Precisamos falar sobre lixo!

Volume de resíduos que chega ao aterro sanitário aumenta e a coleta seletiva torna-se ineficaz


Aterro Sanitário de Bauru. Foto: Marcos Cardinalli

Parece que falar sobre lixo já deu o que falar! Afinal, quase todo mundo sabe que se deve separar o lixo orgânico do reciclável. Mas não é bem isso o que os números demonstram.
De acordo com Alessandra Pinezi, Gerente Ambiental de Resíduos Especiais e Aterro Sanitário da EMDURB, apesar de todo o trabalho de conscientização a respeito do lixo, a quantidade dos resíduos que chegam ao aterro aumenta a cada ano.
Segundo os Relatórios do Inventário Estadual de Resíduos Sólidos, publicados pela CETESB, a quantidade de resíduos sólidos urbanos (RSU) recebida pelo aterro sanitário de Bauru, em 2015, foi de 324,77 toneladas por dia. Em 2014, o RSU foi de 322,62. O aumento do lixo produzido de um ano para outro corresponde a 2,15 toneladas diárias.

Foto: Marcos Cardinalli
O aumento do volume de lixo que chega ao aterro pode indicar uma crise socioambiental. Segundo Alessandra, há diversos fatores que contribuem para a grande quantidade de resíduos que chega ao aterro diariamente: o crescimento da população, o aumento desenfreado do consumo e a falta de sensibilização das pessoas sobre a participação individual, tanto no processo de diminuição do consumismo, quanto na separação correta dos materiais recicláveis.

Para a professora Jandira Talamoni, coordenadora da Câmara Técnica de Educação Ambiental, o problema do aumento de resíduos é o consumismo e a produção de embalagens.

A problemática da reciclagem

Em Bauru, existe o programa de coleta seletiva. Os materiais recicláveis são coletados uma vez por semana e destinados às três cooperativas de reciclagem existentes na cidade. Entretanto, parece que ainda não é eficaz para reduzir a quantidade de lixo. “A coleta seletiva representa uma parcela muito pequena do que chega ao aterro, pois a maior parte dos materiais recicláveis continua misturada ao lixo orgânico, sendo aterrados no local”, afirma Pinezi. Além disso, não só recicláveis são descartados incorretamente, mas outros materiais que são extremamente prejudiciais ao meio ambiente, como pilhas, baterias e remédios, pois contém metais pesados e outras substâncias tóxicas.

Coleta seletiva para de crescer em Bauru

Talamoni explica que a coleta seletiva não é tão eficiente em Bauru principalmente por motivos estruturais e culturais.

Pedacinho de chão

Outro problema do lixo é o espaço reservado a ele. Recentemente, em Bauru, houve problemas com a capacidade do aterro sanitário, que havia se esgotado. A solução encontrada foi aumentar a área destinada a esse fim. Contudo, o aterro atingiu novamente o limite de sua capacidade.
Para isso, é necessário desmatar uma nova área de floresta. O desmatamento destrói ecossistemas inteiros. Árvores adultas e toda a vegetação são substituídas por inúmeros sacos de lixos, e todo tipo de resíduos – orgânicos ou não – são descartados ali, já que não há uma separação efetiva de materiais.

A professora Jandira fala, entretanto, sobre a importância do reflorestamento em áreas desmatadas. Segundo ela, se feitas com planejamento, podem beneficiar muito os ecossistemas, pois criam corredores ecológicos para a migração das espécies animais.

Desdobramentos do lixo

O maior problema dos aterros e lixões não é receber o lixo, mas quais as consequências disso. Os resíduos descartados ficam à mercê dos fenômenos naturais, como sol, chuva, vento e calor e, com isso, ocorrem inúmeras reações químicas. No processo de decomposição, por exemplo, libera-se o gás metano e um líquido conhecido como chorume.
Muitos animais se alimentam do lixo dos aterros, como insetos, urubus e roedores, que podem se tornar vetores de diversas doenças. Além disso, como não há separação de materiais, os resíduos podem ser tóxicos e contaminar o meio ambiente.
Foto: Marcos Cardinalli

“Atualmente as quantidades de chorume variam entre 40m³ por dia em períodos de seca, chegando até a 60m³ por dia em períodos de alta precipitação (chuvas). O volume de gás metano não recebe uma aferição “in loco” (avaliação no local), sendo muito difícil mensurar a quantidade produzida”, comenta Alessandra. “O gás metano gerado é lançado na atmosfera através dos drenos de gás instalados em toda área do aterro”, explica.
Quanto ao chorume gerado, de acordo com Alessandra, é retirado diariamente e transportado para estações de tratamento de esgoto, onde recebem o tratamento adequado antes de ser lançado no ambiente.

Talamoni diz que para vencer o problema do aumento de resíduos é importante a ação individual, em conjunto com políticas públicas. A problemática deve ser vista também como uma questão social.

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