Projeto da UNESP implementa uso do bambu para facilitar o dia a dia

Projeto Bambu, esforço conjunto de alunos de vários cursos, visa estudar e desenvolver projetos de pós-graduação com uso da matéria prima.

Por João Pedro Nieri

Idelizado pelo Prof. Dr. Marco Antônio dos Reis Pereira em 1990, o Projeto Bambu continua a desempenhar um papel fundamental na pesquisa e disseminação da cultura do bambu no interior de São Paulo. Sob a orientação de Marco, o Laboratório de Experimentação com Bambu da UNESP de Bauru se destaca por seu comprometimento com o ensino, a pesquisa e a promoção da sustentabilidade.

De acordo com o professor, o projeto é uma iniciativa abrangente que engloba diversas áreas, desde a formação de alunos até o desenvolvimento de produtos inovadores. “O Projeto Bambu é um esforço conjunto de alunos dos cursos de Design, Arquitetura, Artes e Engenharia, dando origem ao Grupo Taquara, que desempenha um papel crucial em nossos projetos de pós-graduação”, afirma.

O Laboratório oferece uma infraestrutura completa para pesquisas, incluindo equipamentos, matéria-prima, maquinários e orientação técnica. Os estudos em laboratório visam fornecer dados precisos sobre as características físicas e de resistência mecânica do bambu, fundamentais para avaliar sua qualidade e potencial tecnológico.

Além disso, o espaço ainda abrange uma marcenaria, onde os alunos propõem e desenvolvem uma variedade de produtos, incluindo laminados colados utilizados em pisos, painéis, cabos de ferramentas agrícolas e elementos para a construção civil, rural e moveleira. Essa abordagem prática oferece aos estudantes uma experiência valiosa na aplicação prática de seus conhecimentos.

Uma das características marcantes do Projeto Bambu é sua plantação própria, estabelecida em 1998, abrangendo uma área agrícola de 1,5 hectares na Área Experimental Agrícola do Departamento de Engenharia Mecânica da Unesp. Esta plantação é dedicada ao cultivo e estudo de 30 espécies, com destaque para 12 prioritárias de bambu, seguindo orientações fornecidas pelo INBAR (International Network for Bamboo and Rattan, 1995).

Marco ainda destaca que o Projeto Bambu vai além da pesquisa e do cultivo, abrangendo o desenvolvimento de projetos, capacitação, estruturas, instalações, cultivo de espécies e produtos artesanais e processados. Uma colaboração estreita com os agricultores da comunidade do Assentamento Horto de Aimorés em Bauru demonstra o compromisso do projeto com a inclusão social e o desenvolvimento sustentável.

Projetos de sucesso

No cenário brasileiro, onde cerca de 18,6 milhões de pessoas vivem com algum tipo de deficiência, a inclusão social torna-se uma pauta essencial. Dados recentes do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania revelam que as pessoas com deficiência (PCDs) enfrentam desafios significativos no acesso ao mercado de trabalho e à educação.

Com isso em mente, surgiu, dentro do Projeto Bambu, uma pesquisa de doutorado inovador, idealizado por João Victor Gomes dos Santos, agora doutor em Design pela FAAC. João identificou uma lacuna crucial no acesso a próteses para pessoas com amputações. Inspirado pelo compromisso social do projeto, Santos decidiu utilizar o bambu como matéria-prima acessível e sustentável para desenvolver próteses transtibiais (região abaixo do joelho).

Essa abordagem inovadora não apenas busca reduzir custos, com uma estimativa de produção em torno de R$900 ante aos quase R$5000 de uma prótese de metal, mas também atende a questões ambientais, uma vez que o bambu é uma matéria-prima biodegradável e renovável. O orientador do pesquisador, Marco Antonio dos Reis Pereira, destaca que “o bambu é um material muito versátil, com excelentes características físicas e mecânicas”. Vale salientar, contudo, que o projeto não visa competir com próteses convencionais, mas sim atuar como uma solução transitória para aqueles que aguardam por próteses oficiais pelo SUS ou outros meios.

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