A silenciosa morte dos urubus pelo mundo

Os urubus correm risco de extinção em alguns locais do mundo – E isso é um problema muito sério

Os abutres, como são chamadas as espécies da África, Europa e Ásia, correm grande risco (Foto: Henrique Pinto/Flickr)

Dois animais muito peculiares estão na lista de extinção da natureza. O risco de que eles sumam da Terra fez com que os defensores da vida animal emitissem um sinal de alerta. Um é considerado fofinho. O outro assusta muita gente, mas é muito importante para a vida na Terra. 

Saiba quais são eles!

Procurando Nemo enquanto ele ainda existe….

Em 2016, o lançamento da animação Procurando Dory voltou a preocupar cientistas e ativistas da vida marinha. Eles alegam que em 2001, ano em que o primeiro filme da série (Procurando Nemo) foi lançado, houve um aumento de 40% nas vendas em petshops do peixe do gênero Amphiprion. Esse peixinho laranja é mais conhecido como peixe palhaço, e no filme é representado por Nemo e o seu pai, Marlin. 
Para chegarem aos petshops, os animais marinhos são colhidos na Indonésia e Filipinas de maneira insustentável levando ao rápido declínio de suas populações. Conheça mais sobre o assunto clicando aqui.
Peixe Palhaço Impacto Ambiental
Devido ao filme Procurando Nemo, os peixes palhaços tiveram seu ambiente invadido para servirem de mercadoria em petshops
 (Foto: Scuba Fish News)

Vilão nos desenhos, herói na natureza

Do fundo do mar para os céus, os urubus também estão em perigo e desaparecendo desde o início dos anos 90. Porém, diferente dos peixes palhaços, não costumam despertar muita compaixão. E não ajuda muito sua maior fama em desenhos animados como vilão do Pica-Pau, o Zeca Urubu.

Os urubus podem acabar se tornando apenas personagem de ficção animada se continuarem a desaparecer
(Foto: Legião dos Heróis)

“Espécies mais carismáticas recebem muito mais atenção que espécies com menos apelo. Mamíferos e aves, por exemplo, mais coloridos e “fofinhos”, têm a atenção da mídia e do público, enquanto anfíbios e insetos passam desapercebidos, embora muitos estejam em situação bastante crítica”, alerta o professor Marco Aurélio Pizo, integrante do departamento de Zoologia da Unesp de Rio Claro.

Uma pesquisa recente da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, colocou o recorrente problema dos urubus novamente em foco. A pesquisa traz dados alarmantes sobre essas aves que estão entre as mais ameaçadas dentre todos os pássaros existentes, em especial, as famílias que vivem nos continentes africano, asiático e europeu.

Infográfico feito pelo site “Eu Quero Biologia” mostra alguns dos tipos de aves que vivem nos continentes

Nesses continentes, os urubus têm uma aparência um pouco diferente dos que encontramos por aqui, pois pertencem a famílias genealógicas diferentes. Por lá, só existem a família dos abutres.

O Condor da Califórnia, parente dos urubus e abtures, também está ameaçado de extinção (Foto: Evan R. Buechley)

“Esta pesquisa e muitas outras focam principalmente urubus (ou abutres) que vivem principalmente na África, Europa e Ásia. Eles apontam ainda o Condor da Califórnia, da América do Norte, que sofreu com este problema também. No caso dos nossos urubus, estes não tem sofrido com estes problemas”, explica o biólogo Weber Galvão Novaes, especialista em população de urubus encontrados no Brasil, como o urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) e urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura).

As aves desses continentes correm sérios riscos de serem extintas por estarem se alimentado de carcaças de animais contaminadas por substâncias tóxicas.  A substância mais perigosa encontrada nessas carcaças é o Diclofenaco, uma droga anti-inflamatória muito barata administrada em gado de corte.

Diclofenato Impacto Ambiental
O Diclofenaco ainda é permitido em alguns países, entre eles, o Brasil
(Foto: Icbp.org)

Após a substância ser introduzida  no continente asiático no inicio do século passado, o número de urubus diminuiu em até 99,9 % em apenas 15 anos. Isso porque o urubu não tem capacidade de excretar a droga presente nas carcaças de gado. Aos poucos, o Diclofenaco começa a cristaliza-se dentro do organismo do urubu, causando-lhe desidratação, falência renal e, por fim, sua morte.

urubu morto Impacto Ambiental
Após consumir uma carcaça contaminada, o urubu pode morrer em até 24 horas
(Foto: The Straits Times)

Perigo para o ser humano e desequilíbrio para o meio ambiente

Sem os urubus, as carcaças dos animais ficam expostas no meio ambiente. Aurélio alerta que o maior problema nisso é o aumento de animais que podem transmitir doenças. “Para os humanos, isso significaria o aumento de espécies indesejáveis e potencialmente transmissoras de doenças, como moscas e roedores”, comenta o professor.

Além de servirem como “faxineiros” do meio ambiente, os urubus são de extrema importância para o meio em que vivem. “Eles desempenham papel fundamental na cadeia alimentar, removendo grandes quantidades de animais mortos da natureza diariamente. Já existem estudos que apontam para estes prejuízos, tanto naturais, como disseminação de doenças, e até financeiros”, afirma também Weber.

Documentário mostra a extinção dos abutres na Índia

O minidocumentário O Desaparecimento dos Abutres (2007, 17 minutos, aproximadamente) foi feito pelo produtor de filmes e ambientalista Mike Pandey para mostrar em detalhes o que o Diclofenaco fez com a população de urubus na Índia.

Você pode assisti-lo com legendas em português no link abaixo.

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