país.
Em resposta ao Jornal Impacto Ambiental, ele afirma que dentre os impactos dos vazamentos, os animais e os ecossistemas como os mangues são os mais afetados. Ele destaca centros especializados como o Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM), que trabalha a mais de três décadas nesse processo.


Acontecimentos como esse já ocorreram outras vezes no Brasil, resultando em consequências graves para a fauna, flora e ecossistema marinho das regiões. Confira no infográfico a seguir:
Infografia: Vitória Maria 


Consequências para os animais e seus habitats

Além dos ecossistemas, os animais são extremamente afetados pelos vazamentos. O primeiro mamífero a surgir morto por conta das manchas foi um golfinho no litoral do sul de Alagoas, o animal foi encontrado morto na praia no dia 13 de outubro.
Até então o Ibama já contabilizou 17 animais mortos por conta das manchas. Número esse que não inclui as consequências para a fauna marinha, ou seja, o ecossistema do fundo do mar que não somos capazes de enxergar, diferente das praias.
Os animais marinhos são prejudicados uma vez que o petróleo intoxica seu sistema nervoso causando asfixia e morte. As aves que utilizam a água para se alimentar, uma vez que entram em contato com o óleo, têm seu equilíbrio térmico prejudicado, podendo morrer de frio ou calor.
De acordo com o ‘Projeto Cetáceos da Costa Branca’ vinculado à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (PCCB-Uern) informa ao Portal Noar que ao encontrar qualquer animal coberto de óleo na região dos vazamentos é importante:
  • Entrar em contato com a polícia ambiental, relatar o ocorrido e se possível encaminhar fotos e vídeos;

  • Não entrar em contato com o óleo que é tóxico, nem tentar limpar o animal com sabão, areia ou produtos químicos;

  • Não devolver o animal ao mar já que ele precisará de avaliação clínica especializada;

  • Isolar a área, evitar barulhos que estressem o animal;

  • Não forçar a ingestão de líquidos ou alimentos;

  • Proteger o animal do sol com panos limpos ou guarda-sol.

Especialistas afirmam que o impacto causado pelas manchas resultará em décadas de consequências para espécies marinhas e seres humanos. Clemente Coelho Junior afirmou ao G1 que os animais mais afetados são as tartarugas e aves.
Clemente ainda completou que mesmo as praias sendo limpas, ainda podem existem fragmentos que se decompõem, resultando em moléculas que durante décadas ainda serão nocivas ao meio ambiente e à fauna.

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Servidor da Marinha coleta amostras das manchas de óleo em praia do Ceará — Foto: Divulgação/Marinha

Como conter o problema?

Para evitar que o petróleo se espalhe é necessária uma grande força tarefa para retirá-lo da água. Com isso foram desenvolvidas algumas técnicas para auxiliar na limpeza e conter a poluição.
João Nicolodi informa que o Brasil possui, desde 2013, o Plano Nacional de Contingência – PNC, por meio do Decreto 8.127/13. Este Plano deveria ser acionado sempre que um acidente como esse no litoral brasileiro venha a ocorrer, mesmo que a origem do óleo seja desconhecida.
De acordo com ele essas avaliações têm o intuito de mapear áreas atingidas por derramamento de óleo e buscar a determinação da extensão e recobrimento dos ocorridos. Fatores esses que facilitam no processo de avaliação do impacto ambiental e indispensável para a tomada de decisões.
As barreiras de contenção são bastante utilizadas em casos de vazamento e sua utilização contribui para evitar que o petróleo se espalhe para áreas maiores. O skimmer também é útil para absorver o óleo e bombeá-lo para um local de armazenamento.
Já a biorremediação é uma alternativa que utiliza micro-organismos ou dispersantes químicos, a fim de acelerar a remoção do petróleo da superfície da água. E há ainda a possibilidade de remoção manual que ocorre quando a poluição chega até a praia.
Os principais órgãos responsáveis pela avaliação, coleta de dados e redução de danos são a Marinha do Brasil, Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Projeto Tamar e a Agência Nacional do Petróleo.
João também destaca a importância do conhecimento do óleo vazado:

Existem diferentes tipos de óleo, com diferentes composições químicas que os tornam mais ou menos densos.

Este tipo de informação irá definir parte do comportamento do óleo quando o mesmo está no mar, deslocando-se, e também quando esse óleo toca a costa. “Por exemplo: um óleo mais denso em uma praia com areia fina terá um comportamento diferente de um óleo menos denso em uma praia de areia grossa. Essa relação irá definir a forma de limpeza e remoção desse óleo”, exemplifica João.
Ele ainda evidencia a necessidade do conhecimento oceanógrafo e geomorfológico de oceanos e praias. Fatores como densidade da água, ondas, correntes, marés, granulometria do sedimento e declividade são essenciais para definir o “comportamento” das manchas até a costa.
Se encontrar uma mancha, acione imediatamente os órgãos públicos locais lembre-se de não entrar em contato com o óleo. Caso isso ocorra lave o local com água corrente e sabão até remover o material da pele; se houver reações alérgicas procure um posto de saúde o quanto antes.

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Edição: Rafaela Thimoteo


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