Um dos maiores produtores agrícolas mundiais, o Brasil se destaca pela produção de alimentos matéria-prima
Um dos maiores produtores agrícolas mundiais, o Brasil se destaca pela produção de alimentos matéria-prima. Arte: Victória Roberta |
Esta reportagem foi elaborada para o Prêmio ABAG/RP de Jornalismo “José Hamilton Ribeiro”. A escolha pelo “Impacto Ambiental” veio por meio da participação da autora no projeto e a similaridade que ele possui com o tema “segurança alimentar”.
Em 2018, o Brasil conquistou a medalha de bronze no pódio dos países exportadores agrícolas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Grande parte dos produtos agrícolas são considerados commodities. Estes produtos primários são matéria-prima para outros e produzidos em larga escala podem ser armazenados em estoque sem que haja perdas significativas.
Para onde vai todo esse alimento?
Soja, trigo, arroz, feijão e milho estão entre as commodities agrícolas brasileiras. Foto: Unsplash |
Entre os principais destinos destes alimentos estão China, Estados Unidos, Holanda, Japão, Irã. A trajetória é feita baseada nas necessidades dos países consumidores e nas relações exteriores com o Brasil. Quando há uma alta demanda por determinada commodity, o seu preço tende a aumentar, funcionando de acordo com a lei da oferta e procura.
Segundo a professora Andreia Adami, pesquisadora de macroeconomia do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) do Esalq/USP, os alimentos que são exportados e os que permanecem no Brasil, podem ser os mesmos. Apenas alterando em algumas questões mais específicas do país importador, como normas sanitárias ou técnicas no caso das carnes.
China e Brasil: a grande exportação de soja
A China é o principal parceiro comercial do Brasil, tendo a soja como o principal produto consumido pelo país asiático. Em 2019, o Brasil exportou cerca de U$60 bilhões, 33% deste total representa a soja triturada. Um dos motivos para o país importar esta quantidade de soja é suprir as necessidades internas, destinando grande parte para a ração animal.
Inflação e a pandemia: cesta básica a preço de ouro
Ao contrário do preço sentido nos bolsos dos brasileiros, a inflação alcançou um dos seus menores níveis no Brasil. A taxa oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está na média de 2%, abaixo da meta oficial, 4%. Porém, o número não reflete o aumento de custos durante a pandemia, principalmente para quem ganha menos.
A ideia de um possível desabastecimento e a compra imediata de itens básicos como alimentos e produtos de higiene deu início a uma insegurança de aquisição de mercadorias. Outro fator que pressionou o aumento do consumo foi o isolamento que levou famílias a aumentar o nível de comida comprada. Famílias que possuem uma renda maior, tem mais acesso a uma alimentação diversificada. Já os mais pobres, com a limitada gama de opções, a pressão no bolso acabou sendo maior.
O índice que afere com precisão o aumento dos preços é o Índice de Preços no Consumidor (INPC), que mede a inflação dos mais pobres, porque a cesta básica de consumo é composta pelos itens mais consumidos por famílias que recebem até cinco salários mínimos.
O arroz se destacou por conta do seu aumento de preço nos últimos meses. Foto: Pierre Bamin – Unsplash |
Um alimento que tem chamado atenção pela alta é o arroz. Presente diariamente nas mesas dos brasileiros, o arroz se tornou um verdadeiro item de luxo. Entre os componentes da cesta básica, o arroz subiu cerca de 19% entre janeiro e agosto deste ano, demonstrou o relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Para Ciro Antonio Rosolem, professor do Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, apesar da atual crise, as pessoas mais pobres têm o acesso maior aos alimentos quando comparado a 2000.
A agricultura tem sido extremamente eficiente. O desenvolvimento tecnológico e a aplicação de técnicas como adubação adequada, controle racional de pragas e doenças, uso de ferramentas transgênicas, entre outros, permite a redução de custo do alimento no Brasil.
(In)segurança alimentar: as incertezas da fome
A diversidade de alimentos é fundamental para uma vida saudável. Foto: Unsplash |
A pandemia do coronavírus acentuou as ameaças da fome na vida dos brasileiros. A triste realidade afetou a dinâmica de muitas famílias. A Segurança Alimentar, é definida pela garantia do acesso intermitente à quantidade e qualidade necessários para a vivência, assegurando a saúde e bem estar dos cidadãos.
A ONG Banco de Alimentos fundada em 1998 pela economista Luciana Chinaglia Quintão com a proposta de fazer a ponte entre lugares onde sobra e falta comida. A organização recolhe alimentos que já não possuem valor para o comércio, mas que se mantém em condições de consumo e os transportam para onde é necessário. Ao invés de descartar alimentos que não foram vendidos, a doação dos excedentes alimenta milhares de pessoas que os recebem através de instituições parceiras do projeto.
Em entrevista, Luciana contou que se deparou com a desigualdade muito cedo. Carioca, nascida em Ipanema e moradora da Gávea, observava diariamente as diferenças entre o bairro e a Favela da Rocinha. Inconformada, sua ideia é de ajudar o coletivo e tornar o Brasil um país sem fome.
Equipe da ONG Banco de Alimentos. Foto: Luciana C. Quintão |
Centro de distribuição. Foto: ONG Banco de Alimentos |
Ação promovida pela ONG Banco de Alimento. Foto: Luciana C. Quintão |
As commodities, de fato, estão mais presentes em nossas vidas do que imaginamos. A produção afeta os mais diversos níveis da economia e impactam a realidade de muitas pessoas diariamente. Essenciais para a alimentação, elas têm se tornado cada vez mais consumidas. O Brasil, como celeiro, deve produzir e alimentar sua população, para que todos exerçam o direito de se alimentar bem, distantes das incertezas.