Resenha: Our Planet- a beleza da natureza e o estrago humano

O documentário da Netflix mostra, em 8 episódios, a situação atual dos biomas do planeta


Foto de divulgação da série pelo facebook da Netflix (Foto: Reprodução)

Our Planet (ou “Nosso Planeta”, em português) é uma minissérie documental produzida pela Silverback Films em colaboração com a World Wide Fund for Nature (WWF) para a plataforma de streaming Netflix. Com direção de Alastair Fothergill e Keith Scholey, time que produziu “Planet Earth” da BBC, o documentário é dividido em oito episódios narrados pelo naturalista britânico David Attenborough. 

 A minissérie levou quatro anos para ser produzida e teve cenas filmadas em sessenta países, incluindo o Brasil. Os episódios possuem cerca de quarenta e seis minutos cada e apresentam trilha sonora composta pelo britânico Steven Price. Foram mais de três mil dias de filmagens com drones, câmeras escondidas ou manipuladas e mergulhos. Seiscentos profissionais embarcaram em duzentas viagens para gravar o documentário.

  Apesar toda essa produção, o time de Our Planet produziu imagens que colocaram em dúvida os espectadores. As filmagens proporcionam cenas que parecem feitas por CGI (Computer Graphic Imagery), ou seja, computação gráfica. Porém, tudo isso foi produzido com equipamentos avançados e com técnicas de filmagens, e os takes nos aproximam dos animais. Os equipamentos estrategicamente posicionados capturaram sequências que tiram o fôlego de qualquer um, seja pela beleza, grandiosidade ou pelo acontecimento.

 Our Planet está repleto de imagens lindas, que tiram o fôlego de quem assiste. Porém, a verdadeira mensagem que fica ao assistí-lo é como o mundo precisa de medidas urgentes para evitar mais estragos


 A trilha sonora é um espetáculo à parte. Ela complementa a experiência de assistir o documentário. Steven Price, compositor britânico, acompanha a cena minuciosamente, fazendo com que cada música combine perfeitamente com o que está sendo passado. Takes de caça apresentam uma trilha sonora rápida, que te deixa com angústia e medo do que vai acontecer. Quando o predador ganha a disputa, a trilha fica mais calma, mostrando que a vida precisa deste equilíbrio.

 Nos seus oito episódios, Our Planet traz, além das imagens e da trilha sonora, dados e problemáticas sobre a situação atual de biomas e paisagens em vários cantos do mundo. Na introdução da minissérie, descobre-se que 60% da vida selvagem do planeta desapareceu nos últimos cinquenta anos. O “Nosso Planeta” promete exibir, nos episódios e no seu website ourplanet.com, o problema e como ele pode ser evitado ou eliminado.

 Episódio 1: Um só planeta 

 Este episódio é, praticamente, um resumo da série. Ele apresenta dois conceitos que são necessários para a compreensão do nosso planeta: conexão e equilíbrio. A vida animal e a harmonia dos ecossistemas e biomas precisam destes tópicos. Em seus quarenta e oito minutos, o primeiro capítulo procurou exemplos que mostram esta necessidade e dependência. Os desertos soltam na atmosfera terrestre grandes proporções de areia todos os dias. A maioria cai nos oceanos, fertilizando as águas e servindo os nutrientes necessários para algas microscópicas. Estas plantas servem de alimento aos krills, que são comidos por cavalinhas e estas por golfinhos e atobás. Este é um exemplo de conexão essencial e equilíbrio. O episódio vagueia pelas florestas tropicais, pelo Ártico e pelo Peru, mostrando um pouco do que vai ser exibido nos capítulos da minissérie documental. 

 Episódio 2: Mundos Congelados

 Neste episódio, Our Planet leva seu telespectador aos polos. O aquecimento global desequilibra e afeta completamente estes continentes gelados, principalmente o Círculo Polar Ártico. O gelo marinho abriga algas que crescem com a luz solar. Elas são a base da cadeia alimentar polar. Com a diminuição das camadas de gelo sobre o oceano, 50% da população de krills desapareceu nos últimos cinquenta anos no Oceano Antártico. Mas estas mudanças não afetam apenas os polos. Todo o mundo sofre com o degelo. O aumento da temperatura no Ártico é duas vezes mais rápido do que há dez anos atrás. Isto aumenta o nível do mar, muda a salinidade da água e as correntes marítimas, que levam nutrientes para os outros oceanos. Além disso, a camada de gelo devolve a energia solar, diminuindo a temperatura da Terra. Sem isso, os efeitos do aquecimento global são fortificados.

 Episódio 3: Selvas

 O relação de dependência entre animais, plantas e o desmatamento são os dois tópicos mais importantes deste episódio. O telespectador é apresentado à floresta do Congo, Filipinas, Bornéu e à floresta Amazônica. Our Planet explica que o relacionamento entre certos integrantes da fauna e da flora demora milhões de anos para ser formado, porém pode ser desfeito em menos de uma década, ou menos: 100 orangotangos desaparecem por semana graças à atividade humana, afetando o espalhamento de sementes. O documentário apresenta dados preocupantes acerca das florestas mundiais. Bornéu perdeu 50% das suas matas nos últimos 50 anos e 90% da mata primária nas Filipinas desapareceu. A Amazônia possui 3000 km de extensão e abriga 50% da floresta tropical remanescente do planeta. Embora pareça muito, 15 milhões de hectares das matas tropicais são devastados por ano, o que diminui a diversidade de fauna e flora, diminui a armazenação de CO2 e produção de oxigênio, aumenta a temperatura terrestre e diminui o fornecimento de alimento e remédio. Agora uma curiosidade: fontes de sais minerais na floresta amazônica se equivalem aos oásis nos desertos, sendo motivo de disputa entre vários animais. 

 Episódio 4: Mares Costeiros

 Menos que um décimo dos oceanos, mas com 90% de todos os animais marinhos- graças à luz solar, os mares costeiros e seu equilíbrio são os temas do quarto episódio de Our Planet. Suas gramas marinhas absorvem 35 vezes mais gás carbônico do que a mesma área de floresta ambiental, diminuindo o aquecimento dos mares. Os recifes de corais abrigam um quarto das espécies marinhas e sofrem com o aquecimento e caça. Os membros mais importantes destes recifes são os tubarões. Eles ajudam na limpeza, mantendo o equilíbrio das espécies comendo peixes maiores- e assim por diante. A pesca para produção da “sopa de barbatana” diminuiu em 90% a população de tubarões. O aquecimento dos mares também prejudica os corais. Eles expelem as plantas que ficam alojadas dentro dos exoesqueletos, ficando brancos. Entre 2016 e 2017, 1000 km da Grande Barreira de Coral branqueou. Depois de seis meses, a maioria deles estavam mortos. Outro problema apresentado no episódio é a superpopulação de águas-vivas. Elas estão tomando o lugar dos peixes que estão sendo explorados pela pesca industrial. A solução para isso é uma pesca sustentável e leis de proteção. Só assim haverá um mar mais diverso. 

 Episódio 5: Dos desertos aos campos

 Este episódio mostra muita coisa das pradarias e desertos. Desde elefantes que se alimentam graças ao conhecimento transmitido de geração a geração até a destruição dos campos e bisões nos EUA. O capítulo mostra como o aquecimento global prejudica os animais que vivem nos desertos e como a ambição humana está acabando com espécies, seja pela caça, seja pela destruição dos habitats para a construção de lavouras. 

 Episódio 6: Oceanos além das fronteiras

 Desde as grandiosas baleias azuis até os distintos peixes-diabo, este episódio mostra as áreas mais remotas dos oceanos. Na superfície, a sobrepesca industrial está acabando com os predadores marinhos, aumentando o número de lulas e causando um desequilíbrio generalizado. As baleias azuis são, atualmente, protegidas por lei e a população está crescendo, o que mostra a necessidade de conscientização global em assuntos ambientais. Nas profundezas, o documentário mostra os animais exóticos que produzem sua própria fonte de luz, chamada de bioluminescência, para atrair suas presas e Lophelias, recifes de corais encontrados a 500 metros de profundidade. Eles possuem maior extensão do que corais da superfície e estão sendo destruídos por redes de pesca e aquecimento das águas.

 Episódio 7: Água Doce

 Este episódio mostra como a poluição, a agricultura, o aquecimento global e barragens afetam a vida nos rios do mundo todo. Salmões não conseguem subir as correntezas por causa das construções humanas. Peixes-boi não podem mais sair dos oceanos no inverno para se esquentar nos rios, pois os dejetos e a retirada de água para plantações acabam com seu habitat. O aquecimento das águas diminui as camadas oxigenadas, dificultando a vida dos peixes e plantas. 

 Episódio 8: Florestas 

 O episódio dedicado às florestas do mundo mostra a beleza da natureza e a destruição que provém do ser humano. Hoje, apenas 3% da floresta original da ilha de Madagascar continua intacta. A grande maioria da fauna e da flora desapareceu e, além disso, o clima do mundo muda com tamanho desmatamento. A série acaba mostrando o caso de Chernobyl. Mesmo sendo inabitável pelos próximos vinte mil anos, a floresta começou a germinar em uma década, o que atraiu os animais. Os lobos são predadores que prezam por prosperidade e equilíbrio em seus habitats e eles estão de volta na cidade. 
 Our Planet está repleto de imagens lindas, que tiram o fôlego de quem assiste. Porém, a verdadeira mensagem que fica ao assistí-lo é como o mundo precisa de medidas urgentes para evitar mais estragos que levem “o nosso planeta” a um colapso total, condenando a fauna, a flora e toda a humanidade.


Edição: Rebeca Almeida


Um comentário em “Resenha: Our Planet- a beleza da natureza e o estrago humano

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *