Aproveitamento integral dos alimentos: Junção de saúde e consciência ambiental

Como a prática pode ajudar a diminuir a quantidade de resíduos produzidos no mundo


Segundo a nutricionista Laura Alonso “Cascas, talos, sementes e raízes são comestíveis e precisam sair da visão de lixo”. Foto: Depositphotos.

A pandemia do Coronavírus tem modificado a rotina de pessoas ao redor do mundo em diversos aspectos e um deles é a alimentação. A necessidade de manter o isolamento social é uma das razões de dificuldades financeiras, aumento nos preços dos alimentos e tem feito com que muitas pessoas encontrem dificuldades em manter um plano alimentar nesse período.

Para a nutricionista e conselheira do CRN-3 (CRN-3 – Conselho Regional de Nutricionistas SP-MS), Laura Alonso “Quando você desperdiça um alimento, até mesmo aquela sobra da geladeira, acaba desperdiçando toda uma cadeia produtiva, incluindo os recursos naturais, mão de obra, tempo e ainda acaba aumentando o volume de resíduos que também impacta no meio ambiente e nos ecossistemas”.

O Brasil está inserido em uma cultura de desperdício e se encontra no ranking de países que mais desperdiçam alimentos no mundo segundo o World Resources Institute. O país também é responsável por 40% dos resíduos produzidos na América Latina.

Como aproveitar melhor os alimentos?

Segundo a nutricionista Laura Alonso a sociedade tem muito a evoluir sobre esse tema. “Pense no alimento, ele é perfeito e completo, por qual motivo alguns deles devem ser descascados? Se forem, onde as cascas podem ser usadas? Se engana quem pensa que casca de cebola, alho, raízes e talos de salsinha não tem uso… tem sim!“

Laura explica que nossa relação com a alimentação precisa ir além da esfera nutricional, pois a necessidade de se alimentar remete a diversos outros aspectos que vão além disso, como o prazer, cultura, crenças, saberes, aspectos sociais, ambientais, resistência e diversidade.

Ela alerta que padrões de beleza – impostos até para alimentos – são uma das razões para as pessoas não praticarem o consumo integral dos alimentos. 

Não é porque a banana tem manchas que ela está imprópria para o consumo, ou não é porque a forma de um alimento não está de acordo com o que é visto na mídia, que ele não está bom.

Diminuir o desperdício também é saber comprar, principalmente no cenário de pandemia. Escolher alimentos perecíveis sem exagero, conservá-los de maneira correta e cozinhá-los de forma que sejam utilizados para mais de uma refeição, são algumas das opções.

Não é necessário utilizar todas as partes do alimento em uma única receita. Algumas partes podem ser congeladas e utilizadas posteriormente em diferentes refeições. Escolhas que ajudam a reduzir a necessidade de saída para mercados ou feiras.

O Jornal Impacto Ambiental separou algumas ideias práticas de como determinadas partes de alimentos podem ser preparadas:

  • Cascas de abacaxi, jabuticaba, manga, maçã, pera podem ser utilizadas para fazer sucos, chás ou até mesmo para aromatizar a comida;
  • Sobras de arroz e feijão podem ser utilizadas em bolinhos, sopas e tutu tortas;
  • Folhas de cenoura, beterraba, batata doce, couve-flor, rabanete e mostarda podem ser utilizadas em saladas ou temperos;
  • Cascas de batata inglesa, mandioquinha, cenoura, nabo ou beterraba podem ser fritas e servidas como aperitivos;
  • Talos de couve-flor, brócolis, couve e beterraba podem ser usados em farofas, cremes, patês, sopas, e até mesmo em caldos de legumes;
  • Entrecascas de melancia, maracujá e melão podem ser utilizadas em farofas, doces e saladas;
  • Casca de ovos, maracujá, laranja e uva podem se tornar farinha;
  • A nata pode ser usada para fazer bolachas, biscoitos e manteiga;
  • Pães adormecidos podem ser usados para preparar farinha de trigo e torradas. Também podem ser temperados e servidos com patês, além da possibilidade de fazer tortas, pudim, pizzas, bolinhos e rabanada.
  • Bagaços de fruta podem incrementar o preparo de bolos, molhos, doces e geleias.

Cuidados ao aproveitar os alimentos

Por conta dos agrotóxicos presentes em muitos dos alimentos, o cuidado com a higienização se torna ainda mais imprescindível. Uma técnica muito comum que pode ajudar a diminuir a ingestão de resíduos é deixar o alimento de molho em água misturada com vinagre, bicarbonato de sódio ou água sanitária.

Para Daniela Delfini, consultora em sustentabilidade, dona da página @sustentaoque e parceira no @naoselixe, apesar da necessidade de estarmos sempre atentos às condições do alimento, precisamos pensar que muitas das datas impostas são apenas convenções, se o alimento em questão estiver armazenado em boas condições.

Precisamos primeiro entender o funcionamento dessas convenções e depois voltarmos a acreditar nos nossos sentidos e no bom senso. É preciso observar a aparência, provar e repetir isso até voltarmos a confiar nos nossos instintos de saber o que é ou não prejudicial a nós.

Benefícios de aproveitar melhor os alimentos

Consumir as partes não convencionais dos alimentos, muitas vezes traz ainda mais benefícios, uma vez que elas possuem mais nutrientes, fibras, vitaminas e minerais e também auxiliam na prevenção de doenças.

Ainda para Daniela “Desperdiçamos cerca de 30% de tudo o que é produzido, isso implica em resíduos não tratados e em problemas sociais, como fome e os decorrentes dela. Ou seja, se a saúde for vista não apenas como uma condição individual, mas parte relacionada ao contexto social, isso trará saúde para todos, inclusive para o indivíduo”.

Quanto mais conhecimento das técnicas, mais mudanças individuais acontecerão, evitando resíduos e impactos ao meio ambiente. Quer saber mais sobre o assunto? Confira também nossa matéria sobre compostagem.

Edição: Nayara Delle Dono.

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