Guia de Profissões: Oceanografia

A Oceanografia – ou Oceanologia – é uma ciência que estuda o oceano e suas zonas costeiras


Tornado de peixes (Foto: Octavio Aburto)

Nesta formação, analisa-se os processos naturais e os aspectos particulares dos oceanos e zonas costeiras a partir do campo de estudo de diferentes áreas, como a Física, Biologia, Geologia e a Química.

De acordo com Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO), “o oceanógrafo é um profissional de formação técnico-científica direcionada ao conhecimento e à previsão do comportamento dos oceanos e ambientes transicionais sob todos os seus aspectos”.

Usando conhecimentos de diversas áreas, principalmente das ciências exatas, exige-se do oceanógrafo um conhecimento inter, trans e multidisciplinar, além da habilidade de interpretação e previsão dos fenômenos que acontecem no oceano.

Áreas de Atuação

O curso é pautado pelas grandes áreas das ciências exatas e da terra, oferecendo uma diversidade de áreas de atuação ao profissional, segundo Regina Rodrigues, professora de Oceanografia Física na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Regina também é coordenadora do setor de Desastres Naturais da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA).

Atualmente, todas as áreas de atuação da Oceanologia se encontram ativas no mercado. Porém, de acordo com Rodrigues, há destaque para a empresarial, que pertence ao setor privado. Já no setor público, as áreas acadêmicas proporcionam uma fonte importante de empregos.

Confira as principais áreas de atuação:

Oceanografia Física

Estuda, principalmente, os processos físicos que ocorrem nos oceanos, que incluem ondas, marés, correntes marítimas, características físicas da água do mar, o efeito dos oceanos no clima, interação entre mar e atmosfera, circulação oceânica de grande escala e/ou costeira.

Oceanografia Química

Envolve os processos químicos e físico-químicos do ambiente marinho, analisando possíveis problemas e buscando formas de amenizar seus efeitos colaterais, como a poluição dos oceanos e contaminação por petróleo.

Oceanografia Biológica

Analisa os seres vivos marinhos, incluindo áreas de ecologia e distribuição dos animais (desde bactérias até os grandes mamíferos marinhos), pesca etc.

Oceanografia Geológica

Estuda o fundo oceânico, geofísica marinha, sedimentação marinha (transporte de sedimentos), dinâmica e morfologia de praias, entre outros.

Gestão Ambiental

Inclui toda a parte de gestão do meio ambiente costeiro, gerenciamento da urbanização e de outras atividades humanas, preservação ambiental costeira e o manejo sustentável dos recursos ambientais.

Pesquisador em seu barco, em expedição na Antártida (Foto: Amyr Klink)

Locais e universidades

O curso de Oceanografia costuma ser oferecido em faculdades localizadas próximas ao litoral, em razão de uma maior facilidade de acesso ao objeto de estudo: o oceano.

Algumas das universidades que oferecem o curso são: Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre outras.

Relatos de Oceanógrafos

Motivações

Douglas Vieira da Silva, 27 anos, formado em Oceanografia pela USP em 2015, diz que sua maior motivação em prestar o vestibular para esse curso foi, além de seu interesse em ciências, como o oceanógrafo tinha destaque na mídia na época, principalmente com o vazamento de óleo no Golfo do México e acidificação dos oceanos.

“Minha primeira opção foi Biologia, mas percebi que as ciências exatas me agradavam mais, então escolhi Oceanografia, pois na época fiquei muito motivado com a forma que essa profissão aparecia na mídia”, revela Douglas.

Lorraine Nair, 20 anos, estudante de Oceanografia da UFSC, diz que sua maior motivação em ingressar o curso foram os segredos que o mar guarda: “acredito que o que me motivou foi a curiosidade de certa forma, e o amor pelo mar“.

Já Jorge Passos, 27 anos, estudante do ultimo ano de Oceanografia da USP, motivou-se pela grande extensão das áreas das ciências e como ela poderia sempre apresentar algo novo: “o meu desejo sempre foi aprender sobre aquilo que pode parecer trivial, mas que na verdade está longe de ser, como os oceanos.”

No curso

De acordo com Vieira, os alunos logo no primeiro semestre já fazem estudos de campo, desde a aprendizagem técnica de coleta de organismos, água e sedimentos, até os ensinamentos de normas de segurança e primeiros socorros. “O aluno sempre terá um contato com o ambiente marinho, de forma direta em atividades de campo ou indiretamente trabalhando com amostras coletadas do mar e que são usadas em laboratório. Sendo que para obtenção do título, ele ainda precisa de uma quantidade de horas embarcadas em cruzeiros de pesquisa.”

É importante que o aluno entenda que a quantidade de matérias e as relações trans, multi e interdisciplinaridades exigentes são parte importante do curso, pois entender o oceano é uma tarefa difícil. “Para nós, o oceano é um sistema complexo, então é natural que ao longo da graduação o aluno tenha que estudar várias disciplinas, pois cada uma delas fornece uma nova forma de entender o oceano”, explica Douglas.

Para Nair, a complexidade das matérias faz parte do processo para se tornar um Oceanógrafo: “acho que a grade oferece aquilo que realmente precisamos aprender para sermos bons profissionais no futuro, à altura do mercado de trabalho dessa área”.

Estudantes realizando atividades a beira mar (Foto: JL Rosa)

Horas de embarque

O Instituto de Oceanografia da USP, de acordo com Passos, conta com duas bases de pesquisa localizadas no litoral sul e norte de São Paulo, e também com três barcos e um navio. Exige-se 150 horas de atividades em embarque para que o aluno se forme. “Alguns alunos são contra essa exigência. Não é o meu caso, muito pelo contrário, eu tenho muito prazer em estar embarcado e me formarei com mais de 800h de embarque”.

Vieira conta que cursar Oceanografia foi uma experiência transformadora, onde obteve contato com profissionais, professores e amigos motivados, que agregaram conhecimento além do apresentado no currículo: “vale a pena acrescentar que a Oceanografia consegue atrair pessoas que possuem paixão pelo que fazem e isso faz toda a diferença para um curso tão difícil”.

Dicas importantes

Por fim, cada um deixa uma dica para aqueles que pretendem seguir carreira na Oceanografia.

Para Douglas Vieira, “o aluno deve ter em mente todo o curso como um processo contínuo. O conhecimento vai se somando, e ao longo de 5 anos, os pequenos esforços fazem muita diferença no final”.

Lorraine Nair, fala que os alunos devem estar prontos para enfrentar o que o curso oferece: “Venham preparados. A faculdade é muito diferente do que a gente imagina, ou do que nos contam, e se já é difícil entrar, é ainda mais difícil permanecer. Temos novos problemas, questionamentos e dúvidas e isso interfere demais nos nossos estudos”.

Já para Jorge Passos, o mais importante é a pessoa estar motivada a experimentar coisas novas e entender o que mais a agrada sem ter medo de errar. “Gostar ou não de algo é tão natural e respeitável. Então, não deixe de experimentar por si mesmo. Se for de sua vontade, converse com graduandos, com graduados, conheça a ementa do curso… Procure fazer aquilo que faz você se sentir bem”.

Para se inspirar, leia também:
– Lixo é o indicador de desigualdade social da Praia Grande
– Procurando Cirurgião-patela
– O peixe que você consome pode estar fazendo falta no mar

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