Pedalagua: Uma cicloviagem pelo consumo consciente

Por: Milena Almeida

Cansado de dar aula sobre a Amazônia sem nunca ter conhecido aquela região, o professor de geografia Marcio Francisco Martins decidiu em 2012 que viajaria pelo Brasil para saber mais sobre o que falava em sala de aula.
Quatro anos depois, em janeiro de 2016, ele desembarcou do avião com sua bicicleta em Altamira – PA e iniciou sua ciclojornada de 11 meses, atravessando 13 estados e conhecendo quatro domínios morfoclimáticos: Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica.
Marcio conheceu quatro domínios morfoclimáticos, ou seja, unidades paisagísticas que representam a combinação de um conjunto de elementos na natureza, como relevo, clima e vegetação. Foto/Reprodução: http://pedalagua.com/ciclo-jornada/
Após presenciar uma série de episódios relacionados a crise hídrica enfrentada pelo país, a viagem que teria o propósito de lazer acabou despertando em Márcio a questão norteadora do projeto: 

qual é valor da água? 

Amazônia

“Quando eu passei pela Amazônia, o pessoal falava de uma seca na região devastada de Belo Monte. Eu peguei só dois dias de chuva em quinze que eu fiquei lá, isso em janeiro, que é temporada do verão e para gente é passado que na Amazônia chove todo dia, então eu fiquei assustado”.
“A amazônia era um lugar que eu tinha saudade mesmo sem nunca ter ido. Mas eu só pude conhecer a área mais desmatada, próximo ao Belo Monte”. Foto: Marcio Francisco Martins

Caatinga

“Quando eu cheguei na Paraíba, comecei a consumir água de cisterna e tinha dificuldade para encontrar. Nunca faltou água pra mim, mas eu tomava água salobra [mistura de água doce e salgada]. Um dia eu conversei com o Sr. Inácio, do Sítio do Jacú na Paraíba, e ele falou que a vida lá sem cisterna era difícil. Então eu perguntei quanto ele pagava pela água e ele respondeu: ‘não quero nem falar o valor da água que depois vocês vão querer cobrar mais’. Na hora que ele falou o valor da água, aquilo me impactou”.

No final de 2015, cerca de 1.000 cidades da região Nordeste declararam estado de emergência devido ao período de seca. Foto: Marcio 
Cerrado

“Uma coisa que sempre era dito na faculdade, mas que eu não fazia muito sentido pra mim na época, era o impacto sócio-cultural e econômico sobre as pessoas da região do Rio Doce que não podem mais ter o modo de vida que elas tinham. O povo de lá é muito pobre hoje e eles não podem nem se alimentar do rio. Mesmo assim tem alguns que continuam se alimentando dele e isso me impactou bastante: ver as pessoas não podendo fazer aquilo que elas fizeram a vida toda. Se você der dinheiro para elas, elas podem até gastar, mas não vão voltar a ser felizes. Parece hipocrisia, mas as pessoas de lá não vão saber gastar esse dinheiro e nem têm onde gastar.Isso foi o que mais me impactou”.

A lama pobre com rejetos da barragem rompida transformou a terra dos locais atingidos em inférteis. Foto: Marcio Francisco Martins 
Mata Atlântica

“No final de 2015 o contexto era o volume morto do Cantareira consumido pela população de São Paulo, então tudo aqui falava sobre água” e a crise hídrica pela qual a região Sudeste estava passando. Marcio mora em Jaú, interior de São Paulo, portanto a região da Mata Atlântica faz parte do cotidiano do professor.
Entre os anos de 2014 e 2015, o período da estiagem que se instaurou na região Sudeste e o aumento do consumo de água na região paulista fez com que o Sistema Cantareira operasse em seu volume morto, com ameaça de esgotamento.
Foto: Marcio Francisco Martins
Da conversa com o Sr. Inácio na Paraíba, nasceu o propósito do projeto Pedalagua: perguntar ao maior número possível de pessoas qual é o valor da água para elas e, com isso, tentar impactá-las de forma a se conscientizarem sobre a necessidade de um consumo responsável. 
Marcio reuniu, ao longo da viagem, material áudio visual sobre o tema e atualmente trabalha na produção de quatro documentários, com duração de cinco minutos cada, para serem distribuídos gratuitamente pelas escolas da rede pública e particular de todo Brasil, a partir de 2019. Além disso, o professor reúne as experiências que teve ao longo da viagem em um livro que está sendo produzido por ele e colaboradores. 

E pra você, leitor, qual é o valor da água? Para responder essa pergunta ao Marcio e saber mais sobre o projeto é só acessar http://pedalagua.com/.


Editora:Beatriz Bethlem


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